Paulo Chapchap: Medico nao precisa ser heroi

Published: Sept. 24, 2021, 11 p.m.

b'Ex-diretor do hospital Sírio Libanês fala sobre Covid-19, transplante e empatia na profissão\\n \\n Antes de Paulo Chapchap ir \\xe0 Universidade de Pittsburgh buscar t\\xe9cnicas para transplante de f\\xedgados em crian\\xe7a, no fim da d\\xe9cada de 80, este tipo de cirurgia n\\xe3o existia no Brasil. Muitos pais eram ent\\xe3o obrigados a procurar o procedimento fora do pa\\xeds. Hoje, sua equipe passa das oitenta cirurgias por ano \\u2013 cerca da metade de todas as que s\\xe3o feitas por aqui \\u2013, a grande maioria bancada pelo SUS e com \\xedndices de sucesso que ultrapassam os 95%.\\nIncrivelmente, n\\xe3o \\xe9 somente por esses n\\xfameros que Paulo \\xe9 celebrado em sua \\xe1rea. Durante os \\xfaltimos cinco anos, o que inclui o per\\xedodo mais grave da pandemia por Covid-19, ele esteve a frente do Hospital S\\xedrio Liban\\xeas, em S\\xe3o Paulo, de onde nunca deixou de defender a maior participa\\xe7\\xe3o de institui\\xe7\\xf5es privadas no atendimento p\\xfablico e o acesso de todos \\xe0 sa\\xfade. "N\\xf3s precisar\\xedamos prover o m\\xe9dico com todas as ferramentas e equipe para que ele possa usufruir da sua atividade profissional, de todo o reconhecimento que ela gera, mas n\\xe3o por atos de hero\\xedsmo e sim por um cuidado com as pessoas", conta.\\nEm abril deste ano, no entanto, Paulo deixou o setor de administra\\xe7\\xe3o do hospital que o recebeu como estagi\\xe1rio de UTI, quando ainda cursava medicina pela Universidade de S\\xe3o Paulo (USP), nos anos de 1970. Pela mesma institui\\xe7\\xe3o de ensino, mais tarde, ele se tornaria Doutor em Cl\\xednica Cir\\xfargica. Atualmente, Paulo trabalha como conselheiro estrat\\xe9gico da Dasa, maior rede de sa\\xfade integrada do Brasil.\\nEm um papo com o Trip FM, o m\\xe9dico comentou a s\\xe9rie Sob Press\\xe3o, falou sobre Covid-19, a import\\xe2ncia da empatia entre m\\xe9dico e paciente e lembrou da luta por uma fila de transplantes mais justa. Ou\\xe7a o programa no Spotify, no play nesta reportagem ou leia um trecho da entrevista a seguir.\\nLEIA TAMB\\xc9M: Desvendando nosso sistema imunol\\xf3gico\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2021/09/614dff3c06c1a/dr-paulo-chapchap-medico-covid-sirio-libanes-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Divulga\\xe7\\xe3o; LEGEND=Doutor Paulo Chapchap; ALT_TEXT=Doutor Paulo Chapchap]\\nTrip. Eu tenho visto a s\\xe9rie Sob Press\\xe3o, que \\xe9 bastante elogiada, com aparentemente um alto n\\xedvel de realidade, e na maior emissora do pa\\xeds. Voc\\xea acha que isso \\xe9 bom ou existe um perigo em criar essa fic\\xe7\\xe3o da figura do m\\xe9dico her\\xf3i?\\nPaulo Chapchap. De uma forma geral \\xe9 bom. A s\\xe9rie tem uma boa conex\\xe3o com a realidade, mas existe uma certa romantiza\\xe7\\xe3o no sentido de que o m\\xe9dico precisa ser um her\\xf3i, precisa ir para o sacrif\\xedcio pessoal. Isso acontece, n\\xe3o vou dizer que n\\xe3o, mas atos de hero\\xedsmo n\\xe3o deveriam ser o dia a dia da atua\\xe7\\xe3o do m\\xe9dico. N\\xf3s precisar\\xedamos prover esse profissional com condi\\xe7\\xf5es de trabalho, com todas as ferramentas, toda a equipe para que ele possa usufruir da sua atividade profissional, de todo o reconhecimento que ela gera, mas n\\xe3o por atos de hero\\xedsmo, e sim por um cuidado com as pessoas. Eu acho que \\xe9 bom que a popula\\xe7\\xe3o conhe\\xe7a a realidade do Sistema \\xdanico de Sa\\xfade, mas \\xe9 bom saber que os m\\xe9dicos n\\xe3o deveriam ser her\\xf3is, mas profissionais com uma atua\\xe7\\xe3o adequada. Algum grau de sacrif\\xedcio vai existir, mas n\\xe3o a ponto de comprometer a sua sa\\xfade.\\xa0\\nVoc\\xea ficou durante um grande tempo liderando uma das organiza\\xe7\\xf5es de sa\\xfade mais famosas do Brasil. Existe hoje uma necess\\xe1ria press\\xe3o pela diversidade racial em qualquer organiza\\xe7\\xe3o, inclusive nos hospitais. Na posi\\xe7\\xe3o de gestor de grandes institui\\xe7\\xf5es, como voc\\xea v\\xea o espa\\xe7o de profissionais negros dentro dos hospitais hoje?\\xa0Inclus\\xe3o \\xe9 muito importante, porque voc\\xea traz uma diversidade que melhora muito a gest\\xe3o das institui\\xe7\\xf5es. A gente fez uma curva for\\xe7ada de inclus\\xe3o nos cargos de lideran\\xe7a do S\\xedrio Liban\\xeas. Voc\\xea precisa de programas para possibilitar que isso aconte\\xe7a. Normalmente quem vem de classes ricas acaba tendo acesso a uma educa\\xe7\\xe3o superior mais privilegiada, mas voc\\xea compensa isso amplamente com uma vis\\xe3o diferente de mundo e com dedica\\xe7\\xe3o. Voc\\xea tem compet\\xeancias t\\xe9cnicas, mas tamb\\xe9m tem o comportamento e a atitude. A pol\\xedtica de cotas, com a qual eu concordo, vai trazer mais possibilidades de inclus\\xe3o nos cargos de lideran\\xe7a e vai favorecer muito a gest\\xe3o dessas empresas.\\nLEIA TAMB\\xc9M: "Sou um realizador dos meus sonhos", diz Tito Rosemberg\\nH\\xe1 cerca de vinte anos a Trip foi chamada pela sociedade para apontar uma falha na fila de transplantes, que antigamente era organizada apenas pela ordem de chegada. Isso acabou sendo alterado. Mas e agora, funciona bem essa fila do transplante?\\xa0Ficou muito bom. O que faltava na \\xe9poca era uma consci\\xeancia de que ordenar apenas por tempo era uma injusti\\xe7a e faltava tamb\\xe9m um indicador objetivo que comparasse gravidade entre diferentes pacientes e diferentes doen\\xe7as. Se criou esse indicador, que n\\xe3o \\xe9 perfeito, mas que leva em conta alguns resultados laboratoriais para prever o \\xedndice de mortalidade em seis meses se voc\\xea n\\xe3o fizer transplante. Aqueles que indicam a maior probabilidade de morrer em seis meses entram na frente da fila. \\xc9 uma escala cont\\xednua de pontua\\xe7\\xe3o e que estabelece algumas exce\\xe7\\xf5es, porque precisa: crian\\xe7a, por exemplo, ganha uma pontua\\xe7\\xe3o maior. Embora ele n\\xe3o seja um \\xedndice perfeito, ele \\xe9 bastante bom. Essas listas s\\xe3o regionais, mas em casos extremos podem se tornar nacionais.'