Rodrigo Amarante: Viver de musica virou coisa de rico

Published: Aug. 6, 2021, 11 p.m.

b'O ex-Los Hermanos, que acaba de lançar seu segundo disco solo, fala sobre arte, dinheiro e a vida perto da praia e do mar\\n \\n Muito tem se falado da demora para o lan\\xe7amento do segundo disco solo do ex-Los Hermanos Rodrigo Amarante, mas a verdade \\xe9 que o hiato de oito anos entre o \\xe1lbum Cavalo e seu novo trabalho,\\xa0Drama, lan\\xe7ado em julho, esteve recheado de servi\\xe7o. No per\\xedodo, Amarante lan\\xe7ou Tuyo, faixa tema da s\\xe9rie Narcos e um grande marco na carreira do multi-instrumentista. Ap\\xf3s a can\\xe7\\xe3o, veio o reconhecimento internacional e toda uma nova s\\xe9rie de turn\\xeas que tornaram o m\\xfasico, morador de Los Angeles desde 2008, reconhecido em diversas partes do mundo. "Sou mais tocado em Paris do que no Rio de Janeiro", diz.\\n[VIDEO=https://www.youtube.com/embed/go6i0788s4E; CREDITS=; LEGEND=; IMAGE=https://img.youtube.com/vi/go6i0788s4E/sddefault.jpg]\\nCom faixas em ingl\\xeas e portugu\\xeas, Drama mostra que Amarante j\\xe1 n\\xe3o se intimida com a l\\xedngua, um grande entrave quando se mudou para os Estados Unidos. "\\xc9 uma experi\\xeancia dolorosa, mas muito v\\xe1lida; voc\\xea se entende marginal. Para o meu trabalho foi um presente, pude colocar minha m\\xfasica \\xe0 prova: tocar para uma plateia sem risco n\\xe3o tem barato."\\nQuando bateu um papo com o\\xa0Trip FM, o compositor estava em sua casa, de onde faz boa parte de suas grava\\xe7\\xf5es. \\xc9 de l\\xe1 tamb\\xe9m que o carioca sai sempre que pode para surfar, um h\\xe1bito que traz de crian\\xe7a e que parece o deixar ainda mais \\xe0 vontade dentro do estilo de vida californiano: "Minha fam\\xedlia tinha um bloco de Carnaval em Saquarema, \\xedamos para l\\xe1 sempre, passar o tempo inteiro na \\xe1gua. Praia e mar sempre foi um lance, desde que eu nasci". Rodrigo Amarante ainda d\\xe1 dicas de m\\xfasica e lugares para comer e pegar onda em Los Angeles e no Rio de Janeiro, fala sobre dinheiro, a amizade com Wagner Moura e mais. Ou\\xe7a o programa no Spotify, no play nesta reportagem ou leia um trecho da entrevista a seguir.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2021/08/610d581c07944/rodrigo-amarante-artista-musico-los-hermanos-trip-mh.jpg; CREDITS=Eliot Lee Hazel / Divulga\\xe7\\xe3o; LEGEND=Rodrigo Amarante; ALT_TEXT=Rodrigo Amarante sentado visto de cima foto preto e branca]\\nTrip. Eu tenho a maior inveja de quem passa um per\\xedodo fora do Brasil, independente de onde seja. \\xc9 uma oportunidade de ver o pa\\xeds de outra perspectiva. Como \\xe9 morar nos Estados Unidos sendo m\\xfasico? Fazer arte em Los Angeles deve ser uma briga de foice por cada mil\\xedmetro\\xa0\\nRodrigo Amarante. Em determinado momento virou uma escolha, mas em princ\\xedpio foi circunstancial. Eu vim para gravar com o Devendra Banhart. Nesse meio tempo, me ligou o Fabr\\xedcio Moretti, baterista do Strokes, para compor e o que era para ser uma m\\xfasica, virou um disco, com turn\\xea, imprensa, enfim, me apaixonei e fui ficando. Voc\\xea ir para um lugar onde voc\\xea n\\xe3o fala a l\\xedngua muito bem \\xe9 uma experi\\xeancia dolorosa, mas muito v\\xe1lida; voc\\xea se entende marginal. Existe uma riqueza espiritual de passar por isso. Para o meu trabalho foi um presente, pude colocar minha m\\xfasica \\xe0 prova: tocar para uma plateia sem risco n\\xe3o tem barato. Existia o risco de escrever can\\xe7\\xf5es em ingl\\xeas tamb\\xe9m, de cantar em portugu\\xeas para os americanos, e ver se cola, se emociona.\\nO que aconteceu com o Los Hermanos na d\\xe9cada de 2000, e que a gente v\\xea hoje olhando para tr\\xe1s, foi uma ascens\\xe3o muito r\\xe1pida. Isso tem um pre\\xe7o. Teve um pouco de fugir disso quando voc\\xea se mudou?\\xa0Eu n\\xe3o tive uma iniciativa de sair do Brasil por estar cansado de ser famoso. Isso nunca me incomodou. Mas algo cansativo, eu me lembro, foi que ficou cada vez mais dif\\xedcil conhecer algu\\xe9m que n\\xe3o tinha uma no\\xe7\\xe3o preconcebida de mim. A sensa\\xe7\\xe3o era de que alguma coisa me foi roubada, eu n\\xe3o tinha a oportunidade de me apresentar do zero. Mas olhar para isso \\xe9 ver a parte vazia do copo. Eu tive grande sorte e privil\\xe9gio de escrever m\\xfasica para o Los Hermanos; pude ajudar a minha fam\\xedlia. Mas acho v\\xe1lido tamb\\xe9m abrir o meu cora\\xe7\\xe3o e expor esse outro lado. No Brasil, como o Tom Jobim falou, sucesso \\xe9 ofensa pessoal. Tinha isso tamb\\xe9m. As pessoas acham que \\xe9 preciso bater, de forma figurativa, porque eu tenho o aplauso. Era uma pena, uma bobagem. Mas eu tive sorte que todos da banda tinham cabe\\xe7a boa. Ningu\\xe9m se achava melhor do que ningu\\xe9m e todos souberam navegar esses altos e baixos.\\xa0\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2021/08/610d585b7ae3d/rodrigo-amarante-artista-musico-los-hermanos-trip-mq.jpg; CREDITS=Caroline Bittencourt; LEGEND=Rodrigo Amarante na capa da revista TRIP #173 (2008); ALT_TEXT=Rodrigo Amarante na capa da revista]\\nPouca gente sabe, mas voc\\xea \\xe9 apaixonado pelo surfe. O que isso significa para voc\\xea e desde quando voc\\xea surfa?\\xa0Minha fam\\xedlia tinha um bloco de Carnaval em Saquarema, \\xedamos para l\\xe1 sempre, passar o tempo inteiro na \\xe1gua. Praia e mar sempre foi um lance, desde que eu nasci. Quando eu morava no Postino, na Barra da Tijuca, do lado da minha casa tinha um lugar onde se fazia prancha de surfe. Um dia eu fui, bati na porta, e perguntei se podia ver o que eles estavam fazendo. Virei mascote. No meu anivers\\xe1rio, me fizeram uma pranchinha miniatura, do meu tamanho. Comecei a pegar onda e virou um neg\\xf3cio assim: acordava todos os dias de madrugada para pegar onda, surfava duas vezes por dia, tive um treinador, participei de campeonato. O surfe me acompanha at\\xe9 hoje. A minha paix\\xe3o pelos Smiths, por exemplo, tem a ver com surfe tamb\\xe9m.\\nEm 2008, voc\\xea contou em uma entrevista da Trip que tinha gastado todo o dinheiro que havia ganhado com o Los Hermanos. Como est\\xe1 esse lado hoje?\\xa0Eu n\\xe3o me arrependo, porque comecei a ganhar dinheiro com vinte e poucos anos. Era uma grana boa, mas se voc\\xea tem uma fam\\xedlia que precisa de ajuda, voc\\xea n\\xe3o vai ajudar? Eu n\\xe3o me arrependo, est\\xe1 tudo certo. Mas ao longo dos anos a minha m\\xfasica ganhou uma express\\xe3o mundial. \\xc9 uma coisa louca, mas tem mais gente hoje que ouve a minha m\\xfasica em Paris do que no Rio de Janeiro, por exemplo. Isso ampliou as possibilidades. Vendo disco no mundo inteiro: aconteceu o que eu tinha esperan\\xe7a de acontecer, que \\xe9 estabilizar uma carreira que me sustente. Nesse nosso tempo, o streaming vem elitizando ainda mais o meio em que eu trabalho: se n\\xe3o tem show p\\xf3s-pandemia e n\\xe3o tem venda de disco, quem vive de m\\xfasica vai precisar arrumar outra coisa para ganhar dinheiro. S\\xf3 vive de m\\xfasica quem n\\xe3o precisa viver de m\\xfasica, virou uma coisa de rico. Eu acho importante falar sobre isso porque tem gente que tem um trabalho lindo e ainda n\\xe3o consegue viver da arte. Eu quero expor esse lado para que essas pessoas n\\xe3o fiquem pensando que n\\xe3o s\\xe3o boas o suficiente.'