300 mil mortos: a despedida possivel

Published: March 25, 2021, 4:42 a.m.

b'No momento em que o Brasil cruza essa marca terr\\xedvel, familiares de v\\xedtimas da Covid-19 compartilham com O Assunto as mensagens de celular que se revelaram o derradeiro meio de contato com m\\xe3es, pais e filhos isolados nas UTIs. Declara\\xe7\\xf5es de amor, palavras de encorajamento, di\\xe1logos sobre cenas do cotidiano, como tirar a roupa do varal e pedir pizza: tudo registrado na tela e agora convertido em \\xfaltima lembran\\xe7a. Na outra ponta dessa correspond\\xeancia estavam doentes como os que o m\\xe9dico intensivista Daniel Neves Forte acompanha h\\xe1 um ano no Hospital S\\xedrio Liban\\xeas, onde gerencia o setor de Humaniza\\xe7\\xe3o. "\\xc9 um rolo compressor. A gente est\\xe1 vivendo uma trag\\xe9dia\\u201d, resume na entrevista a Renata Lo Prete. \\u201cCom uma carga de trabalho brutal, \\xe9 f\\xe1cil desumanizar: numerar os pacientes e s\\xf3 cuidar do corpo que est\\xe1 ali. Desumanizar para manter o paciente vivo, isso \\xe9 muito desgastante. E se desconecta do prop\\xf3sito da profiss\\xe3o\\u201d, reflete. Forte acredita que a dificuldade de elaborar o luto nessas condi\\xe7\\xf5es n\\xe3o \\xe9 apenas individual, mas tamb\\xe9m do pa\\xeds, principalmente em raz\\xe3o do comportamento do governo federal desde o in\\xedcio da pandemia. Sem reconhecer toda a extens\\xe3o do que nos aconteceu n\\xe3o \\xe9 poss\\xedvel ter, nas palavras do m\\xe9dico, a \\u201cesperan\\xe7a da reconstru\\xe7\\xe3o\\u201d.'