Carla Di Pierro: A peca que falta na selecao brasileira

Published: Nov. 25, 2022, 11 p.m.

b'Psicóloga do Comitê Olímpico discute importância do cuidado da mente, os perigos do esporte de alta performance e da superexposição \\n \\n Com 60 membros, apenas duas mulheres e nenhum especialista em sa\\xfade mental, \\xe9 poss\\xedvel argumentar que a pe\\xe7a que falta para a delega\\xe7\\xe3o do Brasil na Copa do Catar seja Carla Di Pierro, a psic\\xf3loga esportiva do Comit\\xea Ol\\xedmpico Brasileiro, o COB, e tamb\\xe9m da sele\\xe7\\xe3o masculina de v\\xf4lei. Uma das maiores autoridades da sua \\xe1rea no pa\\xeds ela argumenta: \\u201c\\xc9 uma pena para os atletas e para a comiss\\xe3o. O Ronaldo colapsou em 1998 e foi uma quest\\xe3o emocional. Neste quesito o esporte ol\\xedmpico est\\xe1 muito a frente, pois os atletas procuram orienta\\xe7\\xe3o e o pr\\xf3prio comit\\xea est\\xe1 interessado em divulgar esse cuidado\\u201d.\\nParte tamb\\xe9m da equipe da maratonista aqu\\xe1tica e campe\\xe3 ol\\xedmpica Ana Marcela, do nadador Bruno Fratus e do surfista Gabriel Medina, Carla se formou em psicologia na PUC de S\\xe3o Paulo e ganhou o respeito da comunidade esportiva por misturar a sabedoria do esporte - \\xe9 triatleta e surfista - que diz ter herdado da m\\xe3e com o rigor cient\\xedfico que puxou do pai, o famoso matem\\xe1tico Scipione Di Pierro Netto.\\nEm um papo com o Trip FM, ela fala ainda dos perigos do esporte de alta performance, do espa\\xe7o da mulher nos bastidores, da superexposi\\xe7\\xe3o dos atletas e mais. Confira um trecho abaixo, escute o programa no play ou procure a conversa completa no Spotify.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2022/11/6380f8fa2ea76/carla-di-pierro-psicologa-do-cob-tripfm-mh.jpg; CREDITS=Divulga\\xe7\\xe3o; LEGEND=Carla Di Pierro; ALT_TEXT=Carla Di Pierro]\\nTrip. Como faz para encontrar um ponto de equil\\xedbrio entre a press\\xe3o que \\xe9 motivadora para o atleta e a press\\xe3o que \\xe9 destruidora?\\nCarla Di Pierro. A gente tem visto n\\xe3o s\\xf3 as pessoas comuns, mas tamb\\xe9m os atletas colapsando: \\xe9 uma mistura do estresse f\\xedsico e emocional em busca da excel\\xeancia. O que estamos descobrindo \\xe9 que a psicologia do esporte existe n\\xe3o s\\xf3 para o atleta render mais e se concentrar melhor. N\\xf3s estamos ali para cuidar da sa\\xfade emocional dele tamb\\xe9m. Se esse atleta n\\xe3o estiver bem, ele n\\xe3o vai entregar resultado e se entregar vai ser uma vez s\\xf3, pois o custo desse esfor\\xe7o vai ser muito alto para a sua sa\\xfade. \\xc9 preciso organizar todo o ambiente, o que inclui fam\\xedlia, treinador e toda a equipe. Quebrar a cabe\\xe7a \\xe9 muito pior do que quebrar o joelho. O joelho a gente arruma atrav\\xe9s de um protocolo com come\\xe7o, meio e fim. A nossa cabe\\xe7a, se entra em um burnout, vai depender muito mais de como cada um reage. Atleta que passou por situa\\xe7\\xf5es de abuso ou que foram muito pressionados v\\xe3o ter limita\\xe7\\xf5es futuras. A gente quer trabalhar com o atleta mantendo, apesar da press\\xe3o, uma rotina saud\\xe1vel. A gente precisa entender que a maioria dos atletas ol\\xedmpicos s\\xe3o jovens e n\\xe3o tem todos os repert\\xf3rios desenvolvidos para dar conta de tudo; por isso que a psicologia \\xe9 t\\xe3o importante.\\nExiste alguma explica\\xe7\\xe3o para a sele\\xe7\\xe3o brasileira n\\xe3o ter levado nenhum psic\\xf3logo do esporte para o Catar?\\xa0Tinha que ter um psic\\xf3logo do esporte com a sele\\xe7\\xe3o. \\xc9 uma pena para os atletas e para a comiss\\xe3o. O Ronaldo colapsou em 1998 e foi uma quest\\xe3o emocional. Neste quesito o esporte ol\\xedmpico est\\xe1 muito a frente. Os atletas pedem orienta\\xe7\\xe3o e o pr\\xf3prio comit\\xea est\\xe1 interessado em divulgar esse cuidado, porque houveram, inclusive, casos de suic\\xeddio. Ao mesmo tempo \\xe9 dif\\xedcil ser um profissional da sele\\xe7\\xe3o, porque diferente dos meus atletas que eu vejo diariamente, na sele\\xe7\\xe3o voc\\xea s\\xf3 consegue atender em um determinado per\\xedodo de tempo, que e quando eles se re\\xfanem. E nesse tempo \\xe9 preciso estabelecer v\\xednculo, entender a hist\\xf3ria de cada um, conhecer e ser bem-vinda pela comiss\\xe3o t\\xe9cnica\\u2026 Mas a gente precisa come\\xe7ar a criar uma hist\\xf3ria de um trabalho de sa\\xfade mental dentro das sele\\xe7\\xf5es. Na sele\\xe7\\xe3o de v\\xf4lei isso j\\xe1 est\\xe1 sendo feito.\\nJ\\xe1 se fala que o esporte de alta performance \\xe9 nocivo \\xe0 sa\\xfade. O que acha disso?\\xa0Est\\xe1 ultrapassada a ideia do sem dor, sem ganho. A gente tem uma ci\\xeancia hoje que mostra que a recupera\\xe7\\xe3o \\xe9 t\\xe3o ou mais importante do que o treino. A gente tem m\\xe9todos para controlar carga, estresse f\\xedsico e emocional. N\\xe3o existe mais essa de quebrar o atleta para ele ter o resultado. O atleta hoje tem no\\xe7\\xe3o de que ele pode e deve tomar decis\\xf5es que tem a ver com o autocuidado dele. Quando a Simone Biles diz que n\\xe3o vai competir, ela sabia desse direito. Foi o que o Gabriel Medina fez tamb\\xe9m. O que poderia acontecer se ele entrasse em uma onda perigosa n\\xe3o estando bem emocionalmente?\\nO que \\xe9 mais perigoso para o atleta: o excesso de dinheiro ou a superexposi\\xe7\\xe3o?\\xa0A superexposi\\xe7\\xe3o \\xe9 mais nociva para o atleta do que o excesso de dinheiro, sem d\\xfavida. Eles s\\xe3o vigiados e muito acessados via redes sociais, onde recebem muitas cr\\xedticas e se sentem na obriga\\xe7\\xe3o de corresponder a expectativa de todo mundo. A internet provoca muita ansiedade em todos os atletas e ao mesmo tempo eles n\\xe3o podem abrir m\\xe3o disso porque \\xe9 ali que divulgam os patrocinadores. Sabemos tamb\\xe9m que o celular cria depend\\xeancia e tem impactado muito o sono do atleta, que \\xe9 essencial. \\xc9 preciso estabelecer autocontrole.'