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b'Nascida em Diadema, na periferia de SP, a atriz que trabalhou como babá aos 10 anos, se tornou um dos grandes nomes das séries brasileiras\\n \\n \\u201cEm rela\\xe7\\xe3o \\xe0 minha sa\\xedda de vida, hoje estou milion\\xe1ria. E constru\\xed com o dinheiro do meu trabalho como artista no Brasil, como mulher negra. Tenho uma seguran\\xe7a hoje em dia, um ch\\xe3o, um teto. Que \\xe9 o sonho de todo mundo, ter uma casa. Esse cen\\xe1rio era muito impens\\xe1vel\\u201d, diz Ana Flavia Cavalcanti. A atriz nascida em Diadema, na Grande S\\xe3o Paulo, construiu sua carreira no teatro, ganhando destaque com a pe\\xe7a \\u201cA bab\\xe1 quer passear\\u201d, onde reflete sobre quest\\xf5es estruturais e de ra\\xe7a no Brasil.\\xa0\\u201cAcho que muitos dos nossos problemas estruturais, e do racismo, est\\xe3o relacionados ao trabalho dom\\xe9stico. Tudo bem voc\\xea contratar uma bab\\xe1, ter uma faxineira, mas como essa pessoa est\\xe1 vivendo? Quais s\\xe3o as condi\\xe7\\xf5es de trabalho que voc\\xea vai oferecer? E os filhos dessa pessoa? Tamb\\xe9m fazem nata\\xe7\\xe3o? Deu para ela financiar um carro? Acho que todo mundo merece e quer uma vida melhor para si e sua fam\\xedlia\\u201d, diz ela.\\nNos \\xfaltimos anos, passou a estrelar grandes produ\\xe7\\xf5es na TV, como a novela \\u201cAmor de M\\xe3e\\u201d, e fez parte do\\xa0elenco de s\\xe9ries aclamad\\xedssimas como \\u201cSob Press\\xe3o\\u201d, \\u201cOnde Est\\xe1 Meu Cora\\xe7\\xe3o\\u201d. Hoje, ela d\\xe1 vida \\xe0 personagem Sandra, uma vizinha que se d\\xe1 bem com todos os moradores, na s\\xe9rie "Os Outros", sucesso de audi\\xeancia no Globoplay.\\xa0A atriz \\xe9 respons\\xe1vel tamb\\xe9m por uma s\\xe9rie de interven\\xe7\\xf5es art\\xedsticas que refletem sobre a sua inf\\xe2ncia pobre nas periferias das cidades de Diadema e Atibaia.\\xa0\\nNo papo com o Trip FM, Ana conta um pouquinho de tudo isso, fala de sua m\\xe3e, uma empregada dom\\xe9stica aposentada, de beleza, dinheiro, sexualidade, televis\\xe3o e muito mais. A conversa fica dispon\\xedvel no play aqui em cima e no Spotify.\\n[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2023/07/64a8918e28661/ana-flavia-cavalcanti-atriz-os-outros-globoplay-mh.jpg; CREDITS=Jorge Bispo; LEGEND= Ana Fl\\xe1via Cavalcanti, uma das atrizes brasileiras que mais tem elevado o n\\xedvel do audiovisual no pa\\xeds; ALT_TEXT= Ana Fl\\xe1via Cavalcanti]\\nTrip. Voc\\xea d\\xe1 vida \\xe0 personagem Sandra na s\\xe9rie "Os Outros", que est\\xe1 fazendo muito sucesso no Globoplay. Como foi sua experi\\xeancia nesta obra?\\nAna Flavia Cavalcanti. Em "Os Outros", voc\\xea pensa: n\\xe3o d\\xe1 para ficar pior. S\\xf3 que d\\xe1. Essa s\\xe9rie \\xe9 um retrato disso e da incomunicabilidade que tomou o Brasil nos \\xfaltimos anos. E eu n\\xe3o quero falar aqui de um ou outro governo. Estou falando de quanto, como sociedade, a gente se distanciou, se perdeu. Brigou com a fam\\xedlia, rompeu com o pai, com a m\\xe3e\\u2026. Imagina com o vizinho. Uma incapacidade geral de di\\xe1logo. Acho que a gente tem um trabalho longo pela frente. E se voc\\xea parar para analisar, os motivos das brigas s\\xe3o muito pequenos, mas eles est\\xe3o enraizados. Na s\\xe9rie, tudo come\\xe7a com a briga das crian\\xe7as, dos filhos. E a gente sabe que \\xe9 muito dif\\xedcil ser adolescente nas escolas. E o bullying est\\xe1 diretamente relacionado com as personalidades que est\\xe3o fora da curva, que est\\xe3o fazendo o caminho inverso do pelot\\xe3o. Ent\\xe3o se voc\\xea tem um cabelo liso meio pro lado \\xe9 considerado um menine e tratado de um jeito diferente. Se voc\\xea \\xe9 gorda, se voc\\xea \\xe9 gay, se voc\\xea \\xe9 preto, \'ah, n\\xe3o senta aqui com a gente\'. Os jovens est\\xe3o assistindo muito essa s\\xe9rie e isso tem a ver com esse sucesso estrondoso.\\nNos espet\\xe1culos "Servi\\xe7al" e "A bab\\xe1 quer passear", que falam sobre ra\\xe7a e quest\\xf5es estruturais, voc\\xea joga luz e busca trazer a conversa sobre a condi\\xe7\\xe3o das trabalhadoras dom\\xe9sticas no Brasil. Como voc\\xea enxerga essa situa\\xe7\\xe3o no pa\\xeds?\\xa0"Servi\\xe7al" \\xe9 um trabalho que eu trago para trazer a luz e a conversa sobre a condi\\xe7\\xe3o das trabalhadoras dom\\xe9sticas no Brasil. As pessoas me perguntam n\\xe3o pode ter mais empregada dom\\xe9stica? N\\xe3o pode ter mais bab\\xe1? Acho que muitos dos nossos problemas estruturais, e do racismo, est\\xe3o relacionados ao trabalho dom\\xe9stico. Tudo bem voc\\xea contratar uma bab\\xe1, ter uma faxineira, mas como essa pessoa est\\xe1 vivendo? Quais s\\xe3o as condi\\xe7\\xf5es de trabalho que voc\\xea vai oferecer? E os filhos dessa pessoa? Tamb\\xe9m fazem nata\\xe7\\xe3o? Deu para ela financiar um carro? Acho que todo mundo merece e quer uma vida melhor para si e sua fam\\xedlia.\\nVoc\\xea fala do orgulho e da satisfa\\xe7\\xe3o de ter constru\\xeddo uma casa, de estar fazendo coisas que antes n\\xe3o tinha condi\\xe7\\xf5es. Nesse momento, voc\\xea \\xe9 protagonista de um movimento de mudan\\xe7a nas artes c\\xeanicas. Ao mesmo tempo em que agora existem produ\\xe7\\xf5es para o streaming, independentes, a estabilidade que os atores tinham na Globo acabou. Como \\xe9 ser atriz diante desse descolamento de placas tect\\xf4nicas do tablado das artes c\\xeanicas? Essa pergunta \\xe9 muito interessante porque ela \\xe9 bem controversa. Em rela\\xe7\\xe3o \\xe0 minha sa\\xedda de vida, eu estou milion\\xe1ria. Eu t\\xf4 vivendo no sul da Bahia, apenas. E constru\\xed o meu pal\\xe1cio com o dinheiro do meu trabalho como artista no Brasil, mulher negra. Ent\\xe3o quando eu junto tudo isso, sim, tenho uma seguran\\xe7a hoje em dia, um ch\\xe3o, um teto. Que \\xe9 o sonho de todo mundo, ter uma casa. Aqui eu t\\xf4 segura. Em rela\\xe7\\xe3o ao mundo, ao mundo do trabalho, das artes, n\\xe3o d\\xe1 para ter seguran\\xe7a no Brasil. Os \\xfaltimos seis anos foram muito perigosos, tenebrosos.'