Julia Rabello: workaholic e sem medo do tempo nem da morte

Published: Aug. 28, 2020, 8:20 p.m.

b'A atriz relembra a fase difícil de sua carreira e fala do desamparo do setor da cultura e da intenção de nunca deixar de atuar\\n \\n Niteroiense nascida em uma casa de artistas, J\\xfalia Rabello come\\xe7ou a fazer teatro aos 9 anos. Mas foram os v\\xeddeos de humor na internet que a tornaram conhecida pelo grande p\\xfablico. Como integrante do grupo\\xa0Porta dos Fundos\\xa0entre 2012 e 2016 ela protagonizou v\\xeddeos memor\\xe1veis e de grande sucesso como o\\xa0Sobre a Mesa,\\xa0que hoje soma mais de 26 milh\\xf5es de visualiza\\xe7\\xf5es.\\xa0\\nDescoberta sua aptid\\xe3o para com\\xe9dia, J\\xfalia n\\xe3o parou mais de fazer o p\\xfablico rir em novelas, filmes e s\\xe9ries. Hoje ela integra o\\xa0Fora de Hora, programa da Rede Globo. E segue fazendo humor na internet, como apresentadora do\\xa0Fale Conosco,\\xa0programa que completou 3 anos no YouTube do canal GNT. E mesmo em meio \\xe0s condi\\xe7\\xf5es adversas colocadas pela pandemia, com teatros e salas de cinema fechados, J\\xfalia voltou aos palcos neste ano com a pe\\xe7a\\xa0Romeu e Julieta (e Rosalina),\\xa0que pode ser assistida ao vivo via streaming, e estrela tamb\\xe9m o filme de suspense\\xa0Volume Morto.\\xa0Em conversa com a\\xa0Trip,\\xa0ela falou sobre trabalho na quarentena, o descaso do governo com a cultura e o que pensa sobre envelhecimento e morte.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/08/5f47fc970f52e/julia-rabello-atriz-comediante-tripfm-m1.jpg; CREDITS=Reprodu\\xe7\\xe3o; LEGEND=]\\nTrip.\\xa0O in\\xedcio da sua carreira, assim como o de muitos atores, foi de muita rala\\xe7\\xe3o. Como foi esse per\\xedodo?\\nJ\\xfalia Rabello.\\xa0Eu venho de uma fam\\xedlia de artistas. Na minha fam\\xedlia tem mais m\\xfasicos, e eu tenho isso como influ\\xeancia. O meu irm\\xe3o, que \\xe9 dois anos mais velho que eu, descobriu aos sete que era pianista erudito. Hoje ele mora na Europa, faz concertos, mas desde os sete anos ele estuda piano oito horas por dia. E a\\xed eu comecei, aos cinco anos, a tentar descobrir o que eu era. Me descobri aos nove no teatro, fiquei completamente apaixonada pelo of\\xedcio, por tudo. N\\xe3o fui atriz mirim, eu estudava. Aos 16, entrei na CAL\\xa0(Casa das Artes de Laranjeiras),\\xa0que era o curso profissionalizante. Amei, mas quando me formei, aos 18, entendi que n\\xe3o estava me formando uma atriz, estava me formando uma desempregada, pois o mercado era dific\\xedlimo. E eu nunca me enquadrei no perfil das meninas bonitas que eram chamadas para teste. Saquei muito r\\xe1pido que eu estava lascada. Ent\\xe3o abri, junto com duas amigas, uma produtora e resolvemos montar uma pe\\xe7a de teatro, que de in\\xedcio j\\xe1 foi muito grande, um musical em homenagem ao Cartola. A Dona Zica Gentil\\xa0[esposa do Cartola]\\xa0estava com a gente, aben\\xe7oou o processo. Conseguimos um samba enredo in\\xe9dito do Em\\xedlio Mello de Carvalho e do Paulinho da Viola para a pe\\xe7a, conseguimos patroc\\xednios, fizemos uma produ\\xe7\\xe3o super profissional. Ent\\xe3o eu ia produzir para poder fazer os meus trabalhos como atriz. S\\xf3 que o mercado absorve muito mais os produtores do que os atores. O perrengue era esse, eu tinha que produzir porque eu tinha que pagar as contas, porque eu j\\xe1 estava come\\xe7ando uma vida adulta, mas, ao mesmo tempo, eu n\\xe3o estava seguindo a profiss\\xe3o que eu amava. Nesse conflito foram dez anos. A gente produziu algumas pe\\xe7as muito interessantes, muito bonitas. Mas chegou uma hora que eu abri m\\xe3o disso, que eu falei: "ou eu vou virar produtora, ou eu sou atriz". Resolvi desistir da carreira, fui estudar para concurso p\\xfablico. Durou duas semanas. A\\xed eu entendi o seguinte: que eu seria atriz nem que fosse para apresentar uma performance na pra\\xe7a p\\xfablica. Quando eu assumi isso para mim, o vento come\\xe7ou a vir a favor. Eu montei uma pe\\xe7a de humor pela primeira vez, que ia pouqu\\xedssima gente. Mas na sequ\\xeancia o J\\xf4 Soares me chamou para protagonizar uma pe\\xe7a dele, e o Porta dos Fundos aconteceu. Foram uns bons 14 anos de vento contra. Essa profiss\\xe3o \\xe9 complexa, \\xe9 uma profiss\\xe3o que, de in\\xedcio, voc\\xea faz investimento financeiro e n\\xe3o tem retorno. Para quem quer ser ator e n\\xe3o tem fam\\xedlia ajudando, \\xe9 bem dif\\xedcil.\\nFiquei curioso para saber... Que concurso voc\\xea ia fazer?\\xa0Do BNDS, porque eles tinham um programa s\\xe9rio, bonito, de patroc\\xednio cultural. Eu pensei: "T\\xe1, se eu for no BNDS posso, l\\xe1 por dentro, cair em cultura de novo". Eu n\\xe3o tinha como fugir disso.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/08/5f47fcdb16047/962x541x960x540x1x0/julia-rabello-atriz-comediante-tripfm-m2.jpg; CREDITS=Pablo Saborido; LEGEND=A atriz J\\xfalia Rabello: "A mulher tem que parir, criar a humanidade e, quando j\\xe1 n\\xe3o tem a beleza para satisfazer os homens, ela \\xe9 descartada"]\\nEm uma\\xa0participa\\xe7\\xe3o na Casa Tpm em 2018,\\xa0voc\\xea falou que foi velha desde que tinha 12, 13 anos, e que ia envelhecendo e as pessoas n\\xe3o percebiam. Como piada \\xe9 muito engra\\xe7ado, mas deve ter sido sofrido. Isso era um problema para voc\\xea?\\xa0Isso sou eu fazendo uma caricatura, tem uma brincadeira, um exagero. Eu nasci com cara de 40 anos. Se voc\\xea pega uma foto minha aos 20, eu tinha cara de 40. Eu estou com 39 agora, quando eu estiver com 50 vou ver se a cara vai ser para sempre a de 40 anos, ou se Deus me fodeu e me colocou\\xa0 para envelhecer como todo mundo. Eu sempre tive um rosto que eu considero forte, grande, e uma voz mais grave, e eu falo as coisas de uma maneira muito incisiva, ent\\xe3o eu acho que sempre fui muito intensa, sabe? Lembro que eu sempre achei que tinha cara de mais velha do que eu era. Ali\\xe1s, isso foi uma coisa boa quando eu tinha 15 anos, que eu queria entrar nas boates para maiores de 18 e ningu\\xe9m me pedia a carteira de identidade. Mas, uma vez, eu entrei num chat sobre o Porta dos Fundos e as pessoas come\\xe7aram a falar sobre as meninas do grupo. Um monte de elogios e s\\xf3 tinha um coment\\xe1rio que era assim: "J\\xfalia Rabello: cara de velha, voz de homem, sem mais". Eu fiquei arrasada com aquilo. Meu Deus do c\\xe9u. Voc\\xea v\\xea, um monte de coment\\xe1rio legal, a gente guarda qual na cabe\\xe7a? Esse.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/08/5f47fd0cbb8a7/julia-rabello-atriz-comediante-tripfm-m8.jpg; CREDITS=Pablo Saborido; LEGEND=A atriz J\\xfalia Rabello]\\nLEIA TAMB\\xc9M:O home office de Tathi Lopes, do Porta dos Fundos\\nComo \\xe9 que tem sido a sua vida nesse isolamento?\\xa0Um dos meus problemas \\xe9 o v\\xedcio no trabalho. Eu fa\\xe7o um trabalho do qual eu gosto muito, e v\\xe1rias vezes ultrapasso o limite saud\\xe1vel, trabalho muito mais do que deveria trabalhar. E a primeira coisa que a pandemia cortou foi o trabalho. Ainda faltavam quatro epis\\xf3dios do programa que eu estava fazendo, o\\xa0Fora de Hora, da Globo, e foram cancelados por conta da pandemia. No primeiro momento, ainda no susto, uma parte de mim pensou: "Vai ser bom poder dormir um pouco, descansar". Claro que apavorada com tudo o que podia acontecer. S\\xf3 que no segundo m\\xeas eu peguei Covid-19, a\\xed fiquei um m\\xeas doente, meio mal, mas n\\xe3o precisei ir para o hospital. Logo que eu me recuperei a Ana Beatriz Nogueira me ligou falando de uma pe\\xe7a, desse projeto que ela est\\xe1 fazendo, chamando v\\xe1rias pessoas para se apresentarem no teatro, com a bilheteria revertida para as pessoas da \\xe1rea que ficaram sem emprego. E eu tenho estado envolvida com essas coisas. Para al\\xe9m disso estou fazendo planos, projetando o que vem pela frente, mas tamb\\xe9m n\\xe3o tem como saber, \\xe9 uma agonia enorme. No dia a dia eu administro bem as coisas. Claro que sinto falta dos amigos, mas fazendo essa pe\\xe7a eu tenho sa\\xeddo um pouco, para al\\xe9m de estar aqui em casa, j\\xe1 d\\xe1 um respiro.\\nA pe\\xe7a \\xe9 encenada no teatro mesmo?\\xa0No Teatro Petra Gold, que fica aqui no Leblon, vou a p\\xe9. Funciona da mesma maneira de sempre, com exce\\xe7\\xe3o de que a plateia est\\xe1 assistindo de casa. A gente vai pra l\\xe1, tem um cen\\xe1rio, tem ilumina\\xe7\\xe3o, tudo isso. S\\xf3 que a plateia est\\xe1 assistindo atrav\\xe9s das c\\xe2meras.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/08/5f47fd5268527/961x961x960x960x0x0/julia-rabello-atriz-comediante-tripfm-m5.jpg; CREDITS= Chico Cerchiaro l; LEGEND="Sempre tive um rosto que eu considero forte, grande, e uma voz mais grave, e eu falo as coisas de uma maneira muito incisiva, ent\\xe3o eu acho que sempre fui muito intensa, sabe?", diz J\\xfalia Rabello]\\nUm dos impactos mais violentos dessa pandemia \\xe9 grana. O dinheiro pra muita gente desapareceu. Claro que pessoas privilegiadas sofrem menos, mas boa parte da popula\\xe7\\xe3o foi impactada de alguma maneira. Como est\\xe1 sendo para voc\\xea, com essa pausa nos trabalhos?\\xa0Olha, se voc\\xea me perguntar isso e eu me comparar com a popula\\xe7\\xe3o da Su\\xed\\xe7a, eu t\\xf4 na merda. Agora se voc\\xea fizer um recorte do Brasil, eu estou super bem. Quando voc\\xea olha para al\\xe9m dos muros de onde a gente mora, \\xe9 muito assustador o que est\\xe1 acontecendo. Quando eu comecei a entender que essa pausa ia durar muito tempo, eu fiquei assustada, porque al\\xe9m da pandemia a gente tem um governo que est\\xe1 indo completamente contra a cultura. \\xc9 muita agress\\xe3o ao meu setor, ao mercado de trabalho. Isso me faz ligar a luz amarela com certeza. Eu tento me planejar, mas ao mesmo tempo a gente n\\xe3o \\xe9 s\\xf3 a gente, a gente \\xe9 o nosso redor, a nossa fam\\xedlia, nossos amigos; a gente \\xe9 a galera que tem o mesmo meio de trabalho que a gente. N\\xe3o d\\xe1 para pensar que \\xe9 s\\xf3 o meu e sentar em cima de um colch\\xe3o de dinheiro. N\\xe3o que eu tenha, t\\xe1, mas tem que se equilibrar nesses pensamentos. N\\xe3o \\xe9 simples pra ningu\\xe9m, mas para algumas pessoas \\xe9 sobre-humano. Indo ao teatro um mo\\xe7o veio me ajudar, e a\\xed eu comecei a conversar com esse mo\\xe7o. Me lembrei que ele era um baleiro que ficava na porta no teatro, e ele me contou que ele est\\xe1 morando na rua. Conversando com as pessoas voc\\xea vai vendo a propor\\xe7\\xe3o disso na vida de cada um. E tem quem fique mais rico, ent\\xe3o vai entender.\\nLEIA TAMB\\xc9M:\\xa0As atrizes Rosamaria Murtinho e Elisa Lucinda conversam com Mirian Goldenberg sobre os medos e os aprendizados do envelhecimento\\nVoc\\xea ainda \\xe9 muito jovem, acaba de completar 39 anos, mas os 40 para muita gente pesa, representa toda uma cobran\\xe7a, tem uma m\\xedstica em torno dele. Para a mulher, considerando toda a formata\\xe7\\xe3o machista da sociedade brasileira, a cobran\\xe7a \\xe9 ainda mais pesada. Existe todo esse movimento rompendo esse tipo de de cobran\\xe7a, mas queria saber como tem sido para voc\\xea lidar com essa ideia de estar chegando perto de certas linhas que t\\xeam supostos significados.\\xa0Eu sempre tive um olhar para a fase da velhice, sempre foi um assunto que me interessou desde muito nova. A gente vive numa sociedade que descarta o idoso. O ser humano entra numa fase em que teoricamente ele n\\xe3o contribui mais e ele \\xe9 descartado. O que importa para o homem \\xe9 o poder, ent\\xe3o \\xe9 a cadeira que ele senta, o dinheiro que ele tem. E para a mulher \\xe9 a beleza, e por isso a mulher \\xe9 descartada muito mais r\\xe1pido, quando ela come\\xe7a a sair do per\\xedodo f\\xe9rtil e tem transi\\xe7\\xf5es f\\xedsicas. A mulher tem que parir, criar a humanidade e, quando j\\xe1 n\\xe3o tem a beleza para satisfazer os homens, ela \\xe9 descartada. Eu acho que seres humanos n\\xe3o t\\xeam que ser descartados. A gente vive uma caminhada, cada parte \\xe9 significativa, cada fase \\xe9 importante. Eu gostaria de viver em uma sociedade onde a gente tivesse esse cuidado com todas as fases, mas a gente tamb\\xe9m n\\xe3o tem cuidado com a inf\\xe2ncia. S\\xe3o duas pontas important\\xedssimas, n\\xe9? A maneira que eu lido \\xe9 tentando entender, ler, para poder falar sobre. Mas a press\\xe3o est\\xe9tica \\xe9 violenta. Essa brincadeira que eu fa\\xe7o de que eu nasci com cara de 40 anos, quase n\\xe3o \\xe9 verdade, mas \\xe9 uma press\\xe3o est\\xe9tica t\\xe3o grande que a maneira de eu brincar com isso \\xe9 essa. O humor me salva nesse sentido porque eu debocho, mas debochar n\\xe3o significa que n\\xe3o existe algum lugar me alfinetando. Eu n\\xe3o sei para onde a gente caminha, a gente est\\xe1 ficando uma sociedade cada vez mais visual, tudo isso importa. Mas ao mesmo tempo tamb\\xe9m a gente come\\xe7a a ver um movimento de corpos livres. Tomara que a gente aprenda a entender o valor do que tem a maturidade. Eu n\\xe3o sou mais uma pessoa no in\\xedcio da fase adulta. E eu ainda tenho, teoricamente, estrada pela frente, mas j\\xe1 come\\xe7o a ver o que a caminhada faz: a mente que eu tenho hoje eu n\\xe3o gostaria de trocar pela mente de ontem. O envelhecer \\xe9 uma coisa que tem que ser trabalhada, voc\\xea n\\xe3o pode se entregar ao tempo. Voc\\xea tamb\\xe9m tem que se trabalhar para poder ter uma maturidade interessante.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/08/5f47fd67ad76f/julia-rabello-atriz-comediante-tripfm-m3.jpg; CREDITS=Ali Karakas e Mariana Pekin; LEGEND=J\\xfalia Rabello, no Pr\\xeamio Trip Transformadores 2018]\\nLEIA TAMB\\xc9M:\\xa0Luciana Paes, a tia que est\\xe1 brilhando no Tik Tok\\nEm uma entrevista em 2018 ao\\xa0Paulo Tiefenthaler\\xa0voc\\xea disse que pensa muito na morte. Voc\\xea disse: \'Sempre pensei no fim da vida. Como isso \\xe9 um pensamento muito recorrente e eu tento dar valor e significado \\xe0 minha vida. Quando eu sinto que estou muito na rede social eu falo, caramba, daqui a pouco acaba a vida e eu estou gastando nisso aqui\'. Um dos pilares do budismo tibetano \\xe9 entender que \\xe9 tudo transit\\xf3rio, tudo muito passageiro, nada \\xe9 est\\xe1vel, nada vai ficar, e isso \\xe9 um alimento para que voc\\xea desfrute mais do momento presente para que voc\\xea de fato tem \\xe9 o aqui e o agora. Me fale um pouquinho mais dessa sua rela\\xe7\\xe3o a morte.\\xa0Quando eu saquei o lance da morte eu acho que fiquei t\\xe3o desesperada que, ao inv\\xe9s de virar a cara para ela, eu quis olhar. Ent\\xe3o eu lembro muito daquele filme do Ingmar Bergman [O s\\xe9timo selo], no qual a pessoa joga xadrez com a morte. Se voc\\xea conversa com a sua morte, se voc\\xea pensa que voc\\xea tem finitude, come\\xe7a a entrar no quanto que voc\\xea est\\xe1 dando significado para o momento de agora. Eu fui criada numa fam\\xedlia cat\\xf3lica, ent\\xe3o tem essa coisa de projetar o depois. Mesmo que tenha um depois, que tenha o Nosso Lar, o pessoal de branco me esperando para me abra\\xe7ar, se eu estou aqui, eu tenho uma responsabilidade. Se eu pensar na minha morte vou lembrar que as outras pessoas tamb\\xe9m v\\xe3o embora. Se n\\xe3o a gente fica anestesiado, voc\\xea entra numa rede social e passa uma hora, muito r\\xe1pido. \\xc9 importante olhar para o tempo e como voc\\xea significa ele. Lembrar que existe morte faz com que fa\\xe7amos boas escolhas no per\\xedodo que temos, e que a gente nunca sabe qual \\xe9.A gente falou sobre envelhecimento, mas eu queria saber no aspecto do trabalho, como voc\\xea se imagina em 30 anos?\\xa0Nesse per\\xedodo em que eu estou fazendo teatro on-line o meu diretor recebeu uma liga\\xe7\\xe3o da Nath\\xe1lia Timberg, que j\\xe1 passou dos 80, porque ela est\\xe1 pensando na pe\\xe7a de teatro que ela vai fazer, e queria conversar com ele sobre o texto. Eu me vejo assim at\\xe9 o \\xfaltimo momento, se eu puder. Esse \\xe9 o meu sonho, estar que nem a Nathalia Timberg, se Deus quiser chegar aos p\\xe9s dela de tamanho, mas pensando, apaixonada ainda por isso que a gente faz. Claro que com um teto, comida, mas tendo a oportunidade de trabalho. O artista precisa ter espa\\xe7o de trabalho, isso \\xe9 o que dignifica a gente. E a\\xed volto de novo ao governo: se voc\\xea vai contra a cultura, se voc\\xea taxa livro, como \\xe9 que se faz arte? Valorizar o artista n\\xe3o \\xe9 um favor que voc\\xea est\\xe1 fazendo a ele, \\xe9 uma rela\\xe7\\xe3o de troca. O artista vai oferecer alguma coisa importante tamb\\xe9m para a sua vida. A vida \\xe9 uma coisa louca que tem um in\\xedcio, que tem um fim e no meio voc\\xea tem que criar significado para ela, e a gente \\xe9 profissional de contar hist\\xf3ria e de criar significado.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/08/5f47fd251a156/961x961x960x960x0x0/julia-rabello-atriz-comediante-tripfm-m7.jpg; CREDITS=Pablo Saborido; LEGEND=J\\xfalia Rabello: "Se voc\\xea vai contra a cultura, se voc\\xea taxa livro, como \\xe9 que se faz arte?"]'