Dexter: Para cada Djamila existe um Fernando Holiday

Published: Oct. 8, 2021, 11 p.m.

b'"Ao mesmo tempo em que temos personalidades negras tentando fazer com que nosso povo marche para frente, outros andam na contramão"\\n \\n Dos 48 anos que o rapper Dexter tem de vida, treze foram vividos na pris\\xe3o. De dentro do Carandiru, ele se reinventou, investiu na m\\xfasica e criou uma trajet\\xf3ria de sucesso. Mas isso s\\xe3o \\xe1guas passadas: fica cada vez mais incoerente come\\xe7ar a contar a sua hist\\xf3ria pelo c\\xe1rcere. Nem mesmo o rap \\xe9 o suficiente para defini-lo. Hoje, o cantor \\xe9 tamb\\xe9m ator e se arrisca como sambista \\u2013 quem acompanha os shows do P\\xe9ricles e do Salgadinho, por exemplo, sabe de suas participa\\xe7\\xf5es. \\xc9 at\\xe9 um discreto amante da moda, mas tem mantido o visual imutado para preservar as caracter\\xedsticas do personagem CD, papel que interpreta na s\\xe9rie Pico da Neblina, da HBO, que est\\xe1 em grava\\xe7\\xe3o da segunda temporada.\\n[VIDEO=https://www.youtube.com/embed/a6K0nzM88c4; CREDITS=; LEGEND=; IMAGE=https://img.youtube.com/vi/a6K0nzM88c4/sddefault.jpg]\\nDexter \\xe9 ainda uma potente arma na busca por uma sociedade mais justa e igualit\\xe1ria. Dos projetos sociais que participa, destaca-se o Trampo Justo, em parceria com o juiz Iber\\xea Diase, voltado a jovens assistidos por casas de acolhimento que, aos 18 anos, precisam deixar as institui\\xe7\\xf5es onde moram para encarar o mundo sozinhos.\\nNada disso parece ser poss\\xedvel, no entanto, se o compositor, como ele mesmo conta, n\\xe3o tivesse decidido crescer intelectualmente. Na pris\\xe3o, escolheu o caminho dos livros e hoje procura semear a informa\\xe7\\xe3o. Quando perguntado o que acha do entretenimento que glamouriza a vida do crime, responde: "Glamour \\xe9 ler". E embora reconhe\\xe7a que uma s\\xe9rie de figuras importantes e conscientes tenham assumido a frente na luta contra o racismo, lamenta aqueles que parecem jogar contra. "Ao mesmo tempo em que temos Preto Zez\\xe9, Silvio de Almeida, Djamila e diversas personalidades negras tentando fazer com que o nosso povo marche para frente, temos tamb\\xe9m Fernando Holiday e Sergio Camargo andando na contram\\xe3o, sendo contra tudo aquilo que acreditamos".\\nEm um papo com o Trip FM, Dexter conta ainda sobre a m\\xe3e, uma gari que decidiu adot\\xe1-lo com um m\\xeas de idade. Confira no player, no Spotify ou leia um trecho da entrevista abaixo.\\nLEIA TAMB\\xc9M: Com o projeto\\xa0Trampo Justo, Dexter e o juiz Iber\\xea Dias ajudam jovens em casas de acolhimento\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2021/10/615f38a29a94d/dexter-rapper-cantor-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Mariana Pekin / TRIP Editora; LEGEND=Dexter no palco do Trip Transformadores, de 2019; ALT_TEXT=Dexter ]\\nTrip FM. Deve fazer uns tr\\xeas anos que n\\xe3o nos falamos. De l\\xe1 at\\xe9 aqui, na sua vis\\xe3o, existiu uma melhora na situa\\xe7\\xe3o do povo preto ou ainda continua muito sofrido e baixo o n\\xedvel de equidade?\\nDexter. Ao mesmo tempo em que temos Preto Zez\\xe9, Silvio de Almeida, Djamila Ribeiro e diversas personalidades negras tentando fazer com que o nosso povo marche para frente, temos tamb\\xe9m Fernando Holiday e Sergio Camargo andando na contram\\xe3o, sendo contra tudo aquilo que acreditamos. O fato de termos pessoas capacitadas \\xe0 frente, discutindo, j\\xe1 \\xe9 uma melhora consider\\xe1vel. \\xc9 um momento de uma briga muito dura. Estamos no front, a gente est\\xe1 batendo, mas continuamos apanhando para caralho. Existem negros que s\\xe3o contra as cotas, contra personalidades que s\\xe3o refer\\xeancia para n\\xf3s. Por isso que a juventude precisa entender a import\\xe2ncia dessa caminhada: muita coisa est\\xe1 nas m\\xe3os deles. Tem um monte de gente no ringue brigando pela melhora do nosso povo, pela melhora do Brasil. Quando a diversidade entra no eixo, todo mundo ganha, porque a gente consome, constr\\xf3i.\\nMe conta do planeta samba. Sei que n\\xe3o \\xe9 de hoje que voc\\xea tem essa conex\\xe3o, mas agora parece que de fato voc\\xea pousou nele.\\xa0Eu gosto de MPB, do sertanejo raiz, da m\\xfasica que me faz bem. O rap \\xe9 o meu carro-chefe, mas o samba sobretudo \\xe9 uma m\\xfasica que me convence e me alegra muito. De uns anos para c\\xe1 tenho feito muita participa\\xe7\\xe3o. Com o P\\xe9ricles, com o Salgadinho, por exemplo. E eles aparecem nos meus shows tamb\\xe9m, o que mostrou para alguns cr\\xedticos que rap \\xe9 m\\xfasica, sim. Por muito tempo o rap me fez ficar preso. Os pr\\xf3prios f\\xe3s acreditam com veem\\xeancia que rapper n\\xe3o pode fazer outra coisa. Mas quando eu comecei a circular no samba e as pessoas come\\xe7aram a ver, eles passaram a me compreender e a aceitar. Quando eu lancei o samba, gra\\xe7as a Deus s\\xf3 vieram elogios.\\xa0\\nA gente que faz revista, r\\xe1dio e propaganda carrega um pouco a culpa de criar desejo na cabe\\xe7a das pessoas ao mesmo tempo que grande parte da popula\\xe7\\xe3o n\\xe3o tem dinheiro para comprar um bife. Como voc\\xea lida com isso, com o moleque que de repente que vai querer comprar um t\\xeanis porque viu voc\\xea usando?\\xa0Eu fui uma crian\\xe7a privada de muita coisa, mas hoje meu sustento me garante algum consumo. Acho que devo ter essa liberdade para usufruir, pois foi o suor que me deu. O que tento fazer \\xe9 dizer nas minhas letras e entrevistas que a juventude precisa conquistar. A gente sabe das dificuldades que o Brasil apresenta para eles, mas o que me resta \\xe9 acreditar no que proponho, que \\xe9: leia, se informe e busque a sua liberdade. Martin Luther King j\\xe1 dizia que a liberdade jamais vai ser dada pelo opressor. A maneira de n\\xe3o me culpar \\xe9 dizendo ao jovem que ele precisa conquistar. Nesse pa\\xeds, com honestidade, s\\xf3 se conquista batalhando. A minha m\\xfasica explica para eles que n\\xe3o \\xe9 preciso passar pela etapa que eu passei, que \\xe9 o crime.'