Aniversario de Fernando Pessoa

Published: Aug. 16, 2021, 8 a.m.

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Anivers\\xe1rio de Alvaro de Campos - Poema declamado por Mell
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\\nNo tempo em que festejavam o dia dos meus anos,

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Eu era feliz e ningu\\xe9m estava morto.

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Na casa antiga, at\\xe9 eu fazer anos era uma tradi\\xe7\\xe3o de h\\xe1 s\\xe9culos,

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E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religi\\xe3o qualquer.

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No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,

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Eu tinha a grande sa\\xfade de n\\xe3o perceber coisa nenhuma,

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De ser inteligente para entre a fam\\xedlia,

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E de n\\xe3o ter as esperan\\xe7as que os outros tinham por mim.

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Quando vim a ter esperan\\xe7as, j\\xe1 n\\xe3o sabia ter esperan\\xe7as.

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Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

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Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,

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O que fui de cora\\xe7\\xe3o e parentesco.

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O que fui de ser\\xf5es de meia-prov\\xedncia,

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O que fui de amarem-me e eu ser menino,

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O que fui \\u2014 ai, meu Deus!, o que s\\xf3 hoje sei que fui\\u2026

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A que dist\\xe2ncia!\\u2026

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(Nem o acho\\u2026)

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O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

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O que eu sou hoje \\xe9 como a umidade no corredor do fim da casa,

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Pondo grelado nas paredes\\u2026

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O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme atrav\\xe9s das minhas

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l\\xe1grimas),

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O que eu sou hoje \\xe9 terem vendido a casa,

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\\xc9 terem morrido todos,

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\\xc9 estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um f\\xf3sforo frio\\u2026

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No tempo em que festejavam o dia dos meus anos\\u2026

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Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!

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Desejo f\\xedsico da alma de se encontrar ali outra vez,

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Por uma viagem metaf\\xedsica e carnal,

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Com uma dualidade de eu para mim\\u2026

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Comer o passado como p\\xe3o de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

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