O melhor do Trip FM em 2022: Ana Michelle Soares

Published: Feb. 3, 2023, 11 p.m.

b'Nossa esquipe selecionou alguns dos melhores papos dos últimos meses para você curtir\\n \\n Durante o per\\xedodo de f\\xe9rias de ver\\xe3o, nossa equipe selecionou alguns dos melhores papos do ano de 2022. Se voc\\xea ainda n\\xe3o ouviu (ou que rever a conversa) aqui est\\xe1 uma das escolhidas.\\xa0\\nAna Michelle Soares morreu no \\xfaltimo dia 21 de janeiro. Antes disso, diagnosticada com c\\xe2ncer de mama metast\\xe1tico h\\xe1 quase uma d\\xe9cada, ela aprendeu a n\\xe3o condicionar a sua felicidade ao que estava por vir e usou as horas que tinha para se dedicar a Casa Paliativa, projeto criado junto com a m\\xe9dica Ana Claudia Quintana Arantes para acolher pacientes com doen\\xe7as graves e falar sobre dor, autoconhecimento e vida.\\nAutora tamb\\xe9m do livro "Vida Inteira", uma reflex\\xe3o aberta e verdadeira sobre diversos momentos de sua vida, Ana bateu um papo com o Trip FM\\xa0em fevereiro do ano passado\\xa0sobre sua inf\\xe2ncia, a experi\\xeancia transformadora da ayahuasca, maconha, e \\u2013 como n\\xe3o poderia deixar de ser \\u2013 vida e morte. Confira no play ou leia um trecho a seguir.\\nTrip. Eu queria voltar l\\xe1 para tr\\xe1s: como era a sua fam\\xedlia de origem? Em que lugar voc\\xea nasceu e de que jeito voc\\xea veio para o mundo?\\nAna Michelle Soares. As pessoas acabam querendo contar a minha hist\\xf3ria a partir de um diagn\\xf3stico. \\xc9 muito dif\\xedcil entender como eu me conecto com a vida sem dizer que tive uma inf\\xe2ncia sofrida. Por isso gosto dessa pergunta. Nasci em uma cidade sat\\xe9lite de Bras\\xedlia chamada Gama. A gente j\\xe1 cresceu precisando sobreviver \\xe0s dores sociais. Ainda beb\\xea, tive uma h\\xe9rnia durante um per\\xedodo de greve dos hospitais. Minha m\\xe3e chorava e ningu\\xe9m podia me atender. Meu pai precisou implorar por uma cirurgia em uma cl\\xednica particular. Eu venho deste contexto, de uma fam\\xedlia que tentou melhorar a condi\\xe7\\xe3o para os filhos. Meu pai assumiu esse compromisso.\\nO que voc\\xea aprendeu sobre dinheiro nesse percurso de entender a vida e a morte?\\xa0Fui diagnosticada com 28 anos. De repente esse muro da finitude foi me apresentado em uma \\xe9poca em que se planeja tudo: casa, carro, filhos. Depois do adoecimento, comecei a olhar para as m\\xeddias sociais e observei o sofrimento das pessoas com o dia \\xfatil. E como \\xe9 um paradoxo usar essa palavra, pois a gente transforma esse dia em in\\xfatil. Ningu\\xe9m coloca na conta de vida esse espa\\xe7o de tempo que para o nosso cotidiano \\xe9 importante; todo mundo precisa de moeda, de dinheiro. Ningu\\xe9m vive de luz e amor. O trabalhar virou um sofrimento para que se ganhe um pouco de felicidade no fim de semana. \\xc9 preciso ressignificar isso ou procurar algo que deixe a sua alma mais em paz nesse dia \\xfatil. As pessoas t\\xeam medo de serem felizes.\\nVoc\\xea \\xe9 muito generosa no seu livro em compartilhar experi\\xeancias. Eu queria saber melhor de uma delas, com a ayahuasca, como foi isso?\\xa0Ela veio durante uma busca espiritual, uma inquieta\\xe7\\xe3o que sempre tive com a ideia de que a gente precisa temer a Deus. Pesquisando alternativas, cheguei nas pr\\xe1ticas xam\\xe2nicas e na ayahuasca. Foi realmente um antes e depois. O que mais me impactou foi a dimens\\xe3o de tempo. Me pareceu \\xf3bvio que tudo que existe est\\xe1 neste momento: n\\xe3o vou me chicotear pelo que j\\xe1 foi. Mas isso tamb\\xe9m n\\xe3o significa que estou presa ao presente. Posso estar morta na semana que vem e mesmo assim fa\\xe7o planos. S\\xf3 n\\xe3o dependo deles para ter um pouco de felicidade.'