Fabio Porchat e Crocas: por tras do Porta dos Fundos

Published: Dec. 4, 2020, 11 p.m.

b'O ator e fundador do Porta dos Fundos se junta a Christian Rôças, CEO da produtora, para falar sobre polêmicas, ameaças e sucesso\\n \\n O que come\\xe7ou com um grupo de amigos querendo fazer humor na internet se transformou, oito anos depois, em uma produtora destacada e parte da Viacom, um dos mais importantes conglomerados de m\\xeddia do mundo. O Porta dos Fundos, al\\xe9m do canal no YouTube com mais de 16 milh\\xf5es de inscritos, hoje produz programas para TV, como o Que Hist\\xf3ria \\xe9 essa Porchat?, da Globo, e o Greg News, da HBO, trabalha fazendo conte\\xfado para marcas e j\\xe1 fez filmes em parceria com a Netflix, como o especial de Natal\\xa0A \\xfaltima tenta\\xe7\\xe3o de Cristo, que no ano passado levou a sede da produtora a ser alvo de ataques com explosivos e chegou a ser censurado pela Justi\\xe7a do Rio de Janeiro.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/12/5fcaa1f2083d5/porta-dos-fundos-crocas-porchat-trip-fm-mq9.jpg; CREDITS=Divulga\\xe7\\xe3o; LEGEND=Christian R\\xf4\\xe7as, o Crocas, que se juntou ao Porta dos Fundos em 2019]\\nPara orquestrar as ideias e maluquices de seus criadores com os neg\\xf3cios de um empresa \\u2013 que s\\xf3 em 2020 cresceu 65% e est\\xe1 expandindo internacionalmente \\u2013, \\xe9 que Christian R\\xf4\\xe7as, o Crocas, se juntou ao Porta em 2019. No\\xa0Trip FM, ele se junta ao ator e roteirista\\xa0F\\xe1bio Porchat, um dos fundadores do grupo, para falar sobre os bastidores da empresa, as crises e o pr\\xf3ximo especial de Natal, "Teocracia em Vertigem", que ser\\xe1 lan\\xe7ado no dia 10 de dezembro: "Se jogaram bomba achando que iam nos calar, ent\\xe3o \\xe9 a hora de a gente pegar o dinheiro que a gente tem e investir em divulga\\xe7\\xe3o, para mostrar que n\\xe3o s\\xf3 a gente n\\xe3o vai se calar como a gente vai gritar o mais alto poss\\xedvel", afirma F\\xe1bio.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/12/5fcaa0924858d/porta-dos-fundos-crocas-porchat-trip-fm-mq8.jpg; CREDITS=Divulga\\xe7\\xe3o; LEGEND=Especial de Natal Porta dos Fundos]\\nTrip. Crocas, voc\\xea se tornou em dezembro do ano passado o CEO do Porta do Fundos. 2020 foi o seu primeiro ano nessa posi\\xe7\\xe3o e logo em mar\\xe7o entramos nesta pandemia que impactou o mundo todo. Me conta um pouco qual \\xe9 o seu papel dentro do Porta e como foi esse primeiro ano de atua\\xe7\\xe3o numa conjuntura t\\xe3o at\\xedpica e imprevista.\\nCrocas. Estou comemorando um ano exato no Porta. J\\xe1 passei por outros \\xe2ngulos da comunica\\xe7\\xe3o e faltava um deles que era a posi\\xe7\\xe3o do publisher, do creator, como est\\xe1 sendo chamado no mercado. Eu queria conhecer esse \\xe2ngulo de comunica\\xe7\\xe3o para poder me sentir mais completo profissionalmente, que \\xe9 um cuidado que eu tenho com a minha carreira, de pensar nela, cuidar dela. \\xc9 algo que faz parte de mim e eu gosto muito do que eu fa\\xe7o. Quando eu cheguei no Porta eu peguei um lugar onde tem muita gente talentosa, que amam o que elas fazem, amam a empresa muito fortemente, e, ao mesmo tempo, sabem que a empresa est\\xe1 num crescimento absurdo. \\xc9 muito grande o crescimento dentro e fora do Brasil, e precisa ser organizado, ter mais processo. O meu trabalho aqui \\xe9 liberar o caminho para que as pessoas possam brilhar. Acho que quanto menos eu apare\\xe7o, melhor, porque significa que algu\\xe9m que est\\xe1 desempenhando seu trabalho est\\xe1 conseguindo faz\\xea-lo bem feito, est\\xe1 conseguindo brilhar. Quando aconteceram os epis\\xf3dios da bomba e da censura eu tinha 18 dias aqui, um pouco menos. E eu me lembro de ter pensado: "Qual seria o lugar em que eu teria oportunidade de experimentar liderar uma empresa que passou por um ataque terrorista?". E depois dessa pergunta eu pensei: "Como eu gostaria que me liderassem nesse momento? O que eu gostaria que fizessem comigo se eu estivesse numa posi\\xe7\\xe3o de aguardar que algu\\xe9m resolva algo pela minha vida?". Porque t\\xeam os empregados, t\\xeam as suas fam\\xedlias, t\\xeam os seus empregos. Ent\\xe3o como a gente mant\\xe9m essa empresa viva, mais viva do que nunca? E foi isso o que aconteceu. Acho que as pessoas se agarraram ao ocorrido e ficaram com vontade de fazer o neg\\xf3cio virar mais ainda. \\xc9 um trabalho di\\xe1rio, n\\xe3o \\xe9 f\\xe1cil motivar as pessoas. Se eu quisesse contratar algu\\xe9m pelo lado ruim delas eu iria no psic\\xf3logo. A gente contrata as pessoas pelo lado bom delas, pelo que ela tem de melhor a oferecer, \\xe9 onde eu prefiro focar.\\nLEIA TAMB\\xc9M:\\xa0F\\xe1bio Porchat defende que nada fique ileso: religi\\xe3o, sexualidade, casamento e pol\\xedtica podem \\u2013 e devem \\u2013 virar piada\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/12/5fcaa0d4d8ffa/porta-dos-fundos-crocas-porchat-trip-fm-mq1.jpg; CREDITS=Bob Wolfenson ; LEGEND=Capa da revista Trip #282]\\nO Porta surgiu como uma reuni\\xe3o de amigos \\u2013 F\\xe1bio Porchat, Greg\\xf3rio Duvivier, Ian SBF, Jo\\xe3o Vicente de Castro e Ant\\xf4nio Tabet\\xa0\\u2013 fazendo humor na internet. De l\\xe1 pra c\\xe1, o Porta cresceu e se tornou e parte da Viacom, um dos mais importantes conglomerados de m\\xeddia do mundo. Como \\xe9 conciliar essa din\\xe2mica mais solta, criativa, do come\\xe7o do grupo, com a estrutura empresarial mais r\\xedgida?\\xa0\\nCrocas. \\xc9 um desafio, realmente. O que eu tento fazer \\xe9 com que eles n\\xe3o se preocupem com a parte administrativa, burocr\\xe1tica, ou se preocupem o menos poss\\xedvel, para fazer o que eles t\\xeam que fazer de melhor, que \\xe9 o criativo, rodar perfeitamente. Tem rituais que tem que seguir. N\\xe3o digo nem rotina, porque eu acho que a rotina \\xe9 o primeiro tiro que a gente d\\xe1 no p\\xe9 de um criativo. Eu tamb\\xe9m sou criativo e sei bem disso. O ritual faz com que voc\\xea agregue a equipe, junte as pessoas, que elas tamb\\xe9m se divirtam. Um dos rituais muito importantes que acontecem s\\xe3o as reuni\\xf5es de roteiro \\xe0s sextas-feiras. Toda sexta-feira, religiosamente, a gente se encontra com todos os s\\xf3cios-fundadores, mais os roteiristas, algumas pessoas da produ\\xe7\\xe3o e da dire\\xe7\\xe3o, e a gente aprova os roteiros. \\xc9 o momento que tem o lado chato \\u2013 quando voc\\xea entrega um roteiro que n\\xe3o rolou, n\\xe3o pegou \\u2013, mas \\xe9 um MBA o que acontece toda sexta. E tem a parte engra\\xe7ada, porque tem uns roteiros hil\\xe1rios que fazem a gente morrer de rir. Existe um balan\\xe7o natural que o pr\\xf3prio ritmo da companhia imp\\xf5e. Tem momentos que s\\xe3o muito s\\xe9rios e que a gente tem que lidar com uma empresa dentro da seriedade que ela exige, e tem muitos outros momentos que s\\xe3o muito divertidos e que a gente consegue passar por essas situa\\xe7\\xf5es de um jeito melhor. A agenda deles \\xe9 uma loucura, de todos eles. Eu digo para o F\\xe1bio Porchat, por exemplo, que eu n\\xe3o consigo dar conta nem de metade do dia dele. \\xc9 impressionante a quantidade de coisas que todos eles fazem o tempo inteiro. E sempre com o mesmo empenho, sempre com a mesma intensidade, para que seja muito bem feito, para que tenha qualidade. Ent\\xe3o o meu melhor trabalho \\xe9 tir\\xe1-los da burocracia o m\\xe1ximo que eu consigo, fazer com que as pessoas que precisam cuidar das burocracias cuidem cada vez melhor, para que eles fiquem soltos para criar.\\nVoc\\xea libera os criativos para serem criativos e assume a parte burocr\\xe1tica. Isso n\\xe3o te deixa um pouco frustrado? \\nCrocas. Eu acho que existe uma tend\\xeancia de as pessoas acharem que algu\\xe9m criativo n\\xe3o gosta de business, de falar de processos para organizar as coisas. E eu sou contr\\xe1rio, eu gosto das duas coisas. A criatividade \\xe9 percebida n\\xe3o como um talento seu, mas faz parte da sua fun\\xe7\\xe3o. Eu acho que como CEO, como financeiro, como advogado, todo mundo teria que ser criativo. As pessoas que s\\xe3o criativas em qualquer \\xe1rea sem ser s\\xf3 a da criatividade v\\xe3o se destacar mais. Eu consigo sentar para criar, para ter ideia, e ao mesmo tempo pensar em como fazer aquilo acontecer. Sen\\xe3o muitas vezes fica no campo s\\xf3 da ideia, e eu gosto das coisas feitas.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/12/5fcaa160cec1a/porta-dos-fundos-crocas-porchat-trip-fm-mq3.jpg; CREDITS=Bob Wolfenson ; LEGEND=Capa da revista Trip #282]\\nMe conta um pouco da tua trajet\\xf3ria, de onde voc\\xea veio, a sua forma\\xe7\\xe3o. \\nCrocas. Eu sou jornalista, me formei na UFRJ. Bem no comecinho, quando a internet estava virando comercial no Brasil, em 95, 96, eu estava cursando jornalismo e dei a sorte de ter um tio professor universit\\xe1rio, cientista de redes neurais, neur\\xf4nios artificiais. Ent\\xe3o eu convivi, nas visitas \\xe0 casa dele, com uns computadores gigantes, com fita ainda. Peguei os primeiros computadores chegando no Brasil na \\xe9poca que s\\xf3 mesmo a universidade tinha computador. E aquilo me encantou desde o come\\xe7o. Quando eu comecei a estudar, um dos meus primeiros est\\xe1gios foi numa revista que chamava Internet.br. N\\xe3o existia nem um buscador ainda, n\\xe3o tinha Google, o Cad\\xea surgiu depois disso. O meu trabalho era navegar e escrever dicas de sites para as pessoas navegarem. Eu fazia isso para a revista e, como eram muito poucos os jornalistas que trabalhavam nessa \\xe1rea, antes de me formar fui trabalhar em S\\xe3o Paulo. Passei por outras reda\\xe7\\xf5es, como a da Computerworld, sempre na \\xe1rea de como a tecnologia interfere na vida e no comportamento humano e vice-versa. E a\\xed eu dei uma sorte \\u2013 ou merecimento, enfim, cada um pensa do jeito que quiser \\u2013, de ser indicado para trabalhar com o Gilberto Gil. O Gil era ministro da Cultura na \\xe9poca, em 2007, e ele queria discutir direitos autorais, visto que o artista estava virando ve\\xedculo, produzindo o seu pr\\xf3prio conte\\xfado sem intermedi\\xe1rios. E foi um trabalho que me proporcionou muitas coisas. Eu digo que Flora Gil e Gilberto Gil s\\xe3o meus padrinhos profissionais. Sou muito grato \\xe0 fam\\xedlia, viajei mais de dois anos com eles em pa\\xedses que eu nunca imaginei que fosse conhecer, justamente produzindo conte\\xfado. Eu produzia tudo com um celular, para mostrar que o conte\\xfado poderia ser feito democraticamente por qualquer pessoa. E a\\xed acabou que eu montei uma empresa. Eu n\\xe3o esperava fazer isso. Os meus amigos publicit\\xe1rios diziam que tinha que ser curto o nome, mas como a empresa era n\\xe3o-convencional eu falei: "Beleza, vou colocar bem curtinho: Gruda em mim que o boi n\\xe3o te lambe". Era um nome enorme e aquilo de novo movimentou, as pessoas ficaram curiosas sobre o assunto. Quando eu vi eu estava trabalhando com Marisa Monte, Capital Inicial, Nando Reis, Bebel Gilberto, C\\xe9sar Menotti e Fabiano, Rock in Rio, Juliana Paes, um monte de talentos. A empresa cresceu muito e acabou sendo comprada pelo Grupo Artplan, que \\xe9 dono do Rock in Rio. Eu ajudei eles a implementarem o digital de multiplataformas dentro da Artplan. O Instagram estava chegando no Brasil e, em outubro de 2013, me fizeram uma proposta para trabalhar montando uma unidade nova na Am\\xe9rica Latina, que chamava media partnerships. Era para lidar com os criadores e com os ve\\xedculos de m\\xeddia, atletas, eventos. Eu fiquei l\\xe1 por 6 anos. Mudei de \\xe1rea internamente, fui para o creative shop, onde lan\\xe7aram a primeira novela no celular feita para a vertical, a gente fez o primeiro v\\xeddeo em 360\\xb0 da Am\\xe9rica Latina com a Ivete Sangalo. E ali eu senti que, dentro desse meu movimento de aprender outras \\xe1reas, eu precisava ver o que era viver na art\\xe9ria do creator com o qual eu lidava tanto dentro do Instagram e do Facebook. Surgiu a proposta no Porta dos Fundos para imaginar formatos, reimaginar a marca, fazer a marca crescer mais. Eu n\\xe3o digo reinventar porque n\\xe3o precisa nada ser reinventado, a empresa t\\xe1 \\xf3tima. Ela precisa ser reimaginada: o que mais d\\xe1 para fazer para expandir esse universo desse lugar incr\\xedvel?\\xa0\\nLEIA TAMB\\xc9M:\\xa0Yuri Mar\\xe7al: o youtuber e comediante carioca comenta as pol\\xeamicas envolvendo seu trampo e confessa: \\u201dA ironia est\\xe1 em tudo que eu fa\\xe7o\\u201d\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/12/5fcaa21cd19e6/porta-dos-fundos-crocas-porchat-trip-fm-mq5.jpg; CREDITS=Mariana Pekin; LEGEND=Fabio Porchat no pr\\xeamio Trip Transformadores 2019, com a homenageada Simone Mozzilli]\\n\\xc9 quase um paradoxo o quanto voc\\xeas est\\xe3o crescendo como empresa \\u2013 a associa\\xe7\\xe3o com a Viacom, produzindo para HBO, Globo e distribuidores digitais \\u2013 enquanto as organiza\\xe7\\xf5es mais convencionais est\\xe3o enfrentando um per\\xedodo dif\\xedcil. Qual tem sido a ferramenta mais importante para conseguir ter esse crescimento exponencial numa conjuntura de crise que tem abalado outras empresas do setor?\\nF\\xe1bio Porchat. Eu acho que \\xe9 uma somat\\xf3ria: a gente est\\xe1 no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas. O material humano do Porta dos Fundos ainda tem um frescor, uma luta pelo novo, pelo diferente, pelo ousado. E tem uma ousadia dif\\xedcil de manter quando voc\\xea vira establishment. Eu estava assistindo novamente v\\xeddeos do do primeiro m\\xeas de exist\\xeancia do Porta dos Fundos e falei: "A gente era muito doido mesmo!". A gente era maluco. Tem coisas muito legais, muito boas, e tem um desprendimento e um \'foda-se\' impl\\xedcito ali na gente muito bom, gostoso de ver. Olhando, eu penso: "Realmente, \\xe9 por isso que chamou aten\\xe7\\xe3o". Tem uma doideira fresca, nova, maluca, que \\xe9 muito muito positiva. Oito anos depois o Porta j\\xe1 se estabeleceu, j\\xe1 entrou para a cultura popular, n\\xe3o \\xe9 novidade para ningu\\xe9m, os atores que est\\xe3o l\\xe1 j\\xe1 s\\xe3o conhecidos. Diferente de 2012, quando a gente come\\xe7ou, \\xe9 mais dif\\xedcil ser ousado. O Porta tem mais telhado de vidro, tem mais olhar para ele, os tempos mudaram. Mas eu acho que o fato de a gente ter come\\xe7ado l\\xe1 em 2012, antes dos per\\xedodos de cancelamento, nos permitiu fazer um monte de coisas que talvez a gente n\\xe3o fizesse hoje. Sobre o fato de a gente estar estabelecido num momento como esse, est\\xe1 todo mundo indo para o digital e a gente j\\xe1 est\\xe1 s\\xf3lido no digital h\\xe1 oito anos, isso \\xe9 \\xf3timo. A gente est\\xe1 colhendo esse plantio de 2012, que sem querer querendo a gente mirou no que viu e acertou no que viu e no que n\\xe3o viu tamb\\xe9m. E esse material humano, que \\xe9 esse criativo do Porta dos Fundos e que a gente luta muito para cada vez trazer mais roteiristas, mais atores, localizar nomes e talentos, faz com que o Porta esteja sempre dando um refresh. Por um lado, a gente pode falar: "Poxa, saiu gente muito boa e muito importante". Tipo Lu\\xeds Lobianco, Clarice Falc\\xe3o,\\xa0J\\xfalia Rabello. Mas ao mesmo tempo entrou gente muito boa! Entrou o Rafael Portugal, a Evelyn Castro, a Tathi Lopes! Ent\\xe3o assim, essa reciclagem do Porta dos Fundos funciona muito porque tem novidade a todo momento, e a gente prima por gente engra\\xe7ada, gente boa, gente que tenha tamb\\xe9m um frescor. O que poderia ser uma coisa do tipo "a gente quer aquelas caras conhecidas do passado", uma coisa meio televisiva de ser, na internet a gente se renova. E tem um compromisso com o que n\\xf3s achamos que \\xe9 qualidade. "A gente acha isso engra\\xe7ado? A gente acha isso bom? A gente acha que isso \\xe9 um material bom de colocar no ar?". Se acha, a gente p\\xf5e. O Porta tem essa ess\\xeancia. A gente toda semana faz reuni\\xe3o de roteiro: eu, o Greg, o Jo\\xe3o e o Kibe, agora de nossas casas, mas com todos os roteiristas, e aprova todos os textos. Os textos v\\xe3o para a produ\\xe7\\xe3o e depois eles voltam para as nossas m\\xe3os. A gente v\\xea o v\\xeddeo, n\\xe3o gostou, joga fora. Embora tenha virado j\\xe1 uma ind\\xfastria, porque cresceu muito \\u2013 e ainda bem que cresceu \\u2013, a gente tenta com todas as for\\xe7as segurar o artesanal. Se o conte\\xfado n\\xe3o est\\xe1 bom, n\\xe3o lan\\xe7a. "Ih, mas vai perder dinheiro". N\\xe3o importa. A gente tem um compromisso com o nosso conte\\xfado.\\nIsso explica muito do que move voc\\xeas, mas no campo dos neg\\xf3cios n\\xe3o deve ser f\\xe1cil. Queria ouvir a sua vis\\xe3o, Crocas.\\nCrocas. Esse ano, mesmo com a pandemia, com a bomba do especial de Natal, com tudo o que teve, a gente vai crescer 65%. \\xc9 um crescimento muito forte. Ele acontece muito por uma resili\\xeancia da equipe. \\xc9 incr\\xedvel ver o que ela entrega. Tem hora que \\xe9 inacredit\\xe1vel ver a qualidade do capital humano do lugar. Mas eu argumento bastante, \\xe0s vezes eu falo: "F\\xe1bio, posso te ligar?", "Olha, pensa nisso, tem aquilo..."\\xa0\\nF\\xe1bio. O Crocas \\xe9 o esquadr\\xe3o anti-sequestro. Sabe aquele cara que negocia, que vai sem colete \\xe0 prova de balas e entra na parada, o Marcelo Freixo com a CPI das Mil\\xedcias? \\xc9 isso, ele negocia com todos os lados, negocia com o pessoal do dinheiro, negocia com os s\\xf3cios, e fala: "Jamais faremos isso\'\'. Ele fica nesse lobby, \\xe9 o nosso lobista. \\xc9 um sonho, porque agora a gente pode s\\xf3 ter ideia. Eu n\\xe3o quero ficar discutindo para saber se a gente tem que vender para a Pol\\xf4nia, eu quero que se dane, quero escrever meu roteiro. E o Crocas agiliza muito a vida nesse sentido, ele vai fazendo acontecer.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/12/5fcaa2ac8862e/porta-dos-fundos-crocas-porchat-trip-fm-mq4.jpg; CREDITS=Gabriel Rinaldi ; LEGEND=F\\xe1bio Porchat, capa da revista Trip #240]\\nLEIA TAMB\\xc9M:\\xa0Sem medo de mudan\\xe7as, o ator e humorista Rafael Infante fala sobre o retorno ao Porta dos Fundos, sucesso e o trabalho art\\xedstico em meio \\xe0 pandemia\\nRecentemente um v\\xeddeo do Porta gerou pol\\xeamica. Nele, a personagem \\xe9 uma vereadora do partido Novo que teria sido a mais votada de Curitiba, e esse desempenho nas urnas est\\xe1 relacionado \\xe0 sua vida sexual. A verdadeira vereadora mais eleita de Curitiba, Indiara Barbosa, se sentiu atacada, e muita gente na internet criticou o grupo pelo machismo da esquete. A atitude de voc\\xeas foi tirar o v\\xeddeo do ar e se desculpar. Como \\xe9 que se d\\xe1 a gest\\xe3o de uma situa\\xe7\\xe3o desse tipo?\\xa0\\nF\\xe1bio. A gente tem que ficar 24 horas atento e olhando nas redes tudo o que est\\xe1 acontecendo. Tudo pode gerar alguma quest\\xe3o a qualquer momento. Nunca imaginamos que o Jesus gay do especial de Natal pudesse gerar o que gerou. At\\xe9 de lugares que a gente menos imagina pode surgir alguma coisa. O humor \\xe9 para fazer rir, \\xe9 para ser engra\\xe7ado, e tudo pode desviar da piada, qualquer detalhezinho pode fazer com que a linha reta para o humor transforme a piada numa outra coisa que n\\xe3o \\xe9 o que a gente queria originalmente. Nesse caso do v\\xeddeo da vereadora, foi uma coincid\\xeancia, porque esse personagem que o Joel faz tem 11 anos. N\\xe3o tinha nada a ver com a candidata a vereadora que ganhou em Curitiba. Era uma brincadeira para sacanear o Partido Novo. S\\xf3 que, por acaso, a vereadora mais votada em Curitiba era do Novo, e a\\xed pareceu que aquele personagem era uma caricatura dela, e \\xe9 zero isso. Era uma brincadeira com uma mulher que \\xe9 uma personagem sem no\\xe7\\xe3o, que pula a janela para fumar, que estava indo nessa trilha, mas, por um infeliz coincid\\xeancia \\u2013 e a gente bobeou, l\\xf3gico \\u2013, a trilha foi para o outro lado. Como se a nossa esquete fosse sobre uma mulher da qual a gente nem sabia. E o Porta levanta a bandeira de mais mulheres na pol\\xedtica, l\\xf3gico. S\\xf3 que \\xe9 isso, na com\\xe9dia uma v\\xedrgula pode transformar piada. E foi o que aconteceu. Esse fato, do qual a gente ignorantemente n\\xe3o se atentou, desviou a piada. E a\\xed a piada perde. Perdeu a gra\\xe7a, tira do ar e reconfigura isso.\\nCrocas. Eu gosto de crise. Acho que o momento da crise \\xe9 a hora de voc\\xea botar a bola no ch\\xe3o, sem emo\\xe7\\xe3o, ou com menos emo\\xe7\\xe3o poss\\xedvel, e identificar: o que est\\xe1 sendo apontado faz sentido? A gente tem a oportunidade de melhorar dentro disso? Se tiver, tem que vestir a carapu\\xe7a mesmo e dizer: "Estamos errados. Obrigado por avisar e vamos melhorar". Eu acho que quando a gente mete a cabe\\xe7a no buraco que nem avestruz \\xe9 o pior caminho, porque voc\\xea est\\xe1 ouvindo ali um feedback para voc\\xea melhorar e est\\xe1 fingindo que n\\xe3o acontece. Quando come\\xe7am a acontecer situa\\xe7\\xf5es assim eu fico acompanhando muito de perto e tento acomodar. O F\\xe1bio falou que eu sou um lobista. Na verdade eu acho que eu consigo, com algum tipo de gentileza, dizer: "Eu j\\xe1 entendi esse ponto, mas tem esse outro aqui, voc\\xea j\\xe1 prestou aten\\xe7\\xe3o nele?". Por mais chato que seja, \\xe9 uma fun\\xe7\\xe3o que algu\\xe9m tem que fazer. Conforme isso \\xe9 conversado, trabalhado, exercitado, a gente tem a op\\xe7\\xe3o de melhorar. Eu posso escolher melhorar e piorar, prefiro melhorar.\\nO especial de Natal do Porta dos Fundos j\\xe1 virou tradi\\xe7\\xe3o no grupo, sendo produzido desde 2013. Na semana que vem ser\\xe1 lan\\xe7ado o deste ano. Conta um pouco como vai ser esse especial.\\nF\\xe1bio.\\xa0Chama-se Teocracia em Vertigem e vai ser lan\\xe7ado no nosso canal do YouTube. \\xc9 um document\\xe1rio sobre o golpe que levou \\xe0 crucifica\\xe7\\xe3o de Jesus Cristo. S\\xe3o 25 depoimentos fazendo um paralelo muito pr\\xf3ximo e real com a nossa pol\\xedtica, com o que tem acontecido de 2013 pra c\\xe1, com refer\\xeancias expl\\xedcitas e claras. Foi uma ideia brilhante do Gabriel Esteves, nosso redator. A gente ficou pensando: "Como \\xe9 que vamos gravar na pandemia? N\\xe3o pode nem contracenar". E ele falou: "Por que n\\xe3o fazer um document\\xe1rio? O ator vai estar sozinho, vai dar o depoimento para a c\\xe2mera". Ele mesmo falou Teocracia em Vertigem, e eu achei brilhante, peguei essa ideia e escrevi o roteiro, como sempre fa\\xe7o. Todos os especiais de Natal eu sempre escrevi, alguns sozinho como esse, alguns em parceria. Eu quero ver todo mundo assistindo e identificando quem s\\xe3o as refer\\xeancias, do que a gente est\\xe1 falando, \\xe9 quase um jogo dos mil erros. Tem os bolsominions falando ali, tem os terraplanistas falando: "\\xc9 isso mesmo, se Jesus voltar eu mato ele de novo". O cidad\\xe3o de bem vai estar muito representado, e a gente tem os depoimentos de gente pr\\xf3xima, de ap\\xf3stolos, da m\\xe3e, de Madalena, dando um olhar olhar de dentro, de quem era realmente Jesus. E ent\\xe3o culmina no depoimento final de Jesus, que inclusive \\xe9 este que vos fala, e Jesus prefere n\\xe3o falar porque ele j\\xe1 falou e n\\xe3o deu certo, e escrever n\\xe3o surtiu efeito. Jesus prefere cantar e a gente termina o nosso especial, para j\\xe1 dar um spoilerzinho, com o maior clipe de rap que voc\\xea vai ver na sua vida.\\nCrocas. O convite \\xe9 para que n\\xe3o assistam, a gente acha que n\\xe3o devem assistir.\\xa0\\nF\\xe1bio. Essa \\xe9 a primeira vez que o Porta dos Fundos divulga o especial de Natal. A gente tem avi\\xf5ezinhos na praia com um cartaz sendo puxado "Jesus est\\xe1 voltando". Temos outdoors em Atibaia na frente de casas de advogados. N\\xf3s temos an\\xfancios na TV, an\\xfancios no jornal. Se jogaram bomba achando que iam nos calar, ent\\xe3o \\xe9 a hora de a gente pegar o dinheiro que tem e investir em divulga\\xe7\\xe3o, para mostrar que n\\xe3o s\\xf3 a gente n\\xe3o vai se calar como a gente vai gritar o mais alto poss\\xedvel.\\nLEIA TAMB\\xc9M:\\xa0Paulo Vieira fala sobre racismo, televis\\xe3o, e o lado amargo da com\\xe9dia\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2020/12/5fcaa2f490ad9/porta-dos-fundos-crocas-porchat-trip-fm-mq7.jpg; CREDITS=Acervo Trip; LEGEND=F\\xe1bio Porchat em grava\\xe7\\xe3o do Trip FM em agosto de 2019]\\nEsse especial deve ser uma coisa relativamente cara em termos de produ\\xe7\\xe3o, envolve um elenco grande. Pela vis\\xe3o dos neg\\xf3cios, \\xe9 algo que gera um retorno ou tem mais a ver com fixar o discurso da marca? O que pesa mais na hora de decidir por fazer uma produ\\xe7\\xe3o cara para o YouTube?\\nCrocas. O especial do Porta virou o Super Bowl brasileiro, as pessoas o est\\xe3o esperando cada vez mais. A analogia \\xe9 que quanto mais forte a marca do Porta estiver, melhor o resultado. Ent\\xe3o \\xe9 um projeto que a gente acredita e se provou que quanto mais ele for incr\\xedvel, quanto mais a gente se dedicar a ele e for muito aut\\xeantico no que a gente acredita, melhor ressoa na nossa marca e ao longo do ano a gente vai colhendo os frutos. Apesar de parecer que vai mais para o lado negativo, muito pelo contr\\xe1rio. Como falei, a nossa empresa cresceu 65% esse ano. \\xc9 um projeto de marca que mostra cada vez mais que o Porta dos Fundos \\xe9 o Brasil que deu certo, que est\\xe1 exportando conte\\xfado, que mostra a sua diversidade e a sua inova\\xe7\\xe3o, o seu frescor, a sua n\\xe3o-caretice, o n\\xe3o-arcaico, n\\xe3o-atrasado. A inten\\xe7\\xe3o do especial de Natal \\xe9 justamente essa: refor\\xe7ar a nossa marca, o DNA do Porta. N\\xe3o tem mais Natal no Brasil sem ter um especial do Porta dos Fundos. Isso vai ficar cada vez mais presente. E, de novo, n\\xe3o assistam. Todo mundo tem um direito democr\\xe1tico de n\\xe3o assistir. N\\xe3o quer ver, n\\xe3o veja.\\nPara fechar, o que voc\\xeas gostariam de perguntar um para o outro que ainda n\\xe3o tiveram a oportunidade?\\nF\\xe1bio. Eu queria saber do Crocas qual era o maior medo dele, olhando de fora, antes de estar dentro do Porta, de dar errado quando ele se juntasse a n\\xf3s?\\nCrocas. O maior medo era que voc\\xeas n\\xe3o se dessem bem. Eu acho que esse \\xe9 o pior dos cen\\xe1rios.\\xa0\\nF\\xe1bio. Que fosse tudo fachada?\\nCrocas. Que fosse uma fachada, que na verdade voc\\xeas n\\xe3o fossem amigos e que as pessoas da empresa n\\xe3o n\\xe3o tivessem bem umas com as outras. Trabalhar num lugar criativo quando voc\\xea n\\xe3o admira o outro \\xe9 muito preocupante.\\nF\\xe1bio. E quando voc\\xea descobriu que isso era verdade? (risos)\\nCrocas. Eu acho que voc\\xeas s\\xe3o amigos-irm\\xe3os. Irm\\xe3o \\xe9 aquele com quem se pode brigar e depois j\\xe1 est\\xe1 amigo de novo. Isso faz uma diferen\\xe7a em manter uma qualidade alta. Quando voc\\xea n\\xe3o se importa em dar a sua real verdade sobre alguma opini\\xe3o, a\\xed \\xe9 um problema, porque voc\\xea virou fake, virou uma falsiane na hist\\xf3ria. E voc\\xea, F\\xe1bio, quando voc\\xea viu que eu ia entrar, qual era seu principal medo?\\xa0\\nF\\xe1bio. Ah, com qualquer um que fosse entrar o nosso maior medo era de que a pessoa quisesse de alguma forma se envolver muito no criativo, se apegasse muito a isso. A gente sabia que esse n\\xe3o era nosso problema, n\\xe3o era o criativo que a gente estava precisando. Se uma pessoa entrasse querendo dar ideia, querendo entrar no mundo ali, poderia causar uma certa estranheza. E tamb\\xe9m lidar com a equipe, com as pessoas, ao chegar de fora e j\\xe1 encontrar uma empresa funcionando. O nosso medo era: "Como esse cara vai lidar com todo mundo, potencializar o que a gente quer e entender a nossa maluquice?". Porque somos cinco artistas, bem diferentes um do outro, era muito importante que ele entendesse a cabe\\xe7a dos cinco. O que esses cinco "irm\\xe3os\'\' fazem, acham, acreditam e discordam um do outro. Como lidar com esses cinco que s\\xe3o cada um de um jeito. Tem que saber lidar, tem um jeitinho para cada um. M\\xe3e n\\xe3o \\xe9 aquela que fala: "Eu criei meus filhos igual". Isso \\xe9 p\\xe9ssimo, porque eles n\\xe3o s\\xe3o iguais, n\\xe3o adianta criar igual. O neg\\xf3cio \\xe9 quando fala "eu criei um diferente outro", porque um gosta de sair para a piscina, o outro n\\xe3o gosta, outro gosta de subir no teto, outro gosta de ficar quieto. Era um pouco isso, de conseguir lidar com a gente e entender a cabe\\xe7a de cada um.'