Ana Michelle Soares: O que existe esta no presente

Published: Feb. 11, 2022, 11 p.m.

b'Fundadora da Casa Paliativa, a jornalista acolhe pacientes com doenças graves para falar sobre dor, autoconhecimento e vida\\n \\n Ana Michelle Soares est\\xe1 viva agora. \\xc9 neste espa\\xe7o de tempo, no presente, em que ela escreve, ajuda outras pessoas e faz planos para o futuro. Diagnosticada com c\\xe2ncer de mama metast\\xe1tico h\\xe1 quase uma d\\xe9cada, ela espera poder viver mais dez anos, mas aprendeu a n\\xe3o condicionar a sua felicidade ao que est\\xe1 por vir. Em vez disso, usa as horas que tem para se dedicar a Casa Paliativa, projeto criado junto com a m\\xe9dica Ana Claudia Quintana Arantes para acolher pacientes com doen\\xe7as graves e falar sobre dor, autoconhecimento e vida. Luta tamb\\xe9m por uma medicina mais humana na qual m\\xe9dicos n\\xe3o minimizem a dor do doente.\\nRecentemente, a jornalista lan\\xe7ou o livro "Vida Inteira", uma reflex\\xe3o aberta e verdadeira sobre diversos momentos de sua vida, o que inclui o t\\xe9rmino de um casamento abusivo. "Me sentia muito mais morta vivendo uma rela\\xe7\\xe3o abusiva do que me sinto tendo uma doen\\xe7a grave. Hoje, cada c\\xe9lula do meu corpo est\\xe1 viva e a fim desse rol\\xea do jeito que ele se apresenta", diz.\\nAna bateu um papo com o Trip FM sobre sua inf\\xe2ncia, a experi\\xeancia transformadora da ayahuasca, maconha, e \\u2013 como n\\xe3o poderia deixar de ser \\u2013 vida e morte. Confira no play ou leia um trecho a seguir.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2022/02/620546843ef40/ana-michelle-soares-cancer-cuidados-paliativos-tripfm-mh.jpg; CREDITS=Divulga\\xe7\\xe3o; LEGEND=Ana Michelle Soares; ALT_TEXT=Ana Michelle Soares]\\nTrip. Eu queria voltar l\\xe1 para tr\\xe1s: como era a sua fam\\xedlia de origem? Em que lugar voc\\xea nasceu e de que jeito voc\\xea veio para o mundo?\\nAna Michelle Soares. As pessoas acabam querendo contar a minha hist\\xf3ria a partir de um diagn\\xf3stico. \\xc9 muito dif\\xedcil entender como eu me conecto com a vida sem dizer que tive uma inf\\xe2ncia sofrida. Por isso gosto dessa pergunta. Nasci em uma cidade sat\\xe9lite de Bras\\xedlia chamada Gama. A gente j\\xe1 cresceu precisando sobreviver \\xe0s dores sociais. Ainda beb\\xea, tive uma h\\xe9rnia durante um per\\xedodo de greve dos hospitais. Minha m\\xe3e chorava e ningu\\xe9m podia me atender. Meu pai precisou implorar por uma cirurgia em uma cl\\xednica particular. Eu venho deste contexto, de uma fam\\xedlia que tentou melhorar a condi\\xe7\\xe3o para os filhos. Meu pai assumiu esse compromisso.\\nO que voc\\xea aprendeu sobre dinheiro nesse percurso de entender a vida e a morte?\\xa0Fui diagnosticada com 28 anos. De repente esse muro da finitude foi me apresentado em uma \\xe9poca em que se planeja tudo: casa, carro, filhos. Depois do adoecimento, comecei a olhar para as m\\xeddias sociais e observei o sofrimento das pessoas com o dia \\xfatil. E como \\xe9 um paradoxo usar essa palavra, pois a gente transforma esse dia em in\\xfatil. Ningu\\xe9m coloca na conta de vida esse espa\\xe7o de tempo que para o nosso cotidiano \\xe9 importante; todo mundo precisa de moeda, de dinheiro. Ningu\\xe9m vive de luz e amor. O trabalhar virou um sofrimento para que se ganhe um pouco de felicidade no fim de semana. \\xc9 preciso ressignificar isso ou procurar algo que deixe a sua alma mais em paz nesse dia \\xfatil. As pessoas t\\xeam medo de serem felizes.\\nVoc\\xea \\xe9 muito generosa no seu livro em compartilhar experi\\xeancias. Eu queria saber melhor de uma delas, com a ayahuasca, como foi isso?\\xa0Ela veio durante uma busca espiritual, uma inquieta\\xe7\\xe3o que sempre tive com a ideia de que a gente precisa temer a Deus. Pesquisando alternativas, cheguei nas praticas xam\\xe2nicas e na ayahuasca. Foi realmente um antes e depois. O que mais me impactou foi a dimens\\xe3o de tempo. Me pareceu \\xf3bvio que tudo que existe est\\xe1 neste momento: n\\xe3o vou me chicotear pelo que j\\xe1 foi. Mas isso tamb\\xe9m n\\xe3o significa que estou presa ao presente. Posso estar morta na semana que vem e mesmo assim fa\\xe7o planos. S\\xf3 n\\xe3o dependo deles para ter um pouco de felicidade.'