Paulo Vieira: Eu faco comedia para sobreviver

Published: Aug. 14, 2020, 11 p.m.

b'Um dos nomes mais promissores do humor brasileiro, ele fala sobre racismo, televisão, perspectivas para o futuro e o lado amargo da comédia\\n \\n "Eu n\\xe3o sou comediante. Acho que a com\\xe9dia \\xe9 a maneira mais palat\\xe1vel que eu encontrei de passar pela vida", diz Paulo Vieira. Aos 27 anos, o ator e roteirista \\xe9 um dos nomes mais promissores do humor brasileiro e, desde o ano passado, est\\xe1 na TV Globo, onde apresentou o programa Fora de Hora e um quadro no Fant\\xe1stico. Paulo\\xa0nasceu na cidade de Trindade, no estado de Goi\\xe1s, mas cresceu em Palmas, no Tocantins, onde come\\xe7ou cedo a carreira art\\xedstica, atuando em grupos de teatro locais desde os 12 anos de idade. Em 2010, fundou com mais dois humoristas o primeiro grupo de stand up tocantinense, batizado de \\u201cT\\xf4 na Com\\xe9dia\\u201d.\\nFoi fazendo os outros rirem que Paulo ganhou espa\\xe7o na m\\xeddia e levou para casa os principais pr\\xeamios de humor do pa\\xeds \\u2013 o Pr\\xeamio Multishow de Humor e o Risadaria, e tamb\\xe9m o primeiro lugar no quadro \\u201cQuem chega l\\xe1\\u201d, do programa Doming\\xe3o do Faust\\xe3o. Al\\xe9m do sucesso nos palcos dos clubes de com\\xe9dia, o comediante conquistou o grande p\\xfablico atrav\\xe9s da televis\\xe3o e da internet. Entre 2016 e 2018, fez o quadro "Emergente como a Gente", no Programa do Porchat, na TV Record. Hoje, al\\xe9m de atuar nas principais atra\\xe7\\xf5es de humor da Globo, ele se mant\\xe9m ativo na quarentena levando gra\\xe7a e leveza aos seus 700 mil seguidores no Instagram com o "Di\\xe1rio do Coronga". No Trip Fm desta semana, o humorista conversa com Paulo Lima sobre racismo, televis\\xe3o, perspectivas para o futuro e o lado amargo da com\\xe9dia.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/08/5f3706732696e/paulo-vieira-ator-comediante-trip-fm-mq.jpg; CREDITS=Reprodu\\xe7\\xe3o; LEGEND=Paulo Vieira ]\\nLEIA TAMB\\xc9M: "Eu sou meu pr\\xf3prio Silvio Santos", diz F\\xe1bio Porchat\\nTrip.\\xa0Voc\\xea deve ser a pessoa mais famosa do Tocantins, ou pelo menos da sua cidade, de Trindade. \\xc9 isso mesmo?\\nPaulo Vieira.\\xa0Pior que n\\xe3o sou. Eu nasci em Trindade, mas me considero tocantinense. Eu sou t\\xe3o tocantinense que vim de Goi\\xe1s, como o pr\\xf3prio Estado. Eu na verdade n\\xe3o sou nem a pessoa mais conhecida de Palmas \\u2013 e nem o mais rico. Do Tocantins tamb\\xe9m tem Anavit\\xf3ria, Henrique & Juliano, Felipe Fraga no automobilismo... Das celebridades locais eu sou a mais humilde, nem entro na contagem da Forbes tocantinense. Mas uma coisa \\xe9 verdade: talvez eu seja o que tem o maior f\\xe3-clube no Tocantins porque eu comecei l\\xe1 muito cedo, as pessoas acompanharam. Eu comecei a fazer aula de teatro com cinco anos de idade e aos doze estreei profissionalmente na cena cultural de Palmas. Elas me viram crescer \\u2013 e olha que viram crescer muito, n\\xe9? Ent\\xe3o quando o tocantinense me v\\xea l\\xe1 na Globo, com alcance nacional, tem um ar de "eu sabia".\\nUma das fontes do seu humor \\xe9 zoar com a sua pr\\xf3pria pobreza. Nessa \\xe9poca em que as discuss\\xf5es todas carregam um certo \\xf3dio, voc\\xea fala de um jeito muito emp\\xe1tico, interpreta o sofrimento do outro, seu pr\\xf3prio, e faz gra\\xe7a disso de uma maneira leve. Voc\\xea tem uma origem humilde?\\xa0Eu venho realmente de uma origem humilde, minha fam\\xedlia \\xe9 pobre. Agora que as coisas est\\xe3o come\\xe7ando a mudar pra gente l\\xe1 em casa. Eu costumo sempre falar que essa coisa da classe C, principalmente os assuntos que eu abordo, est\\xe3o muito mais ligados \\xe0 cultura do que \\xe0 quest\\xe3o financeira. \\xc9 como eu digo, ser pobre no Brasil \\xe9 uma quest\\xe3o de lifestyle. Essa coisa de dar um jeito em tudo, de fazer gambiarra, a maneira como a fam\\xedlia se organiza... Ent\\xe3o, por mais dinheiro que eu ganhe na vida, esse lifestyle vai continuar comigo, minha m\\xe3e vai continuar colocando forro em tudo. Eu falo que, pra eu sair da linha da pobreza, eu tenho tanto dente pra arrumar de parente, tanta casa pra rebocar. E eu ainda tenho muito material para explorar da minha pr\\xf3pria fam\\xedlia. Mas respondendo \\xe0 pergunta, eu venho realmente desse lugar. Voc\\xea comentou sobre a dificuldade de falar sobre coisas delicadas nesse tempo que a gente est\\xe1 vivendo e eu realmente n\\xe3o saberia como falar de outra coisa. Eu tenho outros assuntos que me interessam, obviamente, mas fazer este trabalho agora, falar sobre isso, \\xe9 o que me motiva. Porque eu falo sobre a maioria da popula\\xe7\\xe3o. E um papo na primeira pessoa. Quando eu falo sobre a fam\\xedlia pobre, eu n\\xe3o estou falando na terceira pessoa, eu estou falando sobre l\\xe1 em casa. Ent\\xe3o talvez seja isso que aproxime mais as pessoas desse trabalho, porque ela falam: "\\xc9, isso \\xe9 verdade, esse menino realmente sabe do que ele est\\xe1 falando".\\nTem uma outra fonte do seu humor, que nesse momento deve estar reivindicando direitos trabalhistas, que \\xe9 a sua m\\xe3e. Ela n\\xe3o fica brava com isso?\\xa0Nada, ela adora. Na s\\xe9rie, a m\\xe3e realmente toma a cena porque ela \\xe9 o pilar central da casa, como \\xe9 na minha fam\\xedlia tamb\\xe9m. Meu pai um dia desses reclamou que o pai quase n\\xe3o aparecia na s\\xe9rie. Ele estava meio chateado, porque a maioria das coisas que eu conto l\\xe1 aconteceram na nossa fam\\xedlia. Mas \\xe9 porque eu falo sobre o dia a dia familiar e meu pai trabalhava de cinco da manh\\xe3 at\\xe9 \\xe0s dez da noite. Essa rotina, almo\\xe7o do dia a dia, resolver problema na escola, em casa, tudo ficava para minha m\\xe3e. Ent\\xe3o \\xe9 natural que ela seja realmente a estrela da s\\xe9rie.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/08/5f3706bbca731/paulo-vieira-ator-comediante-trip-fm-mq2.jpg; CREDITS=Reprodu\\xe7\\xe3o; LEGEND=Paulo Vieira e Fabio Porchat]\\nLEIA TAMB\\xc9M: Marcelo Adnet fala sobre humor, quarentena e morte\\nParte do repert\\xf3rio do humor \\xe9 tamb\\xe9m zoar um pouco com a televis\\xe3o. Voc\\xea teve muita exposi\\xe7\\xe3o no Programa do Porchat, na Record. E depois voc\\xea foi para a Globo, que, em tese, \\xe9 a melhor TV, a mais equipada, a mais estruturada e de maior abrang\\xeancia. O que a Record tem que a Globo n\\xe3o tem? Primeiro a ben\\xe7\\xe3o, n\\xe9? A Record tem a ben\\xe7\\xe3o. Mas na Record eu me sentia livre. Eu era s\\xf3 o carinha do canto, achavam que eu era assistente de palco, o Helen Ganzarolli gordo do F\\xe1bio. A estrela do programa era o F\\xe1bio e tudo o que viesse de mim era lucro. Ent\\xe3o o p\\xfablico n\\xe3o esperava nada de mim, nem os patrocinadores, a imprensa muito menos. A maneira como eu fiz o quadro "Emergente como a Gente", que depois virou o "Isso \\xe9 Muito Minha Vida"... Eu menti que o roteiro mandou uma cena, falei com o diretor, a gente gravou, eu editei. Eu pegava o meu material, escrevia a minha s\\xe9rie, ia para a ilha de edi\\xe7\\xe3o, era 100% respons\\xe1vel pelo que as pessoas estavam vendo. E foi l\\xe1 que eu me apaixonei por esse lugar na televis\\xe3o, que \\xe9 o que realmente importa para mim. Poder ser respons\\xe1vel n\\xe3o s\\xf3 pela piada ou pelo texto, mas pela maneira como isso vai ser contado. Tudo isso me empolga muito e eu aprendi na Record. Ent\\xe3o essa liberdade me fez ousar. Mas \\xe9 muito mais relacionado a quem eu era naquela \\xe9poca e a falta de expectativa sobre a minha pessoa do que sobre a empresa.\\nH\\xe1 dez anos, o Trip Fm entrevistou o Eduardo Sterblitch, que, entre outros personagens engra\\xe7ados, criou o Freddie Mercury Prateado. Ele falou uma coisa que n\\xe3o \\xe9 exatamente in\\xe9dita, mas bem interessante: quase todo humorista \\xe9 um cara melanc\\xf3lico, triste, cheio de quest\\xf5es. Faz sentido essa generaliza\\xe7\\xe3o?\\xa0Eu n\\xe3o falaria todos porque eu conhe\\xe7o comediantes muito felizes. O F\\xe1bio [Porchat], por exemplo, \\xe9 uma pessoa feliz, solar. Ele acorda animado, tudo est\\xe1 \\xf3timo, n\\xe3o tem tempo ruim. O F\\xe1bio \\xe9 assim e eu conhe\\xe7o v\\xe1rios comediantes que s\\xe3o super felizes. Eu tenho uma implic\\xe2ncia com besteira. Sabe aquela bobajada, que parece que voc\\xea est\\xe1 na reuni\\xe3o da quinta s\\xe9rie, est\\xe1 idiota com seus amigos e voc\\xeas riem de qualquer coisa? Eu n\\xe3o tenho muita paci\\xeancia pra isso. Eu sou do tipo pensativo, eu fa\\xe7o com\\xe9dia para sobreviver. Eu n\\xe3o sou um comediante. Acho que a com\\xe9dia \\xe9 a maneira mais palat\\xe1vel que eu encontrei de passar pela vida. O comediante \\xe9 muito observador e existe uma coisa ruim nisso, que \\xe9 enxergar coisas que muita gente n\\xe3o est\\xe1 vendo. A com\\xe9dia sempre vem de alguma crueldade, ent\\xe3o voc\\xea precisa de um pouco de cinismo para fazer humor. Quando voc\\xea faz a piada, o p\\xfablico ri, mas o comediante fica com o retrogosto daquilo. O amarguinho do final fica com quem fez a piada. Sempre quando eu vejo uma cena, quando eu olho para a vida, imediatamente me v\\xeam duas vis\\xf5es: uma que \\xe9 engra\\xe7ada e a outra que \\xe9 triste. Geralmente eu conto a engra\\xe7ada, mas a triste fica comigo. Ent\\xe3o eu sou uma pessoa reflexiva, penso muito sobre as coisas, sou o cara mais recolhido. Eu acho que a com\\xe9dia \\xe9 um \\xf3culos e o nosso papel \\xe9 dar algum conforto para as pessoas oferecendo esse \\xf3culos. Quando eu falo \\u201colha, minha m\\xe3e faz isso, isso e isso\\u201d, a pessoa se identifica e fala: "Caramba, a minha tamb\\xe9m, nunca tinha reparado". E ela ri. Mas quando voc\\xea tira os \\xf3culos, d\\xe1 uma olhada pra vida, fala: "Cara, \\xe9 um esfor\\xe7o diuturno pra n\\xe3o virar um niilista". Tem um pouco disso.\\nQueria te ouvir um pouco sobre esse momento em que est\\xe1 tendo uma rea\\xe7\\xe3o muito grande no mundo em rela\\xe7\\xe3o ao racismo. Como voc\\xea tem sentido a movimenta\\xe7\\xe3o da sociedade, no sentido de mudar a forma como a gente lida com o racismo? Tem sido efetivo ou ainda \\xe9 muito pouco? Eu detesto ser o pessimista da hist\\xf3ria, mas eu olho com desconfian\\xe7a esse movimento. \\xc9 importante, l\\xf3gico, ele precisa acontecer, mas o que me causa desconfian\\xe7a \\xe9 o objetivo de acabar com o racismo estrutural. Eu temo que ainda seja um meme, sabe? E igualdade racial n\\xe3o se faz com com\\xe9dia, com tela preta, com conversinha, com challenges. A igualdade racial se faz com a\\xe7\\xf5es pr\\xe1ticas no dia a dia ela, com representatividade, com educa\\xe7\\xe3o, com reconhecimento de privil\\xe9gios. Eu n\\xe3o vi ainda uma onda t\\xe3o grande quanto o meme, na vida pr\\xe1tica. N\\xf3s somos t\\xe3o colonizados que a gente precisa que os Estados Unidos paute a nossa movimenta\\xe7\\xe3o. E n\\xe3o estou falando aqui contra a movimenta\\xe7\\xe3o. S\\xf3 me revolta um pouco a gente precisar que isso venha como uma modinha americana, tal qual a cal\\xe7a jeans, a Coca Cola. Voc\\xea v\\xea empresas americanas que t\\xeam sede no Brasil se posicionando contra o racismo, mas na verdade traduziram o tu\\xedte da matriz americana. Quando voc\\xea para pra pensar em representatividade, a gente n\\xe3o tem tantos avan\\xe7os. A minha torcida \\xe9 para que esse movimento desperte a\\xe7\\xf5es concretas, e que ele desperte quem mais me interessa nessa hist\\xf3ria toda, que \\xe9 o povo preto. Tem muita gente dizendo que \\xe9 pardo, tem muita gente que n\\xe3o se inclui nessa luta, que nem sabe que foi escravizado. O povo preto precisa saber o que todo o s\\xe9culo de escravid\\xe3o no Brasil fez na vida dele hoje. E \\xe9 a\\xed que est\\xe1 a minha esperan\\xe7a, \\xe9 nesse despertar do povo preto. Por enquanto eu acho que ainda \\xe9 meme. Um meme importante, mas que n\\xe3o resolve a vida do jovem e os seguran\\xe7as no shopping, n\\xe3o resolve a vida do cara que a ju\\xedza deu mais tempo de pris\\xe3o por causa da ra\\xe7a. S\\xe3o a\\xe7\\xf5es pr\\xe1ticas que resolvem.\\nTendo em vista essa sua vis\\xe3o cr\\xedtica, quem s\\xe3o suas refer\\xeancias, pessoas cujo trabalho est\\xe1 sendo efetivo nesse sentido?\\xa0Me ocorre, mas \\xe9 t\\xe3o \\xf3bvio que vai parecer puxa-saquismo. O F\\xe1bio [Porchat], para al\\xe9m das redes sociais, tem a\\xe7\\xf5es pr\\xe1ticas na vida dele que combatem o racismo. No pr\\xf3prio Porta dos Fundos, que est\\xe1 revendo todo o processo de contrata\\xe7\\xe3o, tanto de elenco quanto de roteiristas. O F\\xe1bio \\xe9 uma pessoa que sempre lutou por representatividade nos convidados dos programas dele. Ele \\xe9 um cara que pega a lista da produ\\xe7\\xe3o e fala: \\u201cT\\xe1, mas cad\\xea os negros? N\\xe3o tem negro\\u201d. Ent\\xe3o ele fica sempre puxando essa pauta, que \\xe9 o que se pode fazer. A branquitude precisa abrir espa\\xe7o pro povo preto e ele faz isso muito bem na vida dele pr\\xe1tica. Uma a\\xe7\\xe3o que tamb\\xe9m achei bonita foi o Zorra, aquela turma toda do humor da Globo que era do T\\xe1 no Ar. Eles fizeram uma esquete falando sobre s\\xf3 ter branco e a\\xed a milit\\xe2ncia levantou a quest\\xe3o de que no pr\\xf3prio elenco do programa s\\xf3 haviam brancos. Isso deu um estalo no grupo de humor l\\xe1 da Globo, que come\\xe7ou a promover oficinas em comunidades e formar roteiristas. Ent\\xe3o hoje voc\\xea tem um grupo muito grande de roteiristas negros que foram rec\\xe9m-contratados. Isso \\xe9 uma a\\xe7\\xe3o pr\\xe1tica. N\\xe3o \\xe9 s\\xf3 falar: \\u201cAi, quero contratar negros\\u201d. A\\xed voc\\xea faz uma sele\\xe7\\xe3o e obviamente v\\xe3o aparecer os brancos que puderam pagar o Uber at\\xe9 l\\xe1. Voc\\xea faz uma coisa pr\\xe1tica quando voc\\xea vai l\\xe1, forma, d\\xe1 bolsa, permite, porque \\xe9 um outro lugar de aus\\xeancias. E empresas como um todo. Tem empresa que est\\xe1 atenta, mas a grande maioria eu acho que entra mais pelo meme.\\nInteressante o fato de voc\\xea ter mencionado como refer\\xeancia de a\\xe7\\xe3o positiva e eficaz um branco.\\xa0Ah, porque eu achei que era para mencionar branco, achei que era essa a pauta. Eu acredito muito que, quando se fala de mudan\\xe7a efetiva, ela est\\xe1 na m\\xe3o do branco. N\\xf3s, negros, a gente levanta a bandeira, luta, grita, protesta, educa, escreve artigo, livro. O que mais tem \\xe9 negro intelectual no Brasil. Concei\\xe7\\xe3o Evaristo, que talvez seja uma das figuras mais importantes do movimento negro, a Djamila Ribeiro, que faz um trabalho muito importante e conseguiu que ele fosse pop, no melhor sentido da palavra, para que informa\\xe7\\xf5es importantes chegassem \\xe0s pessoas. A\\xed voc\\xea tem a Tia M\\xe1, que faz um trabalho super importante tamb\\xe9m. Enfim, tem uma galera. Mas minha coisa de mencionar os brancos \\xe9 porque \\xe9 quem tem que mudar, quem tem que abrir espa\\xe7o. Infelizmente o poder ainda est\\xe1 nas m\\xe3os de uma maioria branca. \\xc9 o chefe, \\xe9 quem pode falar: \\u201cMetade da minha empresa vai ser de negros e mulheres\\u201d. Ent\\xe3o por isso que meus primeiros nomes foram de brancos.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/08/5f37079dbcc39/paulo-vieira-ator-comediante-trip-fm-mq3.jpg; CREDITS=Reprodu\\xe7\\xe3o; LEGEND=Paulo Vieira ]\\nLEIA TAMB\\xc9M: No Trip TV, F\\xe1bio Porchat conta o maior susto que tomou no cinema\\nEu conhe\\xe7o uma empresa pr\\xf3spera dirigida por um negro bastante bem sucedido, a Viva Jalap\\xe3o. Me conta desse seu lado empres\\xe1rio. Voc\\xea tem uma empresa de turismo, \\xe9 isso? Eu tenho uma empresa que chama Viva Jalap\\xe3o e a gente vende pacotes para as pessoas conhecerem o Jalap\\xe3o. Ela surgiu porque, desde que eu comecei a aparecer na televis\\xe3o e vou ao Jalap\\xe3o, as pessoas falavam: \\u201cFaz alguma coisa pela gente\\u201d. Eu me sentia meio um pol\\xedtico l\\xe1, sabe? E realmente \\xe9 um povo muito necessitado, em sua maioria. E a\\xed quando eu fui melhorando de vida eu tive a ideia de fazer uma empresa pra poder bancar as a\\xe7\\xf5es sociais l\\xe1. Ent\\xe3o eu criei a Viva Jalap\\xe3o, em que parte do pacote que a pessoa compra \\xe9 revertido em a\\xe7\\xf5es de educa\\xe7\\xe3o na regi\\xe3o. A gente equipa bibliotecas, doa computador, livros e n\\xf3s estamos agora construindo uma escola numa comunidade quilombola no Jalap\\xe3o. N\\xe3o come\\xe7amos essa constru\\xe7\\xe3o por causa da Covid, mas vai acontecer. Eu acredito muito no poder da educa\\xe7\\xe3o. A educa\\xe7\\xe3o \\xe9 libertadora. Eu sou a pessoa que foi liberta pela educa\\xe7\\xe3o, pela cultura. Eu fui informado do que \\xe9 o mundo, e de que n\\xe3o existem limites nesse mundo para mim, atrav\\xe9s da educa\\xe7\\xe3o, da cultura. Depois da \\xfaltima elei\\xe7\\xe3o, onde eu me vi em brigas t\\xe3o rasas, eu pensei: por que essa pessoa n\\xe3o t\\xe1 entendendo o que eu estou falando? E a\\xed eu cheguei \\xe0 conclus\\xe3o de que o que faltava eram oito anos de Ensino Fundamental bem feitos. Eu pensei: n\\xe3o vou ter tempo h\\xe1bil pra conversar com essa pessoa sobre hist\\xf3ria, ci\\xeancia, fascismo, sobre tudo isso. A \\xfanica solu\\xe7\\xe3o \\xe9 a educa\\xe7\\xe3o. Foi quando a gente inaugurou a Viva Jalap\\xe3o, muito nessa ideologia de libertar pessoas atrav\\xe9s da educa\\xe7\\xe3o e de mudar mundos. Eu n\\xe3o posso fazer uma escola em cada bairro desse pa\\xeds, ent\\xe3o eu fa\\xe7o onde eu posso e tento mudar a realidade ali.\\nEu quero fazer um convite para que voc\\xea se transforme na M\\xe3e Din\\xe1h e me diga onde o Brasil estar\\xe1 daqui a cinco anos. Vamos estar num buraco desgra\\xe7ado, numa vala comum, ou teremos dado um salto qu\\xe2ntico-triplo-ol\\xedmpico-carpado na dire\\xe7\\xe3o de um futuro melhor?\\xa0Talvez a maior ang\\xfastia desses tempos seja justamente essa falta de perspectiva do m\\xeas que vem. Mas eu acredito que n\\xf3s vamos eleger em 2022 um presidente democrata, acredito que a nossa economia vai melhorar. Acredito que as pessoas ter\\xe3o mais empregos e que a gente vai caminhar para uma popula\\xe7\\xe3o mais educada e mais consciente de quem ela \\xe9, uma popula\\xe7\\xe3o que entenda que, se um cara prefere tirar do trabalhador para dar ao empres\\xe1rio, ele n\\xe3o \\xe9 t\\xe3o legal. Eu acho que a gente vai aprender a dialogar mais entre as pontas. Eu acredito nisso. Na verdade eu nem sei acredito, \\xe9 mais uma ora\\xe7\\xe3o do que uma previs\\xe3o. E a\\xed o hexa vem, o Neymar faz 7 a 0 na Alemanha e a gente vai sonhando. Mas a gente precisa sempre acreditar que as coisas v\\xe3o melhorar porque, imagina, se n\\xe3o fosse a esperan\\xe7a esse pa\\xeds j\\xe1 tinha acabado h\\xe1 muito tempo.'