Leo Jaime: Fui cancelado por minha forma fisica

Published: Feb. 12, 2021, 11 p.m.

b'O cantor, ator e jornalista viu as portas se fecharem por causa da gordofobia, mas aprendeu na porrada: "Soube me levantar"\\n \\n Leo Jaime foi cancelado antes mesmo do cancelamento ter nome. "Nunca quis ser gal\\xe3, mas me colocaram l\\xe1 e em seguida fecharam as portas para mim porque eu estava engordando e com ar decadente com trinta e poucos anos", conta o m\\xfasico, ator e jornalista, que aos 20 anos j\\xe1 tinha sucessos tocando nas r\\xe1dios de todo o Brasil, mas viu tudo desaparecer quando come\\xe7ou a ganhar peso. \\u201cMinha personalidade deve ser maravilhosa, porque as pessoas so\\u0301 falam da minha forma fi\\u0301sica. Eu n\\xe3o conseguia marcar uma reuni\\xe3o, ningu\\xe9m me convidava para nada, nenhum empres\\xe1rio aceitava me empresariar. Que a situa\\xe7\\xe3o \\xe9 essa? Completamente cancelado\\u201d.\\n[VIDEO=https://www.youtube.com/embed/NJsRiFPhAbA; CREDITS=; LEGEND=; IMAGE=https://img.youtube.com/vi/NJsRiFPhAbA/sddefault.jpg]\\nFoi s\\xf3 quando surgiram os blogs e as primeiras redes sociais \\u2013 lembra do Orkut? \\u2013 que Leo restabeleceu\\xa0contato com seu p\\xfablico e conseguiu recuperar espa\\xe7o na m\\xeddia e no showbiz. "Foi o que me salvou", conta. Mas ele aprendeu, na porrada, que respeito e toler\\xe2ncia n\\xe3o s\\xe3o negoci\\xe1veis. "Nenhuma raz\\xe3o te d\\xe1 o direito de ser cruel, escroto ou mesquinho sem raz\\xe3o nenhuma", diz.\\xa0"O Big Brother espelha isso porque o que voc\\xea v\\xea s\\xe3o as pessoas linchando os linchadores".\\xa0\\xa0\\nNo papo com a Trip, Leo Jaime fala sobre gordofobia, sucesso, zona de conforto \\u2013 "o que \\xe9 isso? \\xe9 de passar no cabelo?" \\u2013 e a falta de grana que enfrentou no come\\xe7o da carreira. "Eu batia na porta do Cazuza quando estava sem comer", conta. "Foi muito duro".\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2021/02/60254344d0e24/946x946x960x960x-6x-6/leo-jaime-cantor-ator-compositor-trip-fm-pod.jpg; CREDITS=; LEGEND=]\\nTrip. A gente est\\xe1 vendo esse Big Brother exacerbando esse neg\\xf3cio de fama, de influenciadores e cancelamentos. O que \\xe9 essa fama? Por que as pessoas perseguem esse bicho?\\xa0\\xa0\\nLeo Jaime. Pois \\xe9, parece uma tara. Eu entendo que h\\xe1 uma coisa, e a\\xed \\xe9 bom a gente falar dos nossos pr\\xf3prios dem\\xf4nios. Em algum momento eu percebi que a aprova\\xe7\\xe3o alheia era, para mim, mais do que um reconhecimento do meu pr\\xf3prio valor, uma necessidade de aceita\\xe7\\xe3o, de endosso, como se a aprova\\xe7\\xe3o do outro me legitimasse. Eu acho que em parte, especialmente quando voc\\xea est\\xe1 querendo despontar, sair do anonimato e criar uma voz, criar um p\\xfablico, ser admirado pelo seu trabalho, tem toda uma coisa de vaidade que fica mexida nisso. Voc\\xea de certa forma pode ficar ref\\xe9m. Hoje a gente percebe que as pessoas que v\\xe3o se propor a uma carreira diante do p\\xfablico fazem m\\xeddia training, se preparam para isso. A gente n\\xe3o tinha a menor no\\xe7\\xe3o de como se fazia.\\xa0Eu lembro que no auge do sucesso a meta era comprar um XR3. N\\xe3o \\xe9 que ficava rico, se sa\\xeda da merda, s\\xf3. Hoje \\xe9 diferente, os caras compram um avi\\xe3o no primeiro ano e a\\xed tem que lidar com fortuna, com popularidade, com o julgamento do outro, etc. Eu me lembro que, depois de ter lan\\xe7ado um disco que fez muito sucesso, no seguinte eu sentia que as m\\xfasicas que eu escrevia eram como se tivessem 100 mil pessoas olhando por cima do meu ombro para ver cada frase que eu falei. A\\xed virou uma coisa de autoconsci\\xeancia, de se levar muito a s\\xe9rio, que \\xe9 muito desagrad\\xe1vel. Acreditar no personagem tamb\\xe9m \\xe9 muito bobo.\\nRespondendo \\xe0 sua primeira pergunta, eu fa\\xe7o muita coisa. Usando a frase do meu amigo Xico S\\xe1, \\u201co sapo n\\xe3o pula por boniteza, ele pula por necessidade\\u201d. Eu tive momentos de altos e baixos, tanto na minha carreira de jornalista quanto a minha carreira de m\\xfasico e na minha carreira de ator. Nunca foi muito f\\xe1cil, nunca foi muito simples, nunca foi cont\\xednuo, a n\\xe3o ser durante alguns anos que eu trabalhei no GNT. Eu vejo que a vida me deu boas oportunidades. Eu acho que devo ter acertado mais do que errei, mas errei muito. Soube me levantar e tive resili\\xeancia, e sobretudo n\\xe3o levei o personagem para cama.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2021/02/602541f351eb9/1040x1040x960x960x38x16/leo-jaime-cantor-ator-compositor-trip-fm-mo.jpg; CREDITS=; LEGEND=]\\nRevendo um pouco a sua hist\\xf3ria eu vi uma passagem que eu n\\xe3o tinha no meu radar, que numa \\xe9poca voc\\xea n\\xe3o tinha grana para comer. Que \\xe9poca foi essa?\\xa0Eu comecei a dar certo muito cedo, porque eu tinha 20 anos e tinha m\\xfasica tocando no r\\xe1dio. Mas o que isso rendia de dinheiro n\\xe3o pagava as minhas contas e eu estava num momento em que eu j\\xe1 achava que n\\xe3o devia mais trabalhar como vendedor de loja de roupa ou ser barman. Eu achava que iria ficar numa coisa art\\xedstica, mas tinha que dar aula de viol\\xe3o para ver se fazia o dinheiro que pagava as contas. Da hora em que eu cheguei no Rio at\\xe9 quando eu pude comprar minha primeira guitarra foram oito anos.\\xa0 E nesses oito anos a coisa foi complicada porque nem sempre eu tinha o que precisava. E ao mesmo tempo eu tinha quebrado o pau com a fam\\xedlia, perdi o suporte familiar porque eu tinha largado de estudar para seguir a carreira art\\xedstica sem plano B. Uma coisa que eu n\\xe3o gostaria que meu filho fizesse.\\nEu lembro do Ney Matogrosso, que conheci nessa \\xe9poca, falar: "Tem algumas pessoas que pagam o ingresso antes de ver o filme e \\xe9 o que est\\xe1 acontecendo com voc\\xea. Voc\\xea t\\xe1 pagando ingresso caro, provavelmente o show vai ser muito bom". De certa forma isso me serviu como guia durante esse processo todo. Eu acho que eu paguei para assistir, foi muito duro. Eu batia na porta do Cazuza quando estava sem comer. \\xc9 curioso que ele ficava puto por ter algu\\xe9m das rela\\xe7\\xf5es dele passando por esse tipo de situa\\xe7\\xe3o. Foi uma \\xe9poca.\\nVoc\\xea mencionou essa sua ruptura com a fam\\xedlia. Como \\xe9 a sua fam\\xedlia? Quem s\\xe3o? Onde est\\xe3o? De que se alimentam?\\xa0O meu nascimento marca a separa\\xe7\\xe3o dos meus pais, ent\\xe3o foram dois mundos muito separados.\\xa0 Na minha primeira inf\\xe2ncia morei na casa da minha m\\xe3e. Hoje quando eu vejo jogos do Atl\\xe9tico Goianiense, em Goi\\xe2nia, o est\\xe1dio do time se chama Ant\\xf4nio Accioly, que \\xe9 o nome do meu av\\xf4, pai da minha m\\xe3e. Ent\\xe3o ela vinha de uma fam\\xedlia boa, fam\\xedlia de meios, vamos dizer assim. E o meu pai veio de uma outra origem, do interior de Goi\\xe2nia. Eles casaram-se muitos jovens, mas o casamento foi curto. Eu era o terceiro filho, eles tinham 21 anos. Meu pai foi logo em seguida para S\\xe3o Paulo. Uma certa altura ele me levou para morar com ele, e a\\xed uma parte da inf\\xe2ncia morei em Goi\\xe2nia com minha m\\xe3e e outra parte em S\\xe3o Paulo com\\xa0 meu pai.\\xa0 Na adolesc\\xeancia eu voltei a Goi\\xe2nia e fui para Bras\\xedlia e de l\\xe1 para o Rio de Janeiro. Sa\\xed de casa cedo, com 16 anos, porque era uma estrutura familiar de pessoas que estavam amadurecendo, arrumando seu lugar no mundo e tiveram filhos muito cedo. Eu acho que foi um momento dif\\xedcil para todos n\\xf3s. Mas meu pai era um cara muito estudioso, bacana, uma figura que foi emblem\\xe1tica para mim. Apesar de termos tido essas rusgas na hora de decidir os caminhos, tamb\\xe9m ganhei a admira\\xe7\\xe3o dele por acreditar em mim, apostar no meu sonho e vingar.\\nD\\xe1 pra ver que voc\\xea tem uma base muito s\\xf3lida. N\\xe3o \\xe9 qualquer um que consegue fazer poesia, escrever m\\xfasica, ser colunista de jornal, fazer roteiro de filme. Tudo isso exige um preparo, uma dedica\\xe7\\xe3o ao mundo intelectual, digamos assim. Como \\xe9 que voc\\xea fez para reunir esse repert\\xf3rio?\\xa0Eu lia muito quando era adolescente. O fato de ler muito, de estudar muito tamb\\xe9m, de partir do princ\\xedpio que eu n\\xe3o sabia o suficiente, sempre me fez querer aprender. Ent\\xe3o eu estudei teatro, m\\xfasica, depois eu fui estudar jornalismo porque queria escrever. Eu lembro, por exemplo, as conversas com o Renato Russo. Ele planejava ser diretor de cinema e a gente tinha um grupo chamado Amantes da S\\xe9tima Arte. A gente se encontrava para ver filmes e debater os filmes. A ideia de ser cineasta me interessava porque me agradava contar hist\\xf3rias. Em algum momento a m\\xfasica parecia ser o melhor instrumento para a gente contar hist\\xf3rias, m\\xfasica pop, porque era o que estava acontecendo. Eu achava que o Cazuza seria escritor porque, no in\\xedcio, quando a gente se reunia eu mostrava as m\\xfasicas, ele mostrava coisas que ele escrevia. O meu primeiro flerte com as artes aconteceu no primeiro filme com atores que eu assisti, foi Help, dos Beatles. Eu queria fazer isso, era cinema, era m\\xfasica, era uma coisa que inclu\\xeda tudo. Eu fui estudar tudo: estudei dan\\xe7a na adolesc\\xeancia, fiz Conservat\\xf3rio de M\\xfasica. Eu aprendi a ler partitura numa escola p\\xfablica em S\\xe3o Paulo, no Brooklin, que tinha uma banda marcial e eu fui tocar na banda. Primeiro trompete, depois passei para bateria. \\xc9 um caminho todo de experimenta\\xe7\\xf5es. De certa forma tamb\\xe9m por n\\xe3o contar com as coisas garantidas. Eu ou\\xe7o muitas pessoas falando em zona de conforto, mas eu n\\xe3o fa\\xe7o a menor ideia do que \\xe9 isso. Onde fica? \\xc9 de passar no cabelo?\\xa0\\xa0\\nTem um outro tema que eu acho que \\xe9 bem interessante a gente abordar. Eu acho que voc\\xea talvez tenha sido uma das primeiras pessoas famosas, de visibilidade p\\xfablica, a encarar gordofobia. Por mais que j\\xe1 tenha falado desse tema, acho que ele \\xe9 extremamente educativo. Como voc\\xea lidou com essa viol\\xeancia? Boa parte da popula\\xe7\\xe3o n\\xe3o tem o corpo que a sociedade dita como sendo o corpo padr\\xe3o. A gente tem que ter esse debate. Ter o abd\\xf4men de tanquinho n\\xe3o existe, a natureza n\\xe3o oferece isso a ningu\\xe9m, isso \\xe9 uma constru\\xe7\\xe3o, que depende de gastos, de tempo de dedica\\xe7\\xe3o e de qu\\xedmica no corpo. Ningu\\xe9m precisa disso, n\\xe3o h\\xe1 necessidade, n\\xe3o h\\xe1 uma lei, Darwin n\\xe3o estabeleceu que o ser humano ter tanquinho \\xe9 melhor. Os preconceitos e as estruturas de julgamento existem, inclusive para fazer com que as pessoas sofram com seus pr\\xf3prios corpos e queiram gastar mais, consumindo produtos, suplementos, gin\\xe1stica, ao inv\\xe9s\\xa0vez de buscar ser feliz com o pr\\xf3prio corpo. Foi algo que eu tive que aprender na porrada.\\nEu diria para voc\\xea com toda certeza que foi por isso eu me afastei da ind\\xfastria de disco. Nunca quis ser gal\\xe3, mas me colocaram l\\xe1 e em seguida fecharam as portas para mim porque eu estava engordando e com ar decadente com trinta e poucos anos. Eu n\\xe3o sou modelo, nem que fosse, hoje a gente sabe que para ser modelo n\\xe3o precisa ter o corpo de atleta ol\\xedmpico. Eu era cantor e queria que a minha m\\xfasica fosse ouvida. Ningu\\xe9m ouvia uma fita demo, n\\xe3o queriam saber. E a explica\\xe7\\xe3o era: "voc\\xea tem que emagrecer, \\xe9 pro seu bem" ou "voc\\xea n\\xe3o est\\xe1 se cuidando". E o subtexto \\xe9: "\\xe9 muita falta de for\\xe7a de vontade", "a pessoa \\xe9 muito desleixada". As pessoas queriam me humilhar para o meu bem. Me paravam na rua, me chamavam de chupeta de baleia, falavam "toma vergonha na sua cara", "vai fazer exerc\\xedcio". E eu entendia que isso era muito mais valioso do que ter sido parceiro da Mar\\xedlia P\\xeara em um ano de temporada no teatro, ter feito a maior entrevista do Roberto Carlos at\\xe9 ent\\xe3o, ser chamado para cantar com o Chico Buarque no especial de fim de ano dele... Ent\\xe3o eu fui colecionando algumas vit\\xf3rias pessoais e pensando: engra\\xe7ado, elas s\\xe3o t\\xe3o pouco importantes pra essas pessoas, t\\xe3o menos importantes do que meu shape. Resolvi ent\\xe3o que n\\xe3o devia prestar aten\\xe7\\xe3o nessas pessoas.\\nEst\\xe1 rolando a edi\\xe7\\xe3o 2021 do Big Brother Brasil e teve at\\xe9 panela\\xe7o pedindo a expuls\\xe3o da Karol Conk\\xe1. Voc\\xea acabou de falar sobre um tipo de cancelamento, o precursor do cancelamento. Essa forma odiosa de suspender a pessoa, tirar a pessoa de circula\\xe7\\xe3o. Algo que eu acho que vale a gente comentar \\xe9 essa coisa pendular da sociedade: ou ela \\xe9 muito racista ou ela problematiza demais. Sempre uma coisa de extremos, que \\xe9 um pouco do que est\\xe1 acontecendo no BBB nesse momento.\\xa0Eu acho muito interessante porque tem uma coisa que est\\xe1 por tr\\xe1s disso tudo que est\\xe1 acontecendo que \\xe9 o linchamento. A barb\\xe1rie n\\xe3o \\xe9 negoci\\xe1vel, \\xe9 linchamento. Em nenhuma circunst\\xe2ncia \\xe9 aceit\\xe1vel que sejamos absolutamente intolerantes com os outros. S\\xf3 que a\\xed todo mundo quer linchar. E a\\xed vamos ver gente\\xa0 falando da Karol Conk\\xe1, que ela tem atitudes deplor\\xe1veis. Ent\\xe3o cancele as atitudes, e n\\xe3o autora da atitude, ela n\\xe3o \\xe9 uma coisa s\\xf3. Ela n\\xe3o \\xe9 s\\xf3 um ato, s\\xf3 uma fala, ela \\xe9 uma mir\\xedade de atitudes e por isso ela chegou onde ela chegou. Mas a\\xed volto pra mim. Ah, eu fiz isso, fiz aquilo, mas eu era barrigudo. E a\\xed eu n\\xe3o conseguia marcar uma reuni\\xe3o, nenhuma gravadora, n\\xe3o tinha nenhum contrato na televis\\xe3o, ningu\\xe9m me convidava para nada, nenhum empres\\xe1rio aceitava me empresariar. Que a situa\\xe7\\xe3o \\xe9 essa? Completamente cancelado. Eu fiz alguma cagada? Eu tra\\xed algu\\xe9m? Eu fui violento? Era uma coisa curiosa. Minha personalidade deve ser maravilhosa porque as pessoas s\\xf3 falam da minha forma f\\xedsica. S\\xf3 me cancelam por causa da minha forma f\\xedsica. Fato \\xe9 que eu consegui dar a volta por cima, criando um blog, o primeiro do Brasil. E comecei a ter uma comunica\\xe7\\xe3o direta com o p\\xfablico, e horizontal. Fui primeira pessoa do Orkut a ter mais de mil amigos. Comecei a ser chamado por empresas de comunica\\xe7\\xe3o para ser o piloto de novas ferramentas. Eu tamb\\xe9m fui um dos primeiros a ter 5 mil pessoas no perfil do Facebook. Ent\\xe3o esse estabelecimento de uma comunica\\xe7\\xe3o direta com o p\\xfablico, de igual para igual, foi o que me salvou. A\\xed a m\\xeddia percebeu. Comecei a tocar em outros bares, comecei a ser chamado para tocar na televis\\xe3o. Voltei para a m\\xeddia e para o showbiz, mas depois de alguns anos sem portas abertas. Ent\\xe3o sei o que \\xe9 o cancelamento. \\xc9\\xa0uma coisa horrorosa. Porque h\\xe1 um julgamento, n\\xe3o tem que ouvir o outro lado. Essa hist\\xf3ria de linchamento \\xe9 o que est\\xe1 em quest\\xe3o.\\nVoc\\xea pode ser intolerante com determinadas coisas, mas tem limites. A toler\\xe2ncia s\\xf3 serve para quem voc\\xea de fato detesta, ser tolerante com a pessoa que voc\\xea gosta n\\xe3o existe. Com quem voc\\xea gosta tem que ser afetuoso. A toler\\xe2ncia se d\\xe1. As pessoas acreditam naquilo que \\xe9 a verdade delas e a sua verdade n\\xe3o \\xe9 maior, desde que elas n\\xe3o queiram cancelar, linchar, te impedir de ser quem voc\\xea \\xe9, ter a sua sexualidade, sua religi\\xe3o, sua cren\\xe7a, sua ideologia. E a\\xed vem o que eu acho que \\xe9 fundamental: respeito e toler\\xe2ncia. O respeito \\xe9 a \\xfanica forma que a gente tem para conviver no mundo que tem 7 bilh\\xf5es de pessoas. E a gente n\\xe3o pode estabelecer que viol\\xeancia, brutalidade e linchamento sejam o melhor meio de negociar as coisas. Eu acho que a educa\\xe7\\xe3o, diplomacia e respeito s\\xe3o quest\\xf5es fundamentais para debater hoje em dia. O Big Brother espelha isso porque o que voc\\xea v\\xea s\\xe3o as pessoas linchando os linchadores. Os canceladores se achando o \\xfaltimo biscoito do pacote e metendo o pau em todo mundo. E a\\xed como eu estou cheio de raz\\xe3o eu tenho direito de ser cruel, escroto, tenho direito de ser mesquinho sem raz\\xe3o nenhuma. Nenhuma raz\\xe3o te d\\xe1 esse direito, mas acho que s\\xf3 as pessoas tomando muita porrada elas v\\xe3o aprender.'