Sobre a cegueira
b'Maria Carvalhosa perdeu a visão aos 13 anos. Aos 21, ela fala sobre a cegueira da sociedade\\n \\n V\\xedtima de um erro m\\xe9dico, Maria Carvalhosa tinha 13 anos quando perdeu quase toda a vis\\xe3o. Sem o apoio da escola, que se mostrou despreparada para lidar com a mudan\\xe7a, a adapta\\xe7\\xe3o n\\xe3o foi f\\xe1cil. Mas, com o tempo, ela aprendeu a lidar com o desafio mais complexo deste processo: \\u201cSer cega \\xe9 uma experi\\xeancia \\xfanica. O que me enche o saco \\xe9 o jeito como me tratam\\u201d. Maria vem se transformando em uma voz importante na luta pelos direitos das pessoas com defici\\xeancia e hoje, aos 21 anos, assume o papel de curadora e editora na rec\\xe9m-inaugurada Supers\\xf4nica. A iniciativa \\xe9 respons\\xe1vel pela produ\\xe7\\xe3o de audiolivros narrados por atores como Isabel Teixeira e Caio Blat.\\nEm entrevista ao Trip FM, Maria compartilha sua jornada, fala sobre a perda do pai, o artista pl\\xe1stico Carlos Carvalhosa, e os desafios para conseguir o apoio de um c\\xe3o-guia.\\xa0O programa fica dispon\\xedvel no play aqui em cima e no Spotify.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2023/08/64d6a46e159e5/tripfm-maria-carvalhosa-mh.jpg; CREDITS=Jorge Bispo; LEGEND=Maria Carvalhosa; ALT_TEXT=Maria Carvalhosa usando uma blusa preta segura no colo seu cachorro preto]\\nTrip FM. Quanta tristeza perder a vis\\xe3o aos 13 anos lhe causou?\\nMaria Carvalhosa. Com a minha cegueira, eu passei a enxergar melhor a dor do outro. Mas esse foi um movimento unilateral porque, ao mesmo tempo, o mundo passou a me ver como extraterrestre. As pessoas n\\xe3o t\\xeam instrumentos para lidar com algu\\xe9m com defici\\xeancia. Elas ficam perturbadas e \\xe9 muito dif\\xedcil voc\\xea sentir que incomoda. O jeito como me tratam n\\xe3o faz sentido nenhum. N\\xe3o h\\xe1 par\\xe2metro de razoabilidade para lidar com isso. Me chacoalhou muito. Saber que voc\\xea perturba significa sempre ter que mostrar que voc\\xea n\\xe3o \\xe9 o que a outra pessoa acha.\\nVoc\\xea tem alguma raiva do m\\xe9dico que causou a sua cegueira?\\xa0Quando voc\\xea \\xe9 crian\\xe7a, confia muito nos m\\xe9dicos e em qualquer figura de autoridade. Foi muito confuso entender que as pessoas em quem eu estava depositando a minha sa\\xfade, o meu corpo, estavam fazendo a coisa errada e ainda n\\xe3o admitindo que n\\xe3o estavam encontrando o caminho. Eu poderia ter morrido. Fomos presos na loucura da medicina carioca. Ainda tenho muita raiva, pois sei que pode acontecer com outros. \\xc9 muito f\\xe1cil para um m\\xe9dico sentir que \\xe9 Deus.\\nO que precisa mudar para o mundo receber melhor a pessoa com defici\\xeancia?\\xa0O que pode ser revolucion\\xe1rio no mundo da pessoa com defici\\xeancia \\xe9 parar de ser vista como falta. Ser cega \\xe9 uma experi\\xeancia \\xfanica. O que me enche o saco \\xe9 o jeito como me tratam. Nas escolas, em primeiro lugar, voc\\xea precisa fornecer material para os alunos com defici\\xeancia se conhecerem e se empoderarem. Inclus\\xe3o n\\xe3o significa deixar a gente igual. Eu n\\xe3o sou igual, sou diferente, e essa diferen\\xe7a precisa ser tema. Precisa haver uma mudan\\xe7a na ordem de como a defici\\xeancia \\xe9 colocada.\\nO mundo hoje d\\xe1 uma import\\xe2ncia descabida para a apar\\xeancia, com todas as harmoniza\\xe7\\xf5es e procedimentos poss\\xedveis. Para voc\\xea, ap\\xf3s perder a vis\\xe3o, como ficou essa quest\\xe3o?\\xa0A apar\\xeancia ainda \\xe9 muito importante para mim \\u2014 n\\xe3o nesse lugar da perfei\\xe7\\xe3o porque eu n\\xe3o sei como \\xe9 minha cara. Eu sempre me importei com a constru\\xe7\\xe3o da minha apar\\xeancia, pois eu n\\xe3o estou me vendo, mas outras pessoas est\\xe3o. E ser cega faz parte da minha apar\\xeancia. Hoje eu quero que d\\xea para ver que eu n\\xe3o estou seguindo um par\\xe2metro totalmente feminino, perfeito e imaculado. Eu n\\xe3o sou assim. \\xc9 doido porque muitas vezes as pessoas acham que os cegos n\\xe3o se preocupam com isso. Eu sou bem vaidosa, mas de outra forma.'