Marcelo Gleiser: cosmos, ciencia e ultramaratona

Published: Nov. 24, 2023, 11 p.m.

b'Físico fala da meditação no esporte, psicoterapia assistida com psicodélicos, vida, morte e amor\\n \\n Se voc\\xea tamb\\xe9m est\\xe1 enfrentando as ondas de calor, vivenciando os tsunamis meteorol\\xf3gicos, ou acompanhou espantado os notici\\xe1rios sobre os tornados e tempestades na Regi\\xe3o Sul do Brasil, certamente ouviu falar da import\\xe2ncia da ci\\xeancia e da necessidade de mudar a rela\\xe7\\xe3o entre ser humano e natureza. Afinal, o mundo n\\xe3o vai bem. E para debater essa triste realidade, o Trip FM ouviu um dos maiores cientistas do mundo, o f\\xedsico e astr\\xf4nomo Marcelo Gleiser, que h\\xe1 anos tem sido uma voz contundente na interpreta\\xe7\\xe3o das ang\\xfastias humanas e no futuro da humanidade. "N\\xe3o tente construir narrativas de imortalidade, porque isso n\\xe3o vai acontecer. O segredo da vida \\xe9 viv\\xea-la da maneira mais intensa poss\\xedvel, e para isso, \\xe9 necess\\xe1rio se alimentar bem, exercitar o corpo e a mente. Leia, escreva, jogue xadrez, aprenda uma nova l\\xedngua para permanecer sempre alerta. Este \\xe9 o segredo do transumanismo: tornar-se cada vez mais humano\\u201d, disse ele.\\nDesde crian\\xe7a, Marcelo nutre uma curiosidade muito grande pelos mist\\xe9rios do universo. Quest\\xf5es sobre como surgiu tudo o que nos rodeia, a origem da pr\\xf3pria vida e a inquietude de querer saber se estamos sozinhos no cosmo ocupavam \\u2014 e ainda ocupam \\u2014 sua mente. Em 1981, ele se formou em f\\xedsica na Pontif\\xedcia Universidade Cat\\xf3lica do Rio de Janeiro, fez mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutorado no King\\u2019s College de Londres. Desde 1991, \\xe9 professor e pesquisador no Dartmouth College, nos Estados Unidos. "A gente s\\xf3 aprende porque se questiona sobre as experi\\xeancias que temos. Se voc\\xea n\\xe3o tentar aprender com o que est\\xe1 acontecendo, com o que n\\xe3o deu certo, vai continuar errando sempre. Sou um estudioso n\\xe3o s\\xf3 da f\\xedsica, mas um estudioso da vida e, certamente, um estudioso do amor.\\u201d\\nNo papo, Marcelo falou ainda sobre o esporte como uma forma de medita\\xe7\\xe3o, a psican\\xe1lise auxiliada por subst\\xe2ncias psicod\\xe9licas, a vida, a morte, o amor e muito mais. A entrevista completa est\\xe1 dispon\\xedvel aqui no site da Trip e no Spotify.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2023/11/655fb9efbdbfd/tripfm-marcelo-gleiser-cientista-mh.jpg; CREDITS=Dartmouth College / Divulga\\xe7\\xe3o; LEGEND=Marcelo Gleiser; ALT_TEXT=Marcelo Gleiser]\\nTrip FM. Voc\\xea \\xe9 ultramaratonista, como isso ajuda na preserva\\xe7\\xe3o da sua mente, \\xe9 tamb\\xe9m uma forma de meditar?\\nEm uma ultramaratona, tudo d\\xf3i, voc\\xea fica desidratado, com c\\xe2imbra, com fome, mas a medida que o seu corpo quebra, a sua alma se abre. O grande desafio \\xe9 como voc\\xea vai sobrepujar o que a cabe\\xe7a te pede, porque chega uma hora que voc\\xea nem sabe quem \\xe9, entra em sintonia completa com a natureza ao redor: \\xe9 a exposi\\xe7\\xe3o ao que melhor existe na ess\\xeancia do ser humano. Nosso corpo foi feito para correr, para estar na natureza. Nas cidades a gente paga um pre\\xe7o emocional muito grande por estar longe da natureza. A ideia da medita\\xe7\\xe3o em movimento \\xe9 a de estar totalmente presente no momento, com foco no movimento. \\xc9 uma maneira de parar de pensar, o que \\xe9 inestim\\xe1vel.\\nEm que medida a perda da sua m\\xe3e aos seis anos fez parte da sua busca pelo desconhecido?\\nQuando voc\\xea \\xe9 uma crian\\xe7a e perde uma m\\xe3e, h\\xe1 um v\\xe1cuo emocional gigantesco. Isso molda quem voc\\xea \\xe9 como ser humano. Primeiro eu me senti vitimado: \\u201cO que eu fiz para merecer essa vida?\\u201d. Ali eu entendi que o tempo \\xe9 o nosso grande mestre. A m\\xe3e \\xe9 aquela que jamais pode abandonar o filho, mas essa \\xf3tica era muito centrada em mim. Com o passar dos anos eu fui come\\xe7ando a entender que a perda foi dela, a dor de perder a vida aos 38 anos foi dela. Comecei a entender esse processo de uma forma mais generosa e menos ego\\xedsta. Quando algo acontece com a gente, a tend\\xeancia \\xe9 a de se vitimar e esquecer o que aconteceu com as outras pessoas que est\\xe3o em volta de voc\\xea. Aprendi que se houvesse alguma coisa a me relacionar com a perda da minha m\\xe3e seria dedicar a minha vida a viver o que ela n\\xe3o pode viver. Essa for\\xe7a de explorar o mist\\xe9rio \\xe9 de uma certa forma uma maneira de me engajar com esse desconhecido. E a morte \\xe9 esse desconhecido.\\xa0O que significa ser humano? Somos uns bichos muito estranhos, temos um lado todo animal, a gente precisa comer, secreta o que n\\xe3o precisa no meio ambiente, se reproduz, tem emo\\xe7\\xf5es parecidas com as de muitos outros mam\\xedferos. Mas, por outro lado, n\\xf3s questionamos quem somos, criamos teorias sobre o universo, tentamos entender se existe vida fora da terra, escrevemos sinfonias... Tudo isso \\xe9 um grande esfor\\xe7o para preservar a nossa presen\\xe7a no mundo. Quando voc\\xea l\\xea um poema do Vinicius de Moraes, ele est\\xe1 contigo. Voc\\xea s\\xf3 morre quando ningu\\xe9m mais lembra que voc\\xea viveu. Nenhum outro bicho faz isso.\\nO que voc\\xea pode dizer por essa busca pelo transumano, a busca pela vida eterna?\\nDesde a Idade M\\xe9dia, a expectativa de vida dobrou. A ci\\xeancia j\\xe1 est\\xe1 aumentando a vida, mas at\\xe9 onde a gente pode ir? Ser\\xe1 que a ci\\xeancia pode conquistar a morte? \\xc9 o mito do Frankenstein. O transumanismo \\xe9 a \\xfaltima vers\\xe3o dessa hist\\xf3ria. S\\xe3o duas correntes: uma de usar implantes no corpo e expandir a sua capacidade de vis\\xe3o, for\\xe7a, etc. E tem essa vis\\xe3o de fic\\xe7\\xe3o cient\\xedfica de voc\\xea se transformar em uma nuvem de informa\\xe7\\xe3o transportada de m\\xe1quina em m\\xe1quina. N\\xe3o tem nada de cient\\xedfico nisso. O que me interessa \\xe9 o seguinte: viva a vida da melhor forma enquanto voc\\xea est\\xe1 vivo. N\\xe3o tente tecer hist\\xf3rias de imortalidade porque isso n\\xe3o vai acontecer. O segredo da vida \\xe9 viv\\xea-la da maneira mais intensa e para isso \\xe9 preciso se alimentar bem, exercitar o corpo e a mente. Leia, escreva, jogue xadrez, aprenda uma l\\xedngua nova para continuar sempre alerta. Esse \\xe9 o segredo do transumanismo, ser cada vez mais humano, aqui.'