Nelson Motta: paixao, generosidade e sorte

Published: Nov. 13, 2020, 11 p.m.

b'Ele mede tudo pela intensidade, responde ao ódio com humor e tomou como receita de vida a lição do pai: "Quem recebeu mais tem que dar mais"\\n \\n Nelson Motta viu nascer a bossa nova, teve Jo\\xe3o Gilberto como mestre e amigo e circulou com Nelson Rodrigues, Vinicius de Moraes e Elis Regina, entre outros grandes nomes da m\\xfasica e da literatura brasileira. Jornalista, produtor musical, escritor e compositor, criou can\\xe7\\xf5es de sucesso com Lulu Santos, Guilherme Arantes e Rita Lee, revelou a cantora Marisa Monte e produziu trabalhos de Daniela Mercury, Gal Costa e Tim Maia, de quem tamb\\xe9m foi amigo e bi\\xf3grafo.\\nAos 76 anos, Nelson acaba de lan\\xe7ar sua biografia, De Cu Pra Lua, que narra uma jornada que se mistura \\xe0 hist\\xf3ria da cultura brasileira dos \\xfaltimos 50 anos. "A sorte n\\xe3o tem moral ou \\xe9tica, n\\xe3o respeita m\\xe9rito, \\xe9 totalmente aleat\\xf3ria. O que voc\\xea faz com ela \\xe9 o que justifica, \\xe9 uma retribui\\xe7\\xe3o por t\\xea-la recebido", diz. Em conversa com a Trip, ele fala dos privil\\xe9gios que o ajudaram a construir uma trajet\\xf3ria brilhante e o desejo de, antes de ser rico ou poderoso, ser livre e de alguma forma compartilhar com o mundo o que a sorte lhe trouxe.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/11/5faeb938e0101/nelson-motta-bossa-nova-cultura-musica-jornalista-trip-fm-m6.jpg; CREDITS=Arquivo pessoal; LEGEND=Nelson Motta, jornalista, compositor e escritor, com os m\\xfasicos Dory Caymmi e Marcos Valle]\\nTrip.\\xa0Estive uma vez almo\\xe7ando na casa dos seus pais num s\\xe1bado ou num domingo.\\xa0Foi um privil\\xe9gio enorme conhecer o Doutor Nelson e a Dona Xixa e, principalmente, ver o clima que tinha naquela casa. Confesso, fiquei encantado. Uma mistura de afeto familiar com cultura de todas as gera\\xe7\\xf5es, era quase uma jam session de talentos. \\nNelson Motta.\\xa0Eles eram muito agregadores, meu pai e minha m\\xe3e. Gostavam daquilo, e as pessoas iam se agregando na fam\\xedlia. Eu quase casei com a Helena Gastal, hoje figurinista famosa da Globo, e ia com a Heleninha l\\xe1. Depois acabamos n\\xe3o casando, ela se casou com outra pessoa, e passou a levar ele l\\xe1 para casa. Quando se separaram ele se casou com uma outra, que passou a estar na casa ent\\xe3o. N\\xe3o se sabia quem tinha sido casado com quem, era um clima de grande harmonia, e minha m\\xe3e ficava louca, n\\xe9? Tinha dias que eram dez pessoas e tinha dias que eram vinte, de repente. Meu pai era pra mim o exemplo da generosidade, da toler\\xe2ncia. Ele que me educou nas horas que eu ficava enlouquecido, querendo chupar o sangue do mundo, e sempre me acalmava e me recomendava a n\\xe3o brigar, a fazer um acordo. Era um advogado humanista, essa era a sua combina\\xe7\\xe3o vitoriosa. Meu livro est\\xe1 cheio m\\xe1ximas do meu pai, coisas fant\\xe1sticas. Ele falava: "Quem recebeu mais tem que dar mais". Ele falava isso para mim e para minhas irm\\xe3s, que n\\xf3s t\\xednhamos recebido essa sorte, casa bonita, comida gostosa, maior moleza, e t\\xednhamos que dar mais. E acabou sendo uma \\xf3tima receita de vida. Outra m\\xe1xima dele era: "Quem d\\xe1 ganha mais do que quem recebe". Posso dar meu testemunho oficial: sempre agi assim na minha vida e sempre sempre me dei bem. N\\xe3o pode ser uma coisa demag\\xf3gica, uma coisa para uso externo. \\xc9 uma coisa de voc\\xea para voc\\xea mesmo, que de uma forma ou de outra te fortalece, te anima, te alegra no fundo.\\xa0\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/11/5faeb96b52ec5/nelson-motta-bossa-nova-cultura-musica-jornalista-trip-fm-m5.jpg; CREDITS=Arquivo pessoal; LEGEND=Nelson Motta, jornalista, compositor e escritor, com a cantora Clara Nunes]\\nEm dado momento seu pai largou o que seria a voca\\xe7\\xe3o dele, que era o jornalismo, e foi para a advocacia. Meu pai tamb\\xe9m precisou largar a medicina porque o pai dele o chamou para ajudar na f\\xe1brica, e ele foi se formar em Direito. Essa coisa da pessoa ir atr\\xe1s do dinheiro e deixar a voca\\xe7\\xe3o \\xe9 um neg\\xf3cio que me pegou muito. Em algum momento voc\\xea acha que o seu pai foi infeliz por ter feito essa escolha? N\\xe3o. No jornalismo naquela \\xe9poca, anos 40, a vida era muito dura. Ele ainda me sustentou como jornalista pelo menos durante meus dois primeiros anos. E ele escrevia maravilhosamente bem, o que acabou o ajudando muito como advogado. Isso j\\xe1 veio para mim de f\\xe1brica. O jornalismo tinha mais emo\\xe7\\xe3o para ele porque a fam\\xedlia era de pol\\xedticos, e ele foi editor de pol\\xedtica com 22, 23 anos. Aquela paix\\xe3o, aquela sensa\\xe7\\xe3o de estar interferindo na hist\\xf3ria. Mas eu sempre o vi muito feliz com a advocacia, sem reclamar. O meu, com o perd\\xe3o da palavra, sucesso como jornalista, foi dele. Ele desfrutou muito disso, tanto quanto se fosse ele mesmo, talvez at\\xe9 mais, de me ver realizando o sonho dele. E do lado da minha m\\xe3e tamb\\xe9m, ela sempre adorou a m\\xfasica, era compositora e recebia m\\xfasicas do al\\xe9m. Eu cheguei a concorrer em festivais com ela. E de novo, com o perd\\xe3o da palavra, o meu sucesso como compositor vingou as frustra\\xe7\\xf5es dela como compositora. Ela era quem mais vibrava com o sucesso das minhas m\\xfasicas. E ela era uma figura\\xe7a, amiga \\xedntima de gente tipo Cazuza, Neusinha Brizola, Ezequiel Neves. Ela era tarja preta, e eles adoravam ela. Ficavam tocando piano ali a tarde inteira. Cazuza foi at\\xe9 mais pr\\xf3ximo dela do que de mim.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/11/5faeba6b98400/nelson-motta-bossa-nova-cultura-musica-jornalista-trip-fm-m8.jpg; CREDITS=Arquivo pessoal; LEGEND=Nelson Motta, jornalista, compositor e escritor, com a cantora Elis Regina]\\n\\xc9 como se a sua vida fosse a vida que seria legal que todo mundo pudesse ter, n\\xe9? Uma fam\\xedlia estruturada, que tem uma certa grana, um conforto. Voc\\xea conseguiu fazer viagens internacionais, uma coisa que na \\xe9poca era pouco comum, ainda garotinho embarcou num navio para ir para a Europa. E voc\\xea narra essa experi\\xeancia de chegar l\\xe1 com um guia te mostrando cidades europ\\xe9ias, te mostrando Roma. Foi a minha universidade, que meu pai nos deu de presente. Foram quase dois meses viajando pela Europa e, cada lugar que \\xedamos, \\xe0s oito da manh\\xe3 estava todo mundo com o guia. Tinha que ir nos monumentos todos. A gente aprendeu de hist\\xf3ria e arte nessa viagem, realmente o melhor presente que o dinheiro podia comprar.\\nTem uma frase, acho que do Warren Buffett, que algu\\xe9m teria perguntado para ele se ele se considerava um cara de sorte, e ele respondeu: "Quanto mais eu trabalho, mais sorte eu tenho". Tenho a impress\\xe3o de que voc\\xea trabalhou loucamente, mesmo que em alguns momentos voc\\xea nem estivesse percebendo aquilo como trabalho. Porque se fechar num lugar para produzir Elis Regina, por exemplo, n\\xe3o d\\xe1 para imaginar que isso seja exatamente um sofrimento. Eu pagaria para fazer isso.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/11/5faeba99ce96d/nelson-motta-bossa-nova-cultura-musica-jornalista-trip-fm-m7.jpg; CREDITS=Arquivo pessoal; LEGEND=Nelson Motta, jornalista, compositor e escritor, na juventude com seu professor Zuenir Ventura]\\n[QUOTE=1136]\\n\\xc9 muito interessante ver o que voc\\xea fez com esse privil\\xe9gio. Voc\\xea deu um jeito de espalhar ele por a\\xed em forma de m\\xfasicas, de pe\\xe7as de teatro, de textos, de reportagens, de colunas em jornais. Como \\xe9 que se converte privil\\xe9gios em coisas que s\\xe3o socialmente \\xfateis? O ponto de partida desse livro foi um estudo sobre a sorte. Por que h\\xe1 sorte para uns e para outros n\\xe3o? Por que tem num momento e n\\xe3o tem no outro? E a sorte n\\xe3o tem moral ou \\xe9tica, n\\xe3o respeita m\\xe9rito, \\xe9 totalmente aleat\\xf3ria e vai para bandidos, torturadores, como vai para gente boa. Eu pensei tanto nisso que imaginei uma esp\\xe9cie de uma \\xe9tica da sorte: a sorte que voc\\xea recebeu, que caiu do c\\xe9u e voc\\xea nem sabe o porqu\\xea, o que voc\\xea faz com isso? O que voc\\xea faz com a sorte \\xe9 o que justifica, \\xe9 uma retribui\\xe7\\xe3o por t\\xea-la recebido. Por outro lado, desde o meu in\\xedcio no jornalismo, no \\xdaltima Hora, meu rumo era "curtir e compartilhar". Era o que eu fazia. E dizia: "Eu jamais vou perder um amigo por causa de uma not\\xedcia". Me dei bem, ningu\\xe9m teve not\\xedcias melhores do que eu desses personagens da m\\xfasica brasileira porque eu respeitava a privacidade deles, sabia at\\xe9 onde podia ir, e isso facilitou muito a minha vida.\\nLEIA TAMB\\xc9M: "Antes da m\\xfasica n\\xe3o me sentia parte do mundo", diz Marcelo D2\\nD\\xe1 a impress\\xe3o que voc\\xea viveu umas oito vidas. Viu o aflorar da bossa nova, trabalhou com o Samuel Wainer, produziu a Elis Regina, foi uma esp\\xe9cie de confidente, parceiro e depois bi\\xf3grafo do Tim Maia. E n\\xe3o \\xe9 que voc\\xea bateu um papo com eles um dia, voc\\xea teve uma rela\\xe7\\xe3o com essas pessoas. Eu aprendi muito com eles, muitos deles foram meus mestres.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/11/5faebac1636ec/1023x1023x960x960x30x29/nelson-motta-bossa-nova-cultura-musica-jornalista-trip-fm-m1.jpg; CREDITS=Reprodu\\xe7\\xe3o; LEGEND=Nelson Motta na capa da revista Trip #213 em 2012]\\n[QUOTE=1135]\\n\\xc9 muito dif\\xedcil ver algu\\xe9m conseguir navegar bem por praias t\\xe3o diferentes. Ao que voc\\xea atribui essa sua habilidade? Eu acho que o meu temperamento \\xe9 cordial naturalmente, e isso ajudou bastante. Eu tamb\\xe9m n\\xe3o julgo meus amigos, nem as pessoas, por isso ou aquilo. Ou aceito as pessoas pelo que elas s\\xe3o ou n\\xe3o aceito, n\\xe3o sou obrigado. Assim como meu pai, eu gosto de calor humano, de amizades. Tive v\\xe1rios casamentos e romances na minha vida, tenho essa coisa emocional muito forte, e a emo\\xe7\\xe3o sempre une as pessoas. Eu escrevo e fa\\xe7o pe\\xe7as de teatro para emocionar as pessoas. Ou para fazer rir tamb\\xe9m. Eu amo e sou grat\\xedssimo a todos os comediantes, mesmo os mais vagabundos, porque eles fazem rir. E, especialmente no tempo que a gente est\\xe1 vivendo, algu\\xe9m que faz voc\\xea rir merece tudo. O maior inimigo do \\xf3dio n\\xe3o \\xe9 o \\xf3dio, \\xe9 o humor, o rid\\xedculo, a desmoraliza\\xe7\\xe3o. Se voc\\xea ficar xingando de volta, n\\xe3o vai a lugar nenhum. Mas se voc\\xea revela o rid\\xedculo daquela pessoa ou daquela situa\\xe7\\xe3o, \\xe9 uma arma poderos\\xedssima.\\nLEIA TAMB\\xc9M:\\xa0Pel\\xe9: racismo e esquecimento marcam os 80 anos do jogador\\nUma das coisas legais da sua hist\\xf3ria \\xe9 que, apesar de voc\\xea estar sempre pensando "como \\xe9 que vou fazer para arrumar uma grana?", a grana n\\xe3o \\xe9 o seu motivador nunca. N\\xe3o \\xe9 atr\\xe1s dela que voc\\xea corre, embora ela acabe correndo atr\\xe1s de voc\\xea em algumas situa\\xe7\\xf5es. Como foi a sua rela\\xe7\\xe3o com o dinheiro ao longo da vida? Eu adoro uma frase do Nizan [Guanaes, empres\\xe1rio]. Ele falou que dinheiro n\\xe3o traz felicidade, felicidade \\xe9 que traz dinheiro. Eu achei perfeito. Como dizia meu pai: "Dinheiro n\\xe3o se ganha, se arranca". Ent\\xe3o eu arranquei dinheiro para criar minhas filhas, para sustentar a minha vida toda, mas eu nunca lutei por dinheiro e por poder. Nunca tive a ambi\\xe7\\xe3o de ser um milion\\xe1rio ou poderoso, eu sempre lutei por independ\\xeancia e liberdade. Voc\\xea falou que parece que eu vivi oito vidas, e \\xe9 verdade. Eu aprendi com o meu analista, que foi analisado pelo pr\\xf3prio Lacan, o conceito do tempo l\\xf3gico em oposi\\xe7\\xe3o ao tempo cronol\\xf3gico. O tempo cronol\\xf3gico \\xe9 o rel\\xf3gio, o calend\\xe1rio, n\\xe3o \\xe9 nada, \\xe9 uma conven\\xe7\\xe3o. O tempo l\\xf3gico \\xe9 medido pela intensidade \\u2013 tanto que tem sess\\xf5es de psicanalistas lacanianos que podem levar 10 minutos e outras que podem levar 30 ou 40. Se em 10 minutos voc\\xea j\\xe1 disse tudo o que era importante, o cara tem que cortar. Eu estendi esse conceito do tempo l\\xf3gico para toda a minha vida. Eu me\\xe7o as coisas pela intensidade.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/11/5faebc0c5c534/nelson-motta-bossa-nova-cultura-musica-jornalista-trip-fm-mh3.jpg; CREDITS=Arquivo pessoal; LEGEND=Nelson Motta, o m\\xfasico Jo\\xe3o Gilberto, a cantora Elba Ramalho e o apresentador Amaury Jr.]\\nMe lembrei de uma passagem do seu livro em que voc\\xea conversa com o seu pai e ele, meio doente, teria dito: "Chegar \\xe0 velhice \\xe9 uma merda". E voc\\xea respondeu: "Mas n\\xe3o chegar \\xe9 pior". Foi meu \\xfaltimo di\\xe1logo com ele.\\n[QUOTE=1137]\\nVoc\\xea acaba de completar 76 anos. Como \\xe9 que est\\xe1 sendo essa fase da sua vida? O que tem de legal \\xe9 essa experi\\xeancia, que n\\xe3o tem pre\\xe7o. Ainda mais uma pessoa que teve as experi\\xeancias que eu tive. Eu tenho dentro de mim um tesouro incalcul\\xe1vel de mem\\xf3ria, de aprendizado, de experi\\xeancias. Tudo isso eu preservo e, mesmo sendo um maconheiro hist\\xf3rico, tenho uma mem\\xf3ria espetacular. Eu vivo da minha mem\\xf3ria, na verdade. Ent\\xe3o eu vejo uma certa serenidade na velhice. Eu brinco que a minha gera\\xe7\\xe3o foi privilegiada porque, na juventude, teve a p\\xedlula anticoncepcional, que foi o estouro da boiada. Depois, na maturidade, o Viagra: a salva\\xe7\\xe3o da lavoura. E, na velhice, o Google, que lembra tudo o que a sua mem\\xf3ria n\\xe3o lembra. Como dizia Jo\\xe3o Gilberto, o meu swing \\xe9 todo daqui pra cima.\\nLEIA TAMB\\xc9M:\\xa0Tito Rosemberg, um aventureiro incans\\xe1vel\\nEm 36 anos de Trip FM, voc\\xea j\\xe1 esteve no programa 4 vezes. Em uma delas, h\\xe1 uns 25 anos, eu te falei: "Porra, Nelsinho, todo mundo s\\xf3 fala bem de voc\\xea e suas hist\\xf3rias sempre d\\xe3o certo. Voc\\xea produz o disco que vende, escreve livro que \\xe9 best-seller, tudo d\\xe1 certo. Eu quero saber de fracasso". E voc\\xea me contou de uma broxada, nem isso, uma fuga de uma mulher que queria te engolir. Como n\\xe3o d\\xe1 pra voc\\xea relembrar suas milhares de hist\\xf3rias, poderia relembrar essa a\\xed? Foi uma mancada com uma famosa promoter?\\nExatamente! A mulher era muito grande, muito forte. Ainda bem que n\\xf3s \\xe9ramos amigos ali, n\\xe3o havia nenhuma inten\\xe7\\xe3o outra. E foi tamb\\xe9m num p\\xe9ssimo tempo da coca\\xedna. Como dizia o J\\xfalio Barroso, da Gang 90: "Tem que escolher: ou p\\xf3 ou pau". \\xc9 mais uma advert\\xeancia a voc\\xeas. Mas tem uma outra hist\\xf3ria bem engra\\xe7ada com a minha amiga Darlene Gl\\xf3ria. Ela era um colosso de mulher, uma deusa, tinha feito "Toda Nudez Ser\\xe1 Castigada". E eu j\\xe1 estava ficando conhecido na televis\\xe3o, conhecendo artistas. Ela come\\xe7ou a mexer no meu p\\xe9, na minha m\\xe3o, com aquela voz, aquele olh\\xe3o azul. Com 30 anos eu fiquei completamente transtornado. Mas tinha um por\\xe9m: ela namorava o Mariel Mariscot, do esquadr\\xe3o da morte. Ela falou: "Vamos na minha casa, que \\xe9 aqui perto no Leme?". E a \\xfanica pergunta que interessava n\\xe3o foi feita: "E o Mariel?". Ent\\xe3o eu fui l\\xe1 na casa da Darlene correndo, e n\\xe3o foi uma broxada, mas foi uma ejacula\\xe7\\xe3o precoc\\xedssima. O medo venceu o tes\\xe3o. Foi \\xf3timo.\\nLEIA TAMB\\xc9M:\\xa0Meu nome \\xe9 \\xe9bano: a vida e a obra de Luiz Melodia\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/11/5faebb1cd5f62/930x930x960x960x-14x-14/nelson-motta-bossa-nova-cultura-musica-jornalista-trip-fm-m4.jpg; CREDITS=Hugo Cecatto; LEGEND=Nelson Motta]\\n[QUOTE=1138]\\nUma coisa que poucos artistas conseguem \\xe9, atrav\\xe9s de um trabalho que n\\xe3o tem a pretens\\xe3o de ser popular, virar popular. Isso \\xe9 bem dif\\xedcil e voc\\xea parece que conseguiu. Quando a can\\xe7\\xe3o est\\xe1 pronta ela n\\xe3o te pertence mais, entendeu? Ela est\\xe1 na boca do povo. Cada um usa a can\\xe7\\xe3o do seu jeito. O cara t\\xe1 triste, ouve ali Como uma onda, "tudo passa, tudo sempre passar\\xe1", d\\xe1 uma animada. O cara t\\xe1 numa felicidade total, vem como advert\\xeancia: cuidado, "tudo passa, tudo sempre...". A durabilidade de algumas letras minhas \\xe9 porque elas servem para v\\xe1rias situa\\xe7\\xf5es. Uma das maiores emo\\xe7\\xf5es que eu tive com a m\\xfasica foi em 78, quando estourou com As Fren\\xe9ticas um mega hit no fim do ano, "Perigosa, bonita e gostosa", parceria com a Rita Lee e o Roberto de Carvalho. "Vou fazer voc\\xea ficar louco, muito louco, dentro de mim". Era genial isso. Inven\\xe7\\xe3o da Rita. A m\\xfasica estourou no Brasil inteiro e eu fui passar o Carnaval na Bahia. Ver aquela Pra\\xe7a Castro Alves, aquela multid\\xe3o, o trio el\\xe9trico e aquelas pessoas cantando "eu sei que eu sou bonita e gostosa". Todo mundo foi bonita e gostosa naquele carnaval, eu quase chorei de emo\\xe7\\xe3o. As pessoas se apossando da m\\xfasica e usando a m\\xfasica para exprimir os seus sentimentos: essa \\xe9 a maior alegria do compositor.'