Luiza Trajano fala sobre sucesso, poder e familia

Published: June 12, 2020, 11 p.m.

b'Uma das maiores empresárias do país, ela garante que seu crescimento não foi movido pelo dinheiro\\n \\n Uma das figuras mais importantes do cen\\xe1rio corporativo brasileiro, a empres\\xe1ria Luiza Helena Trajano come\\xe7ou a trabalhar aos 12 anos. Filha \\xfanica, ela passava as f\\xe9rias escolares atendendo no balc\\xe3o da loja de eletrodom\\xe9sticos dos tios em Franca, no interior de S\\xe3o Paulo, cidade onde nasceu. Essa loja era o Magazine Luiza, onde fez carreira at\\xe9 chegar \\xe0 presid\\xeancia, em 1991. Sob sua administra\\xe7\\xe3o, a rede varejista expandiu e hoje tem mais de mil lojas f\\xedsicas espalhadas pelo pa\\xeds, al\\xe9m de uma opera\\xe7\\xe3o pujante no e-commerce.\\nLuiza \\xe9 tamb\\xe9m uma das vozes que defendem um mundo mais igualit\\xe1rio. Al\\xe9m de a\\xe7\\xf5es e campanhas do Magazine Luiza contra a viol\\xeancia dom\\xe9stica, ela fundou em 2013 o grupo chamado Mulheres do Brasil, que hoje re\\xfane mais de 40 mil mulheres em torno de pautas como educa\\xe7\\xe3o, empreendedorismo e a valoriza\\xe7\\xe3o da mulher em espa\\xe7os de poder. Em conversa com Paulo Lima no Trip Fm, ela relembra sua trajet\\xf3ria e fala sobre dinheiro, pandemia e os aprendizados como executiva e m\\xe3e. Ou\\xe7a o programa no Spotify, no play abaixo ou leia a entrevista completa.\\xa0\\n[AUDIO=https://p.audio.uol.com.br/trip/2020/6/luizatrajano.mp3; IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/06/5ee39b8203a91/luiza-trajano-magazine-luiza-magalu-quarentena-covid-tripfm-ma.jpg]\\nTrip.\\xa0Luiza, voc\\xea come\\xe7ou mesmo a trabalhar com 12 anos? Como \\xe9 que era a sua fam\\xedlia? Como foi a sua inf\\xe2ncia?\\nLuiza Trajano.\\xa0Eu sou filha \\xfanica. Com 12 anos eu gostava muito de dar presente, at\\xe9 por estar sozinha. A\\xed minha m\\xe3e falou assim: "Vai trabalhar, ganha e d\\xe1 o presente". Ent\\xe3o foi s\\xf3 em dezembro que trabalhei com essa idade. Mas com 17 anos eu me formei e fui trabalhar na loja. A minha fam\\xedlia veio de uma fam\\xedlia simples. Eu j\\xe1 tive uma vida melhor, n\\xe3o precisei trabalhar para estudar. Mas eu gostava mesmo, e entrei muito novinha, j\\xe1 era vocacionada para isso. Com 12 anos eu comecei a trabalhar para poder dar presentes, e foi uma experi\\xeancia muito legal, porque eu n\\xe3o s\\xf3 dei presentes como descobri tamb\\xe9m o meu talento para lidar com pessoas, atender. Interessante que todos meus primos, meus filhos, e agora minha neta, que fez 13 anos nesta semana, foram \\xe0 loja em dezembro trabalhar durante 25 dias antes de entrar de f\\xe9rias, e tamb\\xe9m foi para comprar presentes para dar para a fam\\xedlia. \\xc9\\xa0 legal poder repetir essa hist\\xf3ria. Quando voc\\xea tem uma experi\\xeancia positiva, e voc\\xea gosta da experi\\xeancia e faz bem, inspira as pessoas. Eu nunca pensei que a minha neta fosse viver essa experi\\xeancia e fosse at\\xe9 dar presente.\\xa0\\nPor que voc\\xea foi estudar Direito? Eu tamb\\xe9m estudei Direito e me fa\\xe7o essa pergunta at\\xe9 hoje. Fui trabalhar em comunica\\xe7\\xe3o, nunca exerci o direito. Queria fazer essa pergunta para a minha colega bacharel.\\xa0No fundo eu queria fazer psicologia, mas Franca n\\xe3o tinha na \\xe9poca, e Direito era uma boa faculdade. N\\xe3o me arrependo de ter feito, porque voc\\xea aprende muita coisa, mas eu nunca exerci. Eu fiz administra\\xe7\\xe3o junto, pelo menos durante tr\\xeas, quatro anos, eu nem me formei. Voc\\xea podia fazer os dois na \\xe9poca. Mas eu venho de uma fam\\xedlia empreendedora, ent\\xe3o eu respeito muito meus colegas do Direito porque eu sou formada, mas eles sabem muito mais do que eu.\\nVoc\\xea \\xe9 uma das mulheres CEOs pioneiras. At\\xe9 hoje s\\xe3o poucas no mundo, e aqui no Brasil \\xe9 uma porcentagem \\xednfima de mulheres na presid\\xeancia ou na diretoria das empresas. Como foi para voc\\xea, mesmo estando em uma empresa familiar, assumir a presid\\xeancia do grupo? Voc\\xea teve que se provar mais que os outros, principalmente do que os homens, como executiva?\\xa0\\xa0Aconteceu que eu j\\xe1 era de direito de fato. Eu fui vendedora, gerente de loja, encarregada, e depois compradora. Eu fiz toda uma carreira e cheguei \\xe0 presid\\xeancia em 1991. A minha fam\\xedlia \\xe9 mais empreendedora do que gestora, e eu nunca escutei n\\xe3o, aprendi demais. Em 91 eu passei a ser de direito, muda muito. Falando de ser mulher agora, eu fui criada numa fam\\xedlia de mulheres fortes que trabalhavam. Isso ajuda muito, para mim e para a minha \\xe9poca. A minha tia, que fundou a empresa, que sempre lutou muito, e acho que ela foi uma divis\\xf3ria da fam\\xedlia, o antes e o depois, em rela\\xe7\\xe3o ao patrim\\xf4nio. Antigamente, na cidade tinham aquelas lojas muito tradicionais, com v\\xe1rios setores: constru\\xe7\\xe3o, presente, tecidos, que era mais forte do que confec\\xe7\\xe3o. E ela tomava conta do setor de presentes. Tomava conta t\\xe3o bem, ganhava tantos pr\\xeamios, que ela nunca entendeu eu ter que dar curso para os funcion\\xe1rios, porque ela nunca precisou de curso e fazia isso muito bem. Depois ela casou, se mudou de Franca para S\\xe3o Carlos. O sonho dela era comprar uma loja para gerar emprego para a fam\\xedlia e em frente onde ela trabalhava tinha uma loja \\xe0 venda chamada "A Cristaleira". E a\\xed ela comprou, com muito sacrif\\xedcio, s\\xf3 tinha o dinheiro da presta\\xe7\\xe3o.\\nE olha como a gente tem um sangue de marketing: como ela era muito conhecida, fez um concurso na \\xfanica r\\xe1dio que tinha na cidade nessa \\xe9poca, t\\xf4 falando do interior. Ela fez um concurso p\\xfablico para escolher o nome da loja e o povo escolheu o Magazine Luiza, por causa do nome dela. Ent\\xe3o eu fui criada nesse esp\\xedrito de mulher trabalhando. Minha tia tinha uma intelig\\xeancia empreendedora maravilhosa, at\\xe9 hoje ela saca muita coisa. E ela falava assim: "N\\xe3o tem crise". Se uma loja n\\xe3o estava bem, ela falava: "Troca o gerente". Mas ela n\\xe3o tinha muita intelig\\xeancia emocional, n\\xe3o entendia como eu tinha que dar curso para o pessoal tratar o cliente bem, foi mais dif\\xedcil para mim essa parte. Mas ela era muito esperta, muito inteligente. E eu tive uma m\\xe3e \\u2013 que infelizmente morreu quando eu tinha trinta e poucos anos, suficiente para eu ter os 3 filhos \\u2013 que tinha muita intelig\\xeancia emocional, muita. Ent\\xe3o eu tive a oportunidade de ter duas mulheres fortes, eu sou uma privilegiada. Mas hoje eu percebo que o machismo \\xe9 muito arraigado. Eu falo para os meus amigos, falo para os homens que tentam hoje entender isso (e s\\xe3o muitos) que \\xe9 uma coisa muito arraigada. Eu sou totalmente a favor da jun\\xe7\\xe3o masculina e feminina. N\\xe3o teria criado tr\\xeas filhos adolescentes trabalhando fora se n\\xe3o fosse a for\\xe7a masculina do meu marido. Nunca deixei de dar minha vis\\xe3o feminina, sou super feminina para administrar. Eu choro, eu intuo, eu cuido das pessoas. Mas respeito muito o masculino, e falo para eles: "Voc\\xeas t\\xeam filha, voc\\xeas v\\xe3o ter neta. A conquista ainda \\xe9 muito grande, tem muita coisa para se conquistar, ent\\xe3o nos ajude aqui".\\nLEIA TAMB\\xc9M:Dizer que a mulher \\u201clidera como um homem\\u201d n\\xe3o \\xe9 elogio. Raj Sisodia, um dos fundadores do Capitalismo Consciente, defende o equil\\xedbrio entre valores masculinos e femininos nos neg\\xf3cios\\nOutro preconceito aqui no Brasil que \\xe9 muito forte \\xe9 a gordofobia. Alguns anos atr\\xe1s voc\\xea passou por um processo de reeduca\\xe7\\xe3o alimentar e por uma cirurgia bari\\xe1trica, e mudou bastante a sua constitui\\xe7\\xe3o corporal nos \\xfaltimos anos. Queria saber como \\xe9 que foi isso na sua vida.\\xa0Eu sempre fui muito magra na \\xe9poca de adolescente, que talvez voc\\xea sofra mais com isso. Me casei com 49 quilos. Depois eu tive um hipotireoidismo por tens\\xe3o, por estresse, engordei e n\\xe3o conseguia emagrecer. Tanto \\xe9 que eu n\\xe3o sou magrinha, eu queria at\\xe9 ser hoje, mas eu sou mais cheia do que magrinha. Eu n\\xe3o tive adolesc\\xeancia assim, eu n\\xe3o casei gorda, mas se tivesse tamb\\xe9m, eu tirava de letra. Eu n\\xe3o sei explicar, sou uma pessoa que tenho uma autoestima muito legal, voc\\xea pode falar qualquer defeito meu que eu n\\xe3o levo pelo lado pessoal. Mas, por outro lado, eu entendo o que uma gordura faz, o que uma discrimina\\xe7\\xe3o faz.\\xa0\\nJ\\xe1 faz algum tempo que voc\\xea come\\xe7ou a direcionar a sua energia e o seu dinheiro para o outro. Al\\xe9m da gera\\xe7\\xe3o de milhares de empregos, eu estou falando de pegar a sua grana e o seu tempo e colocar para funcionar a servi\\xe7o de quem n\\xe3o tem nada. O que tem sido observado de fato \\xe9 que a cultura de doa\\xe7\\xe3o deu uma acordada nas \\xfaltimas 12 semanas. Tem n\\xfameros que mostram que o Brasil doou mais em seis semanas do que em dois anos. A desigualdade, as quest\\xf5es raciais, est\\xe3o a\\xed h\\xe1 s\\xe9culos. Por que a elite financeira brasileira precisou desse trauma de uma pandemia, dessa mortalidade em massa, para perceber que tinha o outro passando fome e que o negro est\\xe1 numa situa\\xe7\\xe3o de desvantagem gigantesca? Ser\\xe1 que a gente n\\xe3o enxergava isso antes?\\xa0Eu vou muito para o sert\\xe3o com os Amigos do Bem, ent\\xe3o faz 5 anos que eu sei o que \\xe9 n\\xe3o ter \\xe1gua. O que aconteceu, e eu n\\xe3o estou aqui defendendo, \\xe9 que nas empresas brasileiras voc\\xea trabalha com cren\\xe7as. Se voc\\xea analisar como se tinha valor at\\xe9 pouco tempo na Bolsa de Valores, era atrav\\xe9s de resultado a curto prazo. Em 2011, o Magazine entrou na Bolsa, e n\\xf3s j\\xe1 \\xe9ramos a melhor empresa para se trabalhar h\\xe1 10 anos. Em road shows eu at\\xe9 falava: "Somos a melhor empresa para se trabalhar, a gente cuida dos funcion\\xe1rios". E isso n\\xe3o valia um real a mais a nossa empresa. Eu continuava porque acreditava nisso. A epidemia acelerou algumas coisas que estavam paradas, que estavam come\\xe7ando. Depois que a Bolsa teve muita quebra de resultado no mundo inteiro, que come\\xe7ou com o Banco Lemann, depois foi consultoria famosa, ela come\\xe7ou a rever seus valores.\\nAs empresas de fam\\xedlia passaram a ser mais valorizadas. As \\xe1reas de Recursos Humanos eram um departamento pessoal l\\xe1 no cantinho, que o presidente n\\xe3o tinha nem acesso. Hoje voc\\xea percebe que de 3 anos pra c\\xe1 toda diretoria de RH est\\xe1 diretamente com o seu CEO. Estava acontecendo uma mudan\\xe7a. Voc\\xea percebia que, para voc\\xea entrar em uma empresa, n\\xe3o era mais s\\xf3 voc\\xea estudar numa faculdade grande. Isso era importante, mas se descobriu que as pessoas eram contratadas pelas capacidades t\\xe9cnicas e eram mandadas embora pelo comportamento. J\\xe1 come\\xe7aram a mudar isso. As empresas j\\xe1 estavam fazendo o teste cego, e da\\xed davam mais oportunidades. O que eu quero dizer \\xe9 simples: os empres\\xe1rios tiveram muitas crises tamb\\xe9m. Muitas crises, uma atr\\xe1s da outra: cortava zero, infla\\xe7\\xe3o n\\xe3o sei quanto, juros altos, burocracia do pa\\xeds, e eles tinham que sobreviver. Eu n\\xe3o estou aqui defendendo, estou dizendo que essa cren\\xe7a foi formando neles um tipo de ego\\xedsmo como \\xe9 visto fora hoje, mas que era a sobreviv\\xeancia. Ent\\xe3o eles achavam que sobrevivendo nesses momentos, gerando emprego para toda a sua empresa, j\\xe1 faziam o suficiente. Porque era dia e noite de preocupa\\xe7\\xe3o. N\\xe3o estou querendo justificar, eu estou querendo explicar historicamente o que levou a isso.\\nAgora o que aconteceu: todo o mundo parou. E n\\xf3s tivemos que ficar em casa. E a\\xed come\\xe7aram a ver que as pessoas que trabalhavam para voc\\xea n\\xe3o podiam vir, voc\\xea tinha que fazer o servi\\xe7o de casa. Ent\\xe3o essa epidemia nos confrontou com aquilo que muitas vezes o tempo e a sociedade iam nos envolvendo, e n\\xe3o dava para ver. Na hora que voc\\xea para, voc\\xea v\\xea o tanto que voc\\xea estava fazendo mal para a natureza, que o c\\xe9u de S\\xe3o Paulo est\\xe1 lindo. Voc\\xea v\\xea o tanto que voc\\xea gasta de g\\xe1s carb\\xf4nico. Voc\\xea v\\xea o tanto que aquela pessoa que te servia dentro de casa era \\xfatil. O que eu estou tentando falar \\xe9 que n\\xe3o adianta ficar analisando o passado e fazendo um diagn\\xf3stico, a gente tem que agir.\\nO Mulheres do Brasil tem v\\xe1rios comit\\xeas, um \\xe9 de sa\\xfade. Eu j\\xe1 estudava h\\xe1 tr\\xeas anos que o SUS \\xe9 o melhor sistema de sa\\xfade que existe no mundo, foi tirado da Inglaterra. Eu falava isso nas minhas palestras todo dia. Se voc\\xea v\\xea os pilares do SUS, e n\\xf3s vamos fazer uma campanha para mostrar, voc\\xea fica impressionado. Temos que ter orgulho. Mas uma coisa \\xe9 n\\xe3o ter gest\\xe3o. E quando n\\xe3o tem gest\\xe3o a gente come\\xe7a a cobrar algu\\xe9m e a se desfazer do que tem, a falar :"L\\xe1 n\\xe3o presta". N\\xf3s vamos sair com uma campanha muito forte do SUS. Somos hoje quase 50 mil mulheres e vamos explicar o que \\xe9 o SUS. N\\xf3s estamos vendo os gargalos, o porque n\\xe3o funciona, e com 50, 60 mil pessoas atr\\xe1s, n\\xf3s vamos ser ouvidas. N\\xf3s vamos ser ouvidas porque \\xe9 um pa\\xeds democr\\xe1tico.\\nHoje o CEO da empresa \\xe9 o seu filho Frederico, que j\\xe1 est\\xe1 h\\xe1 alguns anos \\xe0 frente da companhia. Na gest\\xe3o dele foi consolidada a que foi considerada uma das transi\\xe7\\xf5es mais bem feitas de uma empresa eminentemente f\\xedsica para o mundo virtual. \\xc9 o sonho de todos os varejistas, e voc\\xeas fizeram, e parece que o papel do Fred foi muito importante. J\\xe1 vi empresas familiares darem muito certo, mas tem milh\\xf5es de hist\\xf3rias de empresas que quebram por causa de briga. Como \\xe9 ver o seu filho assumindo? D\\xe1 orgulho ou um pouco de ci\\xfame tamb\\xe9m?\\xa0Primeiro tenho que dizer que a maior riqueza \\xe9 ver filho encaminhado. Em segundo, tenho que dizer que nunca falei pra ele trabalhar na empresa e nunca falei para ele ser presidente de lugar nenhum. Sim, todo mundo acha que eu bati ele no computador e ele saiu aqui. Tanto eu quanto meu marido sempre demos um exemplo de solidariedade, de sair da mesa e dizer "muito obrigado", de achar que o dinheiro n\\xe3o compra nada, que voc\\xea tem que pegar uma coisa e levar at\\xe9 o fim. Eu tenho tr\\xeas filhos. Uma \\xe9 chefe de cozinha, que resgatou o Brasil na gastronomia, a outra \\xe9 pedagoga, fil\\xf3sofa, muito comprometida, que se casou e mora em Portugal. A maior fortuna que eu tenho s\\xe3o meus filhos compromissados. O Frederico realmente entrou na cedo na FGV, trabalhou fora, e ele quis vir pro Magazine.\\xa0\\nN\\xf3s somos uma das primeiras e \\xfanicas empresas no mundo digital que nasceu do anal\\xf3gico. Nossos grandes concorrentes, Amazon, Alibaba, j\\xe1 nasceram digitais. E ningu\\xe9m acreditava que a gente ia conseguir fazer isso. N\\xf3s entramos na bolsa em 2011 e nossa empresa valia 4 bilh\\xf5es de reais. A nossa empresa chegou a valer 400 milh\\xf5es porque a gente n\\xe3o separava o "ponto com". E a\\xed sim, quem comprou naquela \\xe9poca ganhou muito dinheiro, e quase ningu\\xe9m comprou, s\\xf3 teve um investidor que investiu 5%. Eu e a minha tia que compr\\xe1vamos. Mas eu falo que a gente conseguiu isso porque o prop\\xf3sito da fam\\xedlia n\\xe3o era ganhar dinheiro, era gerar emprego. A minha fam\\xedlia nunca ligou. E eu n\\xe3o passei pro Frederico. Quando eu n\\xe3o quis mais ser CEO eu passei para o Marcelo Silva, e ele que passou para o Frederico. Nada de carta marcada, pois a empresa naquela \\xe9poca j\\xe1 estava na Bolsa. J\\xe1 t\\xednhamos um s\\xf3cio estrangeiro, que tinha 13%, e um s\\xf3cio que era banqueiro, o Unibanco, que foi s\\xf3cio do nosso credi\\xe1rio, o Luizacred. A gente j\\xe1 tinha uma empresa que era familiar, e a fam\\xedlia ainda tem 60% empresa, mas assim, \\xe9 uma empresa super profissional. Primeiro vem o respeito que a gente tem com a institui\\xe7\\xe3o. A nossa fam\\xedlia \\xe9 pequena, mas ela tem respeito \\xe0 institui\\xe7\\xe3o.\\nDesde que eu sou pequenininha, a gente nunca comprou e ficou devendo, a gente nunca misturou gavetinha. No interior a gente fala "n\\xe3o mate a galinha de ovos de ouro", ent\\xe3o a gente sempre teve respeito. E o Frederico veio porque ele quis, eu tenho um sobrinho que \\xe9 acionista e tamb\\xe9m t\\xe1 no Magazine. Eu venho de uma fam\\xedlia que simplicidade \\xe9 forma de vida mesmo. Falei que minha m\\xe3e era muito inteligente e quando eu tive o primeiro filho ela disse: "Minha filha, n\\xe3o pegue culpa porque n\\xe3o tem receita". Tem m\\xe3e que trabalha fora e tem filhos \\xf3timos e outras t\\xeam filhos p\\xe9ssimos. Se tivesse receita, largava tudo e fazia aquela receitinha, que nem tem nada melhor. Ent\\xe3o voc\\xea n\\xe3o pega culpa, at\\xe9 porque tire as suas expectativas: se ele for ruim \\xe9 porque voc\\xea trabalhou, se foi bom \\xe9 porque que Deus ajudou. Voc\\xea n\\xe3o vai ter m\\xe9rito nenhum, e eu nunca esperei ter m\\xe9rito.\\xa0\\nLEIA TAMB\\xc9M:Thelminha, B\\xe1rbara Paz, Mi\\xe1 Mello, Lell\\xea e Amara Moira escrevem cartas para suas m\\xe3es e dividem a profundidade dessas rela\\xe7\\xf5es\\nO empresariado hoje, como todo o Brasil, est\\xe1 meio dividido. E isso tem um aspecto bastante tenso e negativo, a tal da polariza\\xe7\\xe3o. Qual \\xe9 a sua avalia\\xe7\\xe3o como empres\\xe1ria super bem sucedida sobre a condu\\xe7\\xe3o do pa\\xeds no governo atual?\\xa0Eu adoro a democracia e, quando voc\\xea gosta de democracia, voc\\xea tem que aceitar quem o povo votou. O que eu tenho falado \\xe9 o seguinte: eu n\\xe3o estou aceitando nada que n\\xe3o seja uni\\xe3o, tanto de um lado quanto do outro. Eu acho que, nesse momento, tanto oposi\\xe7\\xe3o como situa\\xe7\\xe3o tinha que estar unida. Nesse momento n\\xf3s temos a crise da sa\\xfade, n\\xf3s temos uma crise econ\\xf4mica que n\\xe3o \\xe9 f\\xe1cil, e n\\xf3s temos uma inseguran\\xe7a. Estou vendo em Portugal, onde mora uma filha minha, que eles se uniram, oposi\\xe7\\xe3o e n\\xe3o. Eu falo: "Vamos dar um tempo". Os outros me falam: "Luiza, \\xe9 a democracia". Ningu\\xe9m est\\xe1 falando para n\\xe3o ter pontos diferentes, eu adoro a democracia. Mas a gente tem que se unir agora contra um \\xfanico inimigo, que se chama v\\xedrus. A gente n\\xe3o pode mat\\xe1-lo e n\\xe3o pode pedir para ele parar. O que eu estou tentando fazer agora \\xe9 a uni\\xe3o. Vamos amadurecer nesse momento e vamos nos unir.\\xa0\\n[QUOTE=1091]\\nSegundo seu racioc\\xednio a gente tem que se unir principal e fundamentalmente contra esse inimigo que \\xe9 o coronav\\xedrus. Nesse momento temos o terceiro Ministro da Sa\\xfade durante a pandemia, em apenas tr\\xeas meses. E\\xa0 houve a quest\\xe3o da oculta\\xe7\\xe3o dos n\\xfameros de \\xf3bitos. Voc\\xea acha que est\\xe1 sendo razo\\xe1vel essa gest\\xe3o da pandemia?\\xa0Eu n\\xe3o quero ficar falando se est\\xe1 razo\\xe1vel ou n\\xe3o. Eu acho que tinha que ter uma uni\\xe3o. O mundo inteiro e o Brasil, com consist\\xeancia, exigiram os dados e j\\xe1 passou a ter de novo. O que eu quero dizer \\xe9 que nenhum salvador da p\\xe1tria vai salvar o Brasil. \\xc9 a sociedade civil organizada, sem paix\\xf5es, para fazer o Brasil que precisamos, e por isso que n\\xf3s temos o grupo Mulheres do Brasil h\\xe1 seis anos. Os outros falam: "Luiza, vai se candidatar", mas nunca me filiei a partido nenhum. Sou uma pessoa apaixonada pelo Brasil. O Magazine Luiza h\\xe1 20 anos tem, toda segunda-feira, nas suas 1100 unidades, um rito que canta o hino nacional. Quem n\\xe3o quiser cantar n\\xe3o canta, mas a gente canta. Acho que nesse momento n\\xe3o adianta eu ficar fulminando. \\xc9 importante que saiam os dados, e tamb\\xe9m que saiam certos. \\xc9 importante que todo mundo saiba a verdade, a imprensa se una. Nesse momento todo mundo junto, qualquer diverg\\xeancia eu estou sendo contra.\\nCom rela\\xe7\\xe3o ao dinheiro, voc\\xea j\\xe1 passou por fases de ter pouco dinheiro, de ter muito dinheiro, de ter mais ou menos. Como \\xe9 que voc\\xea lida com essa energia do dinheiro? O que \\xe9 o dinheiro e para que serve o dinheiro?\\xa0O dinheiro para mim ele n\\xe3o \\xe9 nem muito, nem mais, ele \\xe9 conseq\\xfc\\xeancia. A \\xfanica coisa que eu tenho que dizer \\xe9 que eu morro de medo de poder e de dinheiro, mas n\\xe3o no sentido de ter muito. O poder e o dinheiro s\\xe3o um mosquitinho que te morde, e voc\\xea n\\xe3o tem nada, voc\\xea est\\xe1. Eu nunca tive vontade de ter mais, primeiro porque eu n\\xe3o passei necessidade. Eu estudei em col\\xe9gio. Eu n\\xe3o tinha vontade de comer uma coisa e n\\xe3o comia. Eu sempre tive a vontade de acordo com o que eu podia.\\xa0Quando nossas a\\xe7\\xf5es valiam 400 mil reais, ningu\\xe9m da fam\\xedlia nunca cobrou o Marcelo, como tamb\\xe9m agora parece que valem 90, 100 bilh\\xf5es, e ningu\\xe9m fala nada. N\\xf3s fizemos um road show para colocar dinheiro na empresa, e a fam\\xedlia ficou com uma porcentagem. Ningu\\xe9m pegou o dinheiro. A gente deixou l\\xe1 aplicado e foi desse dinheiro que a gente doou agora. N\\xe3o estou falando que a gente n\\xe3o gosta, mas ele \\xe9 para n\\xf3s uma coisa comum. Eu acho o poder at\\xe9 pior que o dinheiro, para te falar a verdade, porque o poder voc\\xea usufrui. O dinheiro, quando voc\\xea j\\xe1 tem casa, tem carro bom, ele melhora um pouquinho a sua vida, mas ele n\\xe3o muda a sua vida. E o poder te d\\xe1 uma coisa muito s\\xe9ria. As pessoas te tratam diferente, s\\xf3 falam o que voc\\xea quer ouvir. Eu fiz um pacto com Deus. Toda vez que eu tivesse subindo no salto alto do poder, era para ele me tirar o tapete, e ele me tira. Agora n\\xe3o, que eu j\\xe1 sou muito madura, mas ele me tira de uma maneira que eu falo "nossa!". Gra\\xe7as a Deus, hoje, tanto os meus filhos quanto a fam\\xedlia lidam muito bem isso. O dinheiro para mim ele \\xe9 uma consequ\\xeancia. N\\xe3o que ele n\\xe3o seja bom. Agora ele precisa ser dividido, porque se voc\\xea tem ele s\\xf3 para voc\\xea, acho que deve ser uma coisa muito triste. Na minha fam\\xedlia, o dinheiro serve para multiplicar. N\\xf3s somos a empresa que mais gerou emprego na crise. A gente gerou 400, 500, 600 empregos por m\\xeas, at\\xe9 vir a pandemia. Ningu\\xe9m tem nada, voc\\xea est\\xe1. Quando isso incorpora dentro de voc\\xea, voc\\xea muda a vida. Eu posso estar hoje com sa\\xfade, amanh\\xe3 eu n\\xe3o sei. Eu posso estar com dinheiro, daqui 30 dias eu n\\xe3o sei se eu tenho mais. Porque a Bolsa \\xe9 assim n\\xe9, a gente nem olha esse dinheiro. Esses dias me perguntaram e eu falei: "\\xc9 papel, gente". Hoje eu tenho muito, daqui a pouquinho ela cai, depois ela sobe de novo.\\nLEIA TAMB\\xc9M:Tr\\xeas mulheres que falam sobre finan\\xe7as nas redes sociais ensinam como cuidar melhor da vida financeira\\nCom todo o drama, toda a trag\\xe9dia e todo o sofrimento, tem um aspecto de aprendizado muito positivo dessa pandemia. Voc\\xea citou algumas coisas com as quais a gente est\\xe1 sendo confrontado. Uma delas \\xe9 a nossa fragilidade. A gente agora est\\xe1 vivendo bem mais perto da morte. As pessoas t\\xeam o p\\xe9ssimo h\\xe1bito de achar que isso s\\xf3 acontece com os outros, achar que isso nunca vai acontecer com voc\\xea, mas de repente ela ficou muito pertinho. Voc\\xea tem medo de morrer?\\xa0Eu era muito amiga \\xedntima do Gilberto Dimenstein [jornalista, faleceu no dia 29 de maio de 2020]. Sofri muito, fico at\\xe9 emocionada. Eu sou uma pessoa que n\\xe3o tenho muita teoria da minha vida, tenho mais a\\xe7\\xe3o. E ele me falou uma coisa que eu acho que \\xe9 o que eu sempre tive medo. Eu tive muito mais medo de perder meu prop\\xf3sito do que da morte. E da empresa perder o prop\\xf3sito dela, aquela empresa do interior, que faz para os outros o que eu gostaria fizesse, que erra e que pede desculpas. Hoje eu tenho certeza que eu posso morrer tranquila, porque o que esses meninos fizeram, eles cuidaram da sa\\xfade dos funcion\\xe1rios como ningu\\xe9m. Eles t\\xeam dez m\\xe9dicos de plant\\xe3o. O Frederico tem uma equipe cuidando da sa\\xfade, criaram a telemedicina. Eles cuidaram do humano melhor do que eu cuidaria. Olha, para eu falar isso... Ent\\xe3o assim, eu estou muito feliz, pois no momento que eles estavam bem, com dinheiro, com o caixa, na frente da concorr\\xeancia, eles pararam tudo. Trabalharam dia e noite para criar coisas para os aut\\xf4nomos, como o parceiro Magalu. N\\xe3o dormiram sobre a vit\\xf3ria e cuidaram da sa\\xfade, da gest\\xe3o e n\\xe3o mandaram ningu\\xe9m embora. At\\xe9 agora n\\xf3s n\\xe3o mandamos ningu\\xe9m embora. Se o Gilberto estivesse aqui agora, eu falava: "Gilberto, o povo t\\xe1 me questionando muito de dinheiro, o que voc\\xea acha que eu sou do dinheiro?". Sobre morte, ele me falou uma vez: "N\\xf3s temos muito mais medo de morrer o prop\\xf3sito do que de morrer a vida". Eu me emociono muito, era uma pessoa muito importante na minha vida.\\nAproveito para fazer uma homenagem tamb\\xe9m \\xe0 mem\\xf3ria do Gilberto Dimenstein, que j\\xe1 teve aqui no programa. Um colega nosso, jornalista, e tamb\\xe9m como voc\\xea, dedicou bastante tempo e energia para pensar mais no outro. Que ele esteja descansando em paz.'