Joao de Deus: roteiristas falam sobre serie Em Nome de Deus

Published: July 10, 2020, 11 p.m.

b'Camila Appel e Ricardo Calil contam os bastidores da investigação que expôs os crimes do médium que violentou centenas de mulheres\\n \\n Em 2018, a jornalista Camila Appel foi a respons\\xe1vel por investigar e revelar a aterrorizante hist\\xf3ria dos abusos sexuais cometidos por Jo\\xe3o Teixeira de Faria, conhecido como Jo\\xe3o de Deus. A primeira mulher a topar falar publicamente sobre os crimes cometidos pelo m\\xe9dium foi a holandesa Zahira Mous, que detalhou os abusos que sofreu na Casa Dom In\\xe1cio de Loyola, onde ele atendia em Abadi\\xe2nia, no programa da TV Globo\\xa0Conversa com Bial. Al\\xe9m dela, outras v\\xedtimas deram seus depoimentos ao programa sem se identificar. A revela\\xe7\\xe3o feita por Zahira desencadeou a quebra do sil\\xeancio de mais de 300 v\\xedtimas do m\\xe9dium e as investiga\\xe7\\xf5es levaram \\xe0 condena\\xe7\\xe3o de Jo\\xe3o de Deus a mais de 40 anos de pris\\xe3o.\\nDepois que descobriu o caso, Camila passou o \\xfaltimo ano mergulhada na hist\\xf3ria de Jo\\xe3o de Deus e da Casa Dom In\\xe1cio. Junto com o jornalista Ricardo Calil, ela assina o roteiro de\\xa0Em Nome de Deus, s\\xe9rie da Globoplay que revela os crimes sexuais que levaram \\xe0 condena\\xe7\\xe3o do suposto curandeiro, mas tamb\\xe9m a for\\xe7a e a coragem necess\\xe1ria para as v\\xedtimas irem a p\\xfablico e revelarem suas hist\\xf3rias. Em conversa com a Trip, os roteiristas contam os bastidores desse trabalho e a pot\\xeancia que ele carrega: "N\\xe3o \\xe9 s\\xf3 uma hist\\xf3ria feia e triste, \\xe9 uma hist\\xf3ria bonita, de for\\xe7a, de uni\\xe3o", afirma Camila.\\nNo play abaixo ou no Spotify do Trip FM, voc\\xea pode conferir o papo que batemos com Camila e Calil.\\n[AUDIO=https://p.audio.uol.com.br/trip/2020/7/tripfmOk.mp3; IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/07/5f05edbb6aec3/1049x1049x960x540x58x203/joao-de-deus-serie-globoplay-tripfm-mobile.jpg]\\nTrip. Camila, voc\\xea foi a pessoa a chegar nessas den\\xfancias primeiro, em 2018, e levar a Zahira a fazer a primeira den\\xfancia chegar ao p\\xfablico no programa\\xa0Conversa com Bial. Como voc\\xea chegou nessa hist\\xf3ria?\\nCamila Appel. Foi muito chocante que, quando n\\xf3s chegamos nessa hist\\xf3ria, ela j\\xe1 estava tentando ser contada a muito tempo. A Zahira foi, para n\\xf3s, o come\\xe7o, mas depois descobrimos que outras mulheres j\\xe1 tinham ido a p\\xfablico e denunciado o Jo\\xe3o de Deus em 2008, e depois de 2016, e nunca foram ouvidas, nem as den\\xfancias foram levadas adiante. A gente chegou nessa hist\\xf3ria porque o Pedro Bial queria entrevistar o Jo\\xe3o Teixeira de Faria para o programa, e ele assistiu um document\\xe1rio, leu alguns livros e decidiu cancelar a entrevista. Quando ele cancelou eu j\\xe1 tinha come\\xe7ado uma pesquisa para o programa e conversado com uma amiga minha que tinha passado meses em Abadi\\xe2nia. E essa minha amiga falou: "Eu quero te contar uma coisa". Ela nem queria falar pelo telefone, morrendo de medo do que ia expor. E o que ela contou \\xe9 que ouvia rumores de que o Jo\\xe3o de Deus era um abusador, e me mostrou o post publicado pela Zahira no Facebook descrevendo o abuso em detalhes. Essa amiga tamb\\xe9m me levou \\xe0 mulher que tinha um di\\xe1rio escrito h\\xe1 20 anos, no qual ela descrevia um abuso que tinha sofrido, similar \\xe0quele que a gente estava lendo na internet, e foi muito chocante.\\nLEIA TAMB\\xc9M:\\xa0Combatendo o aumento da viol\\xeancia dom\\xe9stica na quarentena\\nVoc\\xeas percebem esse jornalismo que voc\\xeas fizeram nessa s\\xe9rie, de realmente investigar, ir a fundo na hist\\xf3ria, como uma pr\\xe1tica em extin\\xe7\\xe3o?\\nRicardo Calil. De uns anos para c\\xe1, a gente vem notando um longo processo de extin\\xe7\\xe3o desse tipo de jornalismo investigativo, que tem muitas causas: a crise do papel no jornalismo, a crise econ\\xf4mica. A gente se sente muito privilegiado de ter tido a chance de fazer um trabalho de mais de ano investigando um \\xfanico tema. Entendo o quanto \\xe9 incomum e o quanto \\xe9 luxuoso isso hoje em dia. Ao mesmo tempo acho que a gente est\\xe1 vivendo um momento t\\xe3o extremo em v\\xe1rios pontos do mundo e no Brasil, especificamente, que eu come\\xe7o a ver alguns sinais de renascimento desse jornalismo. A gente volta a todo dia assistir ao telejornal esperando o que vai ser aquela edi\\xe7\\xe3o, o que vai nos dizer, analisar e refletir. E eu espero que o mundo volte para um lugar melhor, o Brasil volte para um lugar melhor, mas que o jornalismo mantenha essa vitalidade que voltou a ganhar por conta desse momento.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/07/5f05ee5860805/joao-de-deus-serie-globoplay-tripfm-m2.jpg; CREDITS=Divulga\\xe7\\xe3o; LEGEND=A atriz Deborah Kalume (\\xe0 esq.) e a advogada Camila Ribeiro (\\xe0 dir.), que foi v\\xedtima de Jo\\xe3o de Deus aos 16 anos, fez a den\\xfancia, mas o m\\xe9dium foi inocentado]\\nMuitas v\\xedtimas relatam uma paralisia, uma trava no momento do abuso que as fazia incapazes de ter qualquer rea\\xe7\\xe3o. Em mais de 300 mulheres, teve alguma que conseguiu reagir de imediato a essa situa\\xe7\\xe3o? \\nCamila. Existem rea\\xe7\\xf5es diversas. Uma delas \\xe9 a da mulher ficar em choque, paralisada naquele momento. At\\xe9 porque o tipo de amea\\xe7a que o Jo\\xe3o fazia \\xe9 muito cruel, perversa. "Se voc\\xea n\\xe3o fizer isso voc\\xea n\\xe3o vai se curar. Sua m\\xe3e, seu filho, n\\xe3o v\\xe3o se curar". E a ideia que, do outro lado da porta, tinham mil pessoas rezando e acreditando naquele homem, contribu\\xeda para a paralisia. Mas muitas mulheres chegaram neste momento e agiram. Tem at\\xe9 um depoimento de que as mulheres que saiam gritando e xingando eram tidas como hist\\xe9ricas e colocadas de lado. Eles tentavam normalizar qualquer tipo de rea\\xe7\\xe3o, inserindo naquele contexto simb\\xf3lico e espiritual de cura. A gente entrevistou a Marina, uma fisioterapeuta, que o confrontou logo no dia seguinte. Ela sofreu o abuso, foi para a pousada e l\\xe1 contou para uma colega, que a ajudou a entender que ela realmente tinha sido v\\xedtima de um abuso. Ela voltou \\xe0 Casa Dom In\\xe1cio no dia seguinte e confrontou o Jo\\xe3o e seu bra\\xe7o direito, um homem chamado Chico Lobo. Foi em 2016 e ela gravou essas conversas. Depois ela foi na delegacia de Abadi\\xe2nia, fez um B.O. e ouviu da delegada que ela n\\xe3o era a primeira nem a \\xfaltima, e que ela n\\xe3o podia fazer nada. De volta a S\\xe3o Paulo, Marina fez uma den\\xfancia no site do Minist\\xe9rio P\\xfablico.\\nAl\\xe9m dela, entrevistamos a Camila, que foi abusada em 2008, com 16 anos, na frente do pai. O pai dela estava na sala tamb\\xe9m, mas o Jo\\xe3o mandou ele fechar os olhos e rezar. Ele abusava da menina nesse momento e ela acabou contando para o pai uns dias depois. Eles processaram o Jo\\xe3o, que foi inocentado. A ju\\xedza foi entrevistada na s\\xe9rie, \\xe9 a mesma ju\\xedza dos outros processos. Ou seja, tudo isso mostra que tamb\\xe9m tem v\\xe1rios casos de mulheres que n\\xe3o se calaram, que, na hora que perceberam, agiram, mas elas encontraram uma impossibilidade de justi\\xe7a. Muitas falam ainda em medo de retalia\\xe7\\xe3o espiritual. S\\xe3o pessoas que acreditam naquilo, elas est\\xe3o l\\xe1 por uma situa\\xe7\\xe3o de grande vulnerabilidade e porque acreditavam nele.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/07/5f05ee623fc59/joao-de-deus-serie-globoplay-tripfm-m3.jpg; CREDITS=Divulga\\xe7\\xe3o; LEGEND=A publicit\\xe1ria Luana Schnorr (\\xe0 esq.) e a core\\xf3grafa holandesa Zahira Mous (\\xe0 dir.), a primeira mulher a expor em rede nacional que tinha sido v\\xedtima de Jo\\xe3o de Deus]\\nQue poder \\xe9 esse que ele tinha de imobilizar a justi\\xe7a em v\\xe1rias inst\\xe2ncias e em v\\xe1rios locais, de forma que essas acusa\\xe7\\xf5es anteriores n\\xe3o tenham resultado em nada?\\nRicardo. O Jo\\xe3o Teixeira de Faria era um cara que podemos de certa forma associar \\xe0 figura do t\\xedpico coronel brasileiro: um cara que conseguiu dominar a regi\\xe3o dele, n\\xe3o s\\xf3 pela espiritualidade, mas tamb\\xe9m atrav\\xe9s de amea\\xe7as e viol\\xeancia. Havia uma depend\\xeancia econ\\xf4mica de uma grande parte da cidade em rela\\xe7\\xe3o a ele. E ele soube se associar com o poder de uma maneira muito perspicaz. Muitos empres\\xe1rios frequentavam e investiam na Casa Dom In\\xe1cio, de certa forma \\xe0 espera de um certo status espiritual, de estar pr\\xf3ximo do Jo\\xe3o de Deus. Havia tamb\\xe9m muitos pol\\xedticos, muitos juristas renomados e muitas celebridade que frequentavam a Casa e se orgulhavam de posar ao lado dele, ou se tratavam com ele. Essa soma da fama de um l\\xedder espiritual que curava com esse aspecto de um coronel local, com rela\\xe7\\xf5es muito \\xedntimas com o poder, ajuda a explicar o sil\\xeancio de tanto tempo sobre os abusos e os outros crimes que ele cometia.\\nLEIA TAMB\\xc9M:\\xa0Estudantes relatam situa\\xe7\\xf5es de terror psicol\\xf3gico, intimida\\xe7\\xf5es e car\\xedcias inapropriadas de professor\\nVoc\\xeas acham que o movimento Me Too foi fundamental para que tantas mulheres expusessem os abusos que tinham sofrido ou teve mais a ver com a Zahira topar contar sua hist\\xf3ria para que as outras tamb\\xe9m se sentissem seguras?\\xa0\\nCamila. Isso est\\xe1 contextualizado no movimento Me Too. S\\xe3o exemplos que acabam trazendo essa for\\xe7a da uni\\xe3o das mulheres, de discutirem que vale a pena falar, e que elas podem ser desacreditadas, mas que vale a pena insistir. A pr\\xf3pria Zahira foi inspirada pela Rose McGowan, que \\xe9 a primeira mulher a ir a p\\xfablico denunciar o Harvey Weinstein. Foi ap\\xf3s ler a hist\\xf3ria da Rose que ela decidiu fazer um post no Facebook contando sua hist\\xf3ria.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/07/5f05ee6d2195f/joao-de-deus-serie-globoplay-tripfm-m6.jpg; CREDITS=Divulga\\xe7\\xe3o; LEGEND=Jo\\xe3o de Deus em cena de "Em Nome de Deus", s\\xe9rie original do Globoplay]\\nO Jo\\xe3o de Deus n\\xe3o \\xe9 o primeiro l\\xedder espiritual que \\xe9 acusado de crimes sexuais. E, al\\xe9m de abusos dessa natureza, t\\xeam organiza\\xe7\\xf5es voltadas para explorar a f\\xe9 das pessoas que cometem abusos morais e financeiros. O que acontece que, com tanta informa\\xe7\\xe3o, pessoas de todas as classes acabam sendo v\\xedtimas dessa f\\xe9 cega?\\nRicardo. O Jo\\xe3o Teixeira de Faria tentou e fez riqueza tamb\\xe9m com outras atividades de garimpo, fazendeiro, gado. Mas ele entendeu que a maneira mais f\\xe1cil e barata de ganhar dinheiro era justamente confiando na f\\xe9 cega dos outros. No come\\xe7o ele atendia sobretudo gente desassistida, com problemas m\\xe9dicos e que n\\xe3o tinha acesso a um bom sistema de sa\\xfade, e ia l\\xe1 para tentar uma cura mesmo. Com o passar dos anos o perfil foi mudando, come\\xe7aram a vir muitos estrangeiros e muita gente abastada. Ele trabalhava muito bem a ideia de que as pessoas que iam at\\xe9 l\\xe1 eram especiais, de que as pessoas tinham mediunidade, um dom, ou ent\\xe3o teriam uma cura, uma paz interior indo para l\\xe1. A gente n\\xe3o pode desmerecer essas pessoas que foram l\\xe1 por conta disso, mas a verdade \\xe9 que eles compraram uma grande ilus\\xe3o, e romper com essas ilus\\xf5es a partir das den\\xfancias \\xe9 um processo muito doloroso pelo qual a gente tamb\\xe9m t\\xeam muito respeito.\\nLEIA TAMB\\xc9M:\\xa0O que Fernando Meirelles buscava em "Dois Papas"?\\nEm Nome De Deus est\\xe1 em uma zona de sobreposi\\xe7\\xe3o entre o jornalismo investigativo e o entretenimento televisivo\\xa0on demand. Como desenvolver um trabalho como esse sem se deixar levar pelos cliques ou pelo volume de audi\\xeancia, ou pesando mais para o lado do entretenimento e menos para o lado do jornalismo?\\nRicardo. Essa s\\xe9rie foi feita originalmente para a Globoplay, um servi\\xe7o de streaming. Mas falo com absoluta convic\\xe7\\xe3o que essa \\xe9 uma s\\xe9rie de cinema. N\\xe3o vai ser exibida numa tela grande, mas foi feita com o carinho, o cuidado e o artesanato necess\\xe1rio e comum a um grande document\\xe1rio de cinema. Eu acho que a nossa grande preocupa\\xe7\\xe3o antes de tudo, mais do que com cliques ou audi\\xeancia, era honrar as mulheres que est\\xe3o neste document\\xe1rio. A nossa prioridade n\\xfamero um \\xe9 honrar a coragem e o sofrimento delas. Se a gente ganhasse o Oscar e batesse recordes de audi\\xeancia, mas n\\xe3o honrasse isso, a gente teria fracassado. Mas acho que a gente conseguiu isso pelos retornos delas e pelo retorno das pessoas. Isto posto, a gente quer que as pessoas vejam a s\\xe9rie do come\\xe7o ao fim, porque a gente acredita nessa hist\\xf3ria. E a partir disso tem uma s\\xe9rie de ferramentas narrativas muito pr\\xf3ximas da fic\\xe7\\xe3o que fazem com que as pessoas se liguem mais nas hist\\xf3rias. A gente usou essas ferramentas com total seguran\\xe7a de que a gente estava mantendo nosso compromisso n\\xfamero um de honrar essas mulheres.\\xa0\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/07/5f05ee7789c6a/joao-de-deus-serie-globoplay-tripfm-m4.jpg; CREDITS=Divulga\\xe7\\xe3o; LEGEND=Dalva Teixeira (\\xe0 esq.), filha de Jo\\xe3o de Deus, foi v\\xedtima dos abusos do pai desde a inf\\xe2ncia; A jornalista Camila Appel (\\xe0 dir.) mergulhou na investiga\\xe7\\xe3o que revelou o esc\\xe2ndalo e assina o roteiro da s\\xe9rie "Em Nome de Deus"]\\nCamila, qual foi o momento mais dif\\xedcil para voc\\xea durante esse trabalho?\\nCamila. Certamente o momento em que reunimos todas as v\\xedtimas entrevistadas no est\\xfadio. Foi uma ideia do Calil, de que seria muito impactante essas mulheres contarem suas hist\\xf3rias umas para as outras, que \\xe9 completamente diferente de contar para mim. Primeiro foi um trabalho de pesquisa para escolher, se aproximar e acolh\\xea-las, criar uma rela\\xe7\\xe3o de confian\\xe7a com cada uma delas, para elas toparem essa exposi\\xe7\\xe3o. Depois de estabelecida a rela\\xe7\\xe3o e de muito tempo de telefone com cada uma, fomos l\\xe1 e colhemos esses depoimentos. No final da conversa eu perguntava se elas n\\xe3o tinham vontade de encontrar as outras v\\xedtimas, e a rea\\xe7\\xe3o era sempre muito positiva. Era um risco muito grande, pois s\\xe3o mulheres com traumas muito profundos, e elas se viram pela primeira vez ali naquela roda. O suspense da s\\xe9rie tamb\\xe9m \\xe9 constru\\xeddo num momento em que uma est\\xe1 descobrindo a hist\\xf3ria da outra. E foi lindo, o maior desafio que eu j\\xe1 tive foi o de coordenar esse momento. Mas virou realmente o cora\\xe7\\xe3o da s\\xe9rie, a alma de tudo, e onde emociona as pessoas. E acabou tamb\\xe9m se tornando algo muito mais bonito do que tr\\xe1gico. N\\xe3o \\xe9 s\\xf3 uma hist\\xf3ria feia e triste, \\xe9 uma hist\\xf3ria bonita, de for\\xe7a, de uni\\xe3o.\\xa0\\xa0\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/07/5f078bb1cc4a6/joao-de-deus-serie-globoplay-tripfm-m8.jpg; CREDITS=Reprodu\\xe7\\xe3o; LEGEND=Os jornalistas Ricardo Calil e Camila Appel falam sobre a s\\xe9rie "Em Nome de Deus" na entrevista ao Trip FM]\\nVoc\\xea criou v\\xednculos com algumas daquelas mulheres?\\nCamila. Eu sou muito amiga Zahira porque a gente est\\xe1 nessa h\\xe1 dois anos. At\\xe9 ela ir ao programa a gente se falava todo dia. Ela tinha muitos receios, medo de n\\xe3o saber como essa hist\\xf3ria seria tratada. Ent\\xe3o a gente se aproximou. E agora falo com todas, para entender como \\xe9 a repercuss\\xe3o, como \\xe9 que est\\xe3o se sentindo. \\xc9 uma preocupa\\xe7\\xe3o muito grande pois na nossa den\\xfancia de 2018 a Zahira foi muito desacreditada, ela ficou muito mal e eu estava l\\xe1 para oferecer esse apoio. A gente tinha um receio de que isso pudesse acontecer novamente, mas nenhuma at\\xe9 agora me trouxe uma rea\\xe7\\xe3o negativa ou ofensiva.\\n\\xc9 poss\\xedvel uma mulher se refazer completamente de um trauma desses? Existem ferramentas, terapias ou a pr\\xf3pria reflex\\xe3o pode levar a mulher a superar isso?\\nCamila. Eu acho que a palavra supera\\xe7\\xe3o traz uma responsabilidade muito grande, quase como um fardo. Quanto mais leve a gente entender esse processo de uma poss\\xedvel cura, de ressignificar o que aconteceu, melhor \\xe9. Cada mulher vai ter o seu tempo. Cada mulher vai ter o acesso que tiver, o apoio de lidar com essa dor, com a cicatriz, com o trauma. Mais uma coisa que eu percebi \\xe9 que falar faz bem. Todas as mulheres, depois que me contavam, depois que elas jogavam aquela carga emocional intensa, estavam bem. Acho que a fala liberta. N\\xe3o sei se cura, mas o que eu vi ali entrevistando cada uma delas \\xe9 que faz bem.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/07/5f05ee802229d/joao-de-deus-serie-globoplay-tripfm-m5.jpg; CREDITS=Divulga\\xe7\\xe3o; LEGEND=Aos 18 anos, Maria Rodrigues (\\xe0 esq.) foi estuprada por Jo\\xe3o de Deus, que tentou mat\\xe1-la em seguida; A fisioterapeuta Marina Brito (\\xe0 dir.) chegou a confrontar o m\\xe9dium ap\\xf3s o abuso que sofreu, foi \\xe0 delegacia, mas ouviu que nada podia ser feito]'