Gil do Vigor: De BBB a PHD. Cotas, drogas e fama

Published: March 31, 2023, 11 p.m.

b"Uma das figuras mais marcantes da história do Big Brother, o economista fala sobre fama, cotas, Juliette e, claro, cachorrada\\n \\n Desde o momento em que entrou para o Big Brother, Gil do Vigor\\xa0j\\xe1 sabia que ao fim do programa iria trocar de siglas: do BBB direto para o PhD. Criticado durante o programa quando falou que n\\xe3o precisava do pr\\xeamio de 1,5 milh\\xe3o de reais, mas sim grana para conseguir seguir os seus estudos, Gil \\u2013 mesmo tendo ficado em quarto lugar no reality \\u2013 j\\xe1 superou em muito o valor da premia\\xe7\\xe3o por meio de parcerias com marcas e mesmo assim cumpriu a promessa, largou a oportunidade de ficar no Brasil colhendo os louros da fama, e partiu para a Universidade da Calif\\xf3rnia. \\u201cQuando eu sa\\xed do programa e vi tudo o que tinha acontecido, pensei: \\u2018N\\xf3s vamos ter acad\\xeamico preto, gay e religioso para mostrar que o nosso pa\\xeds \\xe9 assim, todo diverso\\u2019. Foi tamb\\xe9m um jeito de dizer para as pessoas que n\\xe3o existe pre\\xe7o para educa\\xe7\\xe3o\\u201d.\\nDe volta ao pa\\xeds em per\\xedodo de f\\xe9rias, Gil conversou com o Trip FM sobre igualdade racial, cotas, alta dos juros, Juliette, fama, depend\\xeancia qu\\xedmica e, como n\\xe3o poderia ser diferente, de cachorrada. O programa fica dispon\\xedvel no play aqui em cima e no Spotify.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2023/03/6427535f844d1/gil-do-vigor-bbb-economista-cachorrada-tripfm-mh.jpg; CREDITS=Edclenio Bernado; LEGEND=Gil do Vigor; ALT_TEXT=Gil do Vigor]\\nTrip. Voc\\xea viu diferen\\xe7a entre ser negro nos EUA e no Brasil?\\nGil do Vigor. Nos EUA h\\xe1 uma luta pela igualdade racial que \\xe9 muito latente. Aqui no Brasil n\\xf3s estamos engatinhando. O racismo ser estrutural n\\xe3o \\xe9 uma desculpa. Um tapa que a gente leva vai nos ferir, independente se havia ou n\\xe3o a inten\\xe7\\xe3o de me machucar. Eu falo muito sobre o sistema de cotas. Cota n\\xe3o \\xe9 esmola, \\xe9 uma forma de gerar oportunidade para um grupo que durante muito tempo foi colocado em desvantagem e n\\xe3o consegue competir de igual para igual. A gente precisa proporcionar cen\\xe1rios que gerem uma disputa minimamente igualit\\xe1ria. Sem isso eu n\\xe3o estaria fazendo um PhD em uma das melhores universidades do mundo.\\nMuita gente v\\xea grana e coloca a educa\\xe7\\xe3o em segundo plano, mas com voc\\xea foi o contr\\xe1rio. Por qu\\xea?\\xa0Nunca foi uma op\\xe7\\xe3o n\\xe3o fazer o meu PhD. A ideia era ganhar o BBB em maio e viajar para estudar em agosto. Quando eu sa\\xed do programa e vi tudo o que tinha acontecido eu pensei: 'N\\xf3s vamos ter um acad\\xeamico, um homem preto, gay e religioso para mostrar que o nosso pa\\xeds \\xe9 assim, todo diverso\\u2019. Foi tamb\\xe9m um jeito de dizer para as pessoas que n\\xe3o existe pre\\xe7o para educa\\xe7\\xe3o. Quando eu estou fazendo uma prova, com dor na coluna, cansado, eu come\\xe7o a sorrir. Todo mundo desesperado, querendo nota alta, e eu ali apaixonado, podendo estudar.\\xa0Eu fui muito criticado quando no programa falei que n\\xe3o precisava do R$ 1,5 milh\\xe3o. Eu n\\xe3o tinha onde cair morto e falei isso. \\xc9 porque pobre de verdade nem divida consegue, nem cr\\xe9dito no banco tem. Se est\\xe1 devendo 200 mil n\\xe3o \\xe9 pobre. Eu precisava de 1 milh\\xe3o? N\\xe3o, minha d\\xedvida era de 10 mil. E eu sempre deixei claro que eu precisava era de uma condi\\xe7\\xe3o social para conseguir estudar e adquirir o conhecimento que me levasse a ser uma pessoa importante e que contribui de fato para o meu pa\\xeds. Claro que beijar, fazer cachorrada \\xe9 legal, mas isso n\\xe3o tira de mim toda a beleza de ser um acad\\xeamico, um estudante e de ter o meu papel como economista e como uma pessoa da m\\xeddia.\\nNa inf\\xe2ncia voc\\xea conviveu com a condi\\xe7\\xe3o de depend\\xeancia qu\\xedmica do seu pai, algo que nem todo mundo sabe. Como foi esse lado da sua vida?\\xa0Durante muito tempo foi um dos grandes traumas da minha. A gente fala na economia que s\\xe3o as externalidades: quando as minhas decis\\xf5es de consumo afetam as pessoas ao meu redor. Minha m\\xe3e teve que se desdobrar para cuidar de tr\\xeas filhos e tamb\\xe9m do meu pai. Al\\xe9m de ter que entender ele como um doente, tinha todo o estresse e a revolta de n\\xe3o ter o apoio do marido. Eu vi os surtos e as crises do meu pai, todos os altos e baixos. \\xc9 muito triste. As escolhas que eu tomei em minha juventude, muitas vezes, foram baseadas em meu pai, de onde n\\xe3o chegar. Ele era muito inteligente, com \\xf3timos empregos, mas se perdeu muito. Quando eu lembrava que tamb\\xe9m tinha todo esse talento, consegui colocar essa gen\\xe9tica para outra dire\\xe7\\xe3o."