Teresa Cristina: Eu me reencontrei

Published: Oct. 16, 2020, 11 p.m.

b'A cantora e sambista viu o alcance de sua voz se multiplicar na quarentena e conta como continua enfrentando o racismo que tanto a silenciou\\n \\n Quando subiu no palco pela primeira vez, Teresa Cristina sentiu muita vergonha. \\u201cAchava que em algum momento algue\\u0301m ia chegar e falar: \\u2018sai dai\\u0301, voce\\u0302 na\\u0303o pertence a esse lugar\\u2019, conta. \\u201cO racismo foi me colocando num lugar de sile\\u0302ncio. Eu demorei muito a perceber isso\\u201d. Ela experimentou a mesma sensac\\u0327a\\u0303o quando ligou a ca\\u0302mera para fazer uma live no Instagram em meados de mar\\xe7o, mas outra vez na\\u0303o desistiu. Sem muitas pretens\\xf5es, cantando e contando histo\\u0301rias na madrugada, Teresa Cristina viu seus fa\\u0303s e seu sucesso se multiplicarem.\\n[VIDEO=https://www.youtube.com/embed/oRTe_31oKmY; CREDITS=; LEGEND=; IMAGE=https://img.youtube.com/vi/oRTe_31oKmY/sddefault.jpg]\\nApelidada de rainha das lives, a sambista j\\xe1 soma mais de 600 horas de transmiss\\xe3o desde o in\\xedcio da quarentena. Ao longo das horas que fica on-line todas as noites de sua casa, no Rio de Janeiro, ela divide a tela com convidados como Xuxa, Lula, Alcione, Caetano Veloso, Gal Costa e Chico Buarque.\\xa0Aos 52 anos, com mais de duas d\\xe9cadas de carreira\\xa0e uma dezena de discos gravados, entre eles tributos aos sambistas Cartola e Noel Rosa, Teresa nunca havia conquistado tamanho alcance e reconhecimento \\u2013 seu primeiro patroc\\xednio foi em uma das lives que transmitiu nos \\xfaltimos meses. O que isso vai trazer no futuro, ela ainda n\\xe3o sabe. "Espero que, com o fim da pandemia, eu consiga realmente abrir os meus caminhos, aumentar o meu p\\xfablico", diz. "Por enquanto o aumento foi do n\\xfamero de pessoas que me seguem". Recentemente, a exposic\\u0327a\\u0303o a colocou no alvo de grupos de o\\u0301dio na internet, que fizeram com que a carioca anunciasse uma pausa em suas lives depois de sucessivos ataques a\\u0300 sua conta. Mas ningu\\xe9m pode parar Teresa Cristina.\\nA seguir, a cantora conversa com a Trip sobre sucesso, m\\xfasica, racismo e pandemia.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/10/5f89f4fc9a354/trip-fm-teresa-cristina-retrato-andre-pokan.jpg; CREDITS=Andr\\xe9 Pokan/Divulga\\xe7\\xe3o; LEGEND=]\\nTrip. Voc\\xea vive na mesma casa que a sua m\\xe3e, Dona Hilda. O que ela est\\xe1 achando dessa atividade intensa que voc\\xea est\\xe1 tendo com as lives, com sua casa virando palco noite ap\\xf3s noite?\\nTeresa Cristina. Eu comecei as lives pensando nela. Eu estava muito preocupada com sua sa\\xfade mental porque eu observava ela assistindo ao notici\\xe1rio e ficando muito abalada, triste e calada. Fiquei preocupada mesmo, sabe? A\\xed eu falei: vou inventar alguma coisa para distrair minha m\\xe3e. Ent\\xe3o a gente come\\xe7ou a fazer uma live no YouTube chamada "Jovens Lives de Domingo" para ela cantar as m\\xfasicas que gosta, repert\\xf3rio da Jovem Guarda, Dalva de Oliveira, \\xc2ngela Maria, Nelson Gol\\xe7alves. E a\\xed ela come\\xe7ou a se animar, a separar m\\xfasicas, a cantar comigo aos domingos. Infelizmente o Brasil \\xe9 um dos piores lugares para se estar durante essa pandemia. Temos um presidente completamente inconsequente, com atitudes que v\\xe3o contra a orienta\\xe7\\xe3o da OMS. As mortes foram crescendo e eu fiquei muito preocupada com o que ia acontecer com a minha fam\\xedlia, e a\\xed eu comecei a fazer live tamb\\xe9m. Quando eu vi eu estava fazendo live todo dia. Para fazer a live eu preciso fazer uma pesquisa, me programar, e isso toma um certo tempo que me faz muito bem. \\xc9 muito melhor, em vez de ler as atitudes criminosas do ministro do Meio Ambiente ou o que foi que o Bolsonaro fez para encobrir os crimes do filho dele, eu ficar aprendendo sobre a obra do Gilberto Gil, do Caetano Veloso, do Chico Buarque, do Cazuza, do Lulu Santos. Fa\\xe7o pesquisa sobre a negritude, sobre ancestralidade e esse tempo que eu gasto \\xe9 um tempo que eu estou deixando de ficar triste, de ficar preocupada, de pensar em coisas que n\\xe3o me fazem bem. De algumas not\\xedcias eu n\\xe3o consigo escapar, mas a live pra mim tem sido um alento \\u2013 e que bom que para muitas pessoas tamb\\xe9m. Um lugar de acolhimento, em que a gente se diverte e fala de coisas belas, da produ\\xe7\\xe3o cultural do pa\\xeds que n\\xe3o para. Valorizar o trabalho desses artistas que j\\xe1 fizeram muito pelo Brasil, isso que tem ocupado o meu tempo.\\nLEIA TAMB\\xc9M:\\xa0Faf\\xe1 de Bel\\xe9m: onde tem holofote eu estou dan\\xe7ando\\nVoc\\xea acabou construindo uma plataforma de celebra\\xe7\\xe3o num momento t\\xe3o do\\xeddo, t\\xe3o bagun\\xe7ado. Nesse per\\xedodo rolou uma empolga\\xe7\\xe3o geral com a coisa da live, mas a impress\\xe3o \\xe9 que ao longo do tempo o pessoal come\\xe7ou a ver que dava trabalho e que n\\xe3o \\xe9 t\\xe3o f\\xe1cil assim. Mas voc\\xea de certa forma descobriu um outro talento, uma outra habilidade, que \\xe9 a de conversar, de criar um clima, de comunicar. Como \\xe9 esse aspecto profissional, de descobrir a capacidade de ser uma comunicadora nesse n\\xedvel, diferente de subir no palco e cantar? Eu acho que eu me reencontrei, de certa forma, porque desde a minha inf\\xe2ncia j\\xe1 tinha o \\xedmpeto de ir \\xe0 frente da turma e cantar, imitar a Faf\\xe1 de Bel\\xe9m. Mas eu sempre sofri muito racismo no col\\xe9gio e essas inj\\xfarias raciais foram aos poucos modificando o meu jeito, eu fui me tornando uma pessoa t\\xedmida, retra\\xedda, introspectiva. E eu n\\xe3o era assim crian\\xe7a. Sempre fui bem comunicativa, gostava de fazer gra\\xe7a, de contar piada. O racismo foi me colocando num lugar de sil\\xeancio. Eu demorei muito a perceber isso. H\\xe1 pouco tempo que eu tive esse entendimento, que caiu a ficha de que essa timidez que eu me forcei n\\xe3o estava sendo eu, eu n\\xe3o estava feliz com isso. Quando eu subi no palco pela primeira vez eu tinha muita vergonha de mim, achava que em algum momento algu\\xe9m ia chegar e falar: "Sai da\\xed, voc\\xea n\\xe3o pertence a esse lugar". E a live tem uma coisa interessante porque eu me vejo o tempo todo, o que aparece na tela do meu celular sou eu falando comigo mesma. E de uma certa forma eu fui jogando o meu conte\\xfado cultural, o que eu ou\\xe7o desde que comecei a ouvir m\\xfasica. Fui tentando criar uma comunica\\xe7\\xe3o com as pessoas, tentando passar para elas o que eu aprendi, as m\\xfasicas que eu sei cantar, as que me emocionam. Tem m\\xfasicas que eu nem sei cantar direito, mas eu gosto de lembrar, de falar do artista. \\xc0s vezes a pr\\xf3pria can\\xe7\\xe3o tem alguma hist\\xf3ria por tr\\xe1s, ou alguma liga\\xe7\\xe3o comigo, uma passagem da minha vida em que aquela can\\xe7\\xe3o foi importante. Tudo isso vira material, e as pessoas tamb\\xe9m v\\xe3o trocando informa\\xe7\\xe3o, sempre v\\xe3o aparecendo assuntos. Eu tenho conhecido e encontrado muita gente talentosa no Brasil inteiro. Muitas mulheres talentosas, compositoras e pessoas que n\\xe3o t\\xeam espa\\xe7o na m\\xeddia, mas que t\\xeam j\\xe1 um trabalho de 10, 20 anos de carreira e que est\\xe3o a\\xed invis\\xedveis e precisam de um lugar para mostrar o seu trabalho ou de algu\\xe9m que os ou\\xe7a para ter algum ju\\xedzo de valor sobre o que est\\xe3o fazendo. Tudo isso eu fui aprendendo com a live. Eu n\\xe3o tinha um modelo estabelecido, fui fazendo e aprendendo. E uma coisa que eu descobri \\xe9 que isso tem muito a ver comigo. Quando eu comecei a cantar na Lapa eu n\\xe3o era cantora, eu estava pesquisando a obra do Candeia e de repente me veio esse convite para cantar no Bar Semente. E eu fui meio que aprendendo ao vivo. Ent\\xe3o a impress\\xe3o que eu tenho \\xe9 que j\\xe1 \\xe9 a segunda vez que eu fa\\xe7o isso na minha vida. Eu chego no lugar que eu n\\xe3o sei se eu perten\\xe7o, n\\xe3o sei se eu sei fazer e posso n\\xe3o ter tanto talento, mas acho que tenho a coragem de encarar m\\xfasicas que s\\xe3o importantes para mim, que talvez eu n\\xe3o saiba cant\\xe1-las da maneira correta, com todas as melodias no lugar, mas s\\xf3 de falar da can\\xe7\\xe3o eu acho que vale a pena.\\nLEIA TAMB\\xc9M:Meu nome \\xe9 \\xe9bano: a vida e a obra de Luiz Melodia\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/10/5f89f4fc98f30/trip-fm-teresa-cristina-foto-andre-pokan.jpg; CREDITS=Andr\\xe9 Pokan/Divulga\\xe7\\xe3o; LEGEND=]\\nVoc\\xea j\\xe1 est\\xe1 com 20 anos de carreira e foi patrocinada pela primeira vez s\\xf3 agora, por uma marca de cerveja. Por que depois de tantos anos abrindo shows do Caetano, turn\\xeas internacionais, voc\\xea n\\xe3o estava inserida de forma mais pesada nessa zona de mercado? S\\xe3o muitas cantoras negras que tamb\\xe9m n\\xe3o t\\xeam espa\\xe7o ou patroc\\xednio, isso \\xe9 uma coisa recorrente no Brasil. Estou acompanhando no meu Instagram pessoas negras que est\\xe3o colocando fotos de pessoas brancas em seus perfis e, quando elas fazem isso, o perfil delas tem mais acesso, mais pessoas curtindo, mais coment\\xe1rios, o perfil fica mais movimentado do que com a cara preta delas. As pessoas est\\xe3o fazendo esse teste. Isso n\\xe3o \\xe9 novidade, o racismo no Brasil n\\xe3o \\xe9 discutido. A gente hoje tem o entendimento de que, al\\xe9m de n\\xe3o ser racista, precisamos ser antirracistas, combater esse veneno social que existe desde que o Brasil \\xe9 Brasil. Desde que foi abolida a escravatura e as pessoas foram colocadas na rua sem nada, sem nenhum tipo de assist\\xeancia, desde que voc\\xea v\\xea pessoas criticando a pol\\xedtica de cotas, porque a corrida da vida \\xe9 desigual, muito desigual.\\nMe lembrei de duas figuras muito importantes na m\\xfasica brasileira: o Tim Maia e o Simonal, para lembrar de dois artistas negros que tiveram um \\xeaxito muito grande. Voc\\xea acha que o preconceito racial piorou no Brasil dos anos 60 e 70, quando esses artistas conseguiram chegar no topo da carreira e fazer muito dinheiro, para c\\xe1? Eu n\\xe3o sei se piorou. Acho que talvez a gente passe a ter uma no\\xe7\\xe3o de que o racismo aumentou, mas ser\\xe1 que ele aumentou ou ele s\\xf3 est\\xe1 sendo filmado, documentado? Porque nessa \\xe9poca do Tim Maia e do Wilson Simonal esse pensamento racista j\\xe1 existia, talvez at\\xe9 com muito mais for\\xe7a, mas n\\xe3o era documentado, n\\xe3o era denunciado, n\\xe3o era nem crime. Hoje eu vejo gente reclamando que n\\xe3o pode mais fazer piada com preto, como se fosse uma coisa muito agrad\\xe1vel para quem \\xe9 negro ouvir esse tipo de piada. E as pessoas usam isso como exemplo de que o mundo encaretou. O mundo est\\xe1 careta, reacion\\xe1rio e conservador n\\xe3o porque voc\\xea deixou de fazer piada com gente preta, \\xe9 por outros motivos que a gente est\\xe1 vendo a\\xed. E eu percebo tamb\\xe9m que uma pessoa negra, quando faz muito sucesso, se por acaso ela comete algum tipo de deslize, a sociedade tem a mem\\xf3ria mais forte para lembrar e cobrar aquele erro. Quando \\xe9 o caso de uma pessoa branca, ela faz um v\\xeddeo pedindo desculpas e foi, \\xe9 aceito. E como \\xe9 uma coisa que a gente n\\xe3o discute, fica assim, meio dado \\xe0 interpreta\\xe7\\xe3o. A gente tem uma lei que diz que o racismo \\xe9 crime, mas ao mesmo tempo a pr\\xf3pria sociedade racista coloca o racismo numa conversa de interpreta\\xe7\\xe3o, "n\\xe3o foi bem assim, voc\\xea entendeu errado". Isso irrita muito, magoa muito. Isso mata muita gente.\\nLEIA TAMB\\xc9M:\\xa0Pathy Dejesus: a mulher negra n\\xe3o pode errar\\nNo come\\xe7o de maio voc\\xea deu uma entrevista para n\\xf3s e falou que o seu sonho era ver o Chico Buarque entrar na sua live. E voc\\xea cravou: "Acho que se ele entra eu morro do cora\\xe7\\xe3o". Um tempo depois ele fez uma participa\\xe7\\xe3o na sua live. Como foi? Eu vou dizer que eu s\\xf3 n\\xe3o morri do cora\\xe7\\xe3o porque j\\xe1 sabia que ele ia entrar. Era anivers\\xe1rio de 81 anos do Ant\\xf4nio Pitanga, que \\xe9 um grande artista, uma pessoa muito importante para o Brasil. Eu sou amiga dele e da Camila, sua filha, e a\\xed eu falei para ela: "Seu pai vai fazer anivers\\xe1rio no meio da pandemia e est\\xe1 a\\xed l\\xfacido, produzindo, sendo premiado, fazendo coisas. Vou fazer uma festa de anivers\\xe1rio para ele na minha live e convidar seus amigos para participarem e darem os parab\\xe9ns". Os amigos eram: Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Chico Buarque, Elisa Lucinda. Ent\\xe3o acabei criando coragem e liguei para a companheira do Chico, a Carol Proner. Ela me colocou em contato com ele e eu o convidei para estar ali para dar os parab\\xe9ns. O Chico \\xe9 um dos artistas que eu conhe\\xe7o desde muito nova, seis, sete anos de idade. Aquele \\xe1lbum dele, Constru\\xe7\\xe3o, eu ouvia inteiro, e \\xe9 uma pessoa que eu tenho uma admira\\xe7\\xe3o sem tamanho, um brasileiro muito importante. Eu acho que voc\\xeas me deram sorte.\\nLEIA TAMB\\xc9M: Teresa Cristina prova que existe vida inteligente na madrugada\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/10/5f89f4fc9f5f4/trip-fm-teresa-cristina-theatro-net-rio.jpg; CREDITS=Marcos Hermes/Divulga\\xe7\\xe3o; LEGEND=]\\nEm 2018 a gente fez uma mat\\xe9ria sobre a as dificuldades das mulheres no samba. Elas afirmavam que n\\xe3o tinham espa\\xe7o para tocar nas rodas de samba, que era um neg\\xf3cio bem fechado para elas. \\xc9 assim ainda? Para as mulheres instrumentistas sim. S\\xf3 tem um pequeno detalhe: o samba \\xe9 machista como o Brasil \\xe9, mas o samba n\\xe3o \\xe9 hip\\xf3crita, o machismo do samba a gente v\\xea, e por ver, por enxergar a gente consegue lutar contra. \\xc9 muito pior quando a gente luta por uma coisa que as pessoas querem tornar invis\\xedvel, como o racismo por exemplo. Ent\\xe3o eu acho que o machismo do samba existe porque o samba \\xe9 um reflexo da nossa realidade. E \\xe9 bom que seja exibido assim, sabe, real? Porque a gente tem como combater. Seria pior se as mulheres continuassem invis\\xedveis, porque a mulher dentro no samba foi apagada durante muitos anos. A gente tem um ritmo que foi trazido por uma mulher, a Tia Ciata, que veio de Santo Amaro at\\xe9 o Rio de Janeiro trazendo o samba. Ela improvisava, tocava pandeiro, tocava prato, ela cantava, e a gente n\\xe3o sabe quase nada da Tia Ciata. A gente sabe do Pixinguinha, do Donga, do Jo\\xe3o da Baiana e de todos que vieram depois deles. A gente tem a Dona Ivone Lara que foi a primeira mulher a fazer um samba enredo. Ser\\xe1 que a Dona Ivone Lara n\\xe3o influenciou outras mulheres a compor samba enredo? Existe um espa\\xe7o de tempo muito grande sem a mulher estar ali, depois da Dona Ivone Lara, eu fui a primeira mulher a ganhar um Estandarte de Ouro de samba enredo. O primeiro oficial, pois eu considero que fui a segunda, j\\xe1 que na \\xe9poca da Dona Ivone n\\xe3o existia o Estandarte de Ouro. E agora a gente j\\xe1 tem a Manu da Cu\\xedca compondo samba na Mangueira, tem a Milena Vaine na Mocidade que tamb\\xe9m est\\xe1 compondo samba. Antes da pandemia eu estava com um show chamado Sorriso Negro, s\\xf3 com instrumentistas mulheres. \\xc0s vezes quando saiamos para as rodas a gente via a atitude dos caras tentando ensinar a tocar, ou fazendo cara feia. Mas eles fazem cara feia de l\\xe1 eu fa\\xe7o de c\\xe1 e tudo certo.\\nLEIA TAMB\\xc9M:A crise das companhias de teatro e dan\\xe7a na pandemia\\nVoc\\xea j\\xe1 tinha uma carreira importante na m\\xfasica, mas as lives te deram uma nova exposi\\xe7\\xe3o, todo mundo come\\xe7ou a falar de voc\\xea. A gente sabe que esse per\\xedodo da pandemia abalou financeiramente muita gente. No seu caso, esse sucesso veio com um impacto financeiro? Eu tive um aumento do n\\xfamero de seguidores, tinha 98 mil seguidores e hoje em dia tenho 350 mil. Isso mudou, o meu alcance. Eu tive patroc\\xednio para fazer duas lives, n\\xe3o \\xe9 um patroc\\xednio da minha carreira. E eu tenho recebido algumas propostas de publicidade. Espero que, com o fim da pandemia, eu consiga realmente abrir os meus caminhos, aumentar o meu p\\xfablico. Por enquanto o aumento foi do n\\xfamero de pessoas que me seguem. Mas me preocupa muito os pequenos trabalhadores porque, quando uma roda de samba para, o primeiro que deixou de receber dinheiro \\xe9 o m\\xfasico, mas o ambulante que trabalha em volta vendendo bebida deixou de receber dinheiro, o t\\xe9cnico de som, o iluminador. Essas pessoas s\\xe3o invis\\xedveis, mas s\\xe3o as que ajudam os neg\\xf3cios a acontecerem. O meu roadie, que trabalha comigo em show, ficou sem receber esse tempo todo. Eu fiz duas lives e pedi uma contribui\\xe7\\xe3o financeira, a\\xed as pessoas depositaram e eu consegui um dinheiro para essas pessoas, para as mulheres que tocam comigo, para a minha equipe, produtor, roadie, t\\xe9cnico de som. Mas isso \\xe9 o meu lugar, eu n\\xe3o sei como \\xe9 para essa galera que vive de gig, principalmente essas mulheres que acabaram de entrar nesse mercado de trabalho, que tocam surdo, viol\\xe3o, participavam de v\\xe1rias rodas, e deixaram de trabalhar. Como \\xe9 que se coloca comida dentro de casa? A situa\\xe7\\xe3o \\xe9 muito dif\\xedcil e geralmente quem mais precisa n\\xe3o pede. Quem precisa mais est\\xe1 em sil\\xeancio, tentando resolver o problema dele de outros jeitos.'