A avenida das lagrimas de Olavo Bilac

Published: July 19, 2021, 8 a.m.

b'

A avenida das l\\xe1grimas de Olavo Bilac
\\n
\\nQuando a primeira vez a harmonia secreta

\\n

De uma lira acordou, gemendo, a terra inteira,

\\n

Dentro do cora\\xe7\\xe3o do primeiro poeta
\\nDesabrochou a flor da l\\xe1grima primeira.
\\nE o poeta sentiu os olhos rasos de \\xe1gua;
\\nSubiu-lhe \\xe0 boca, ansioso, o primeiro queixume:
\\nTinha nascido a flor da Paix\\xe3o e da M\\xe1goa,
\\nQue possui, como a rosa, espinhos e perfume.
\\nE na terra, por onde o sonhador passava,
\\nIa a roxa corola espalhando as sementes:
\\nDe modo que, a brilhar, pelo solo ficava
\\nUma vegeta\\xe7\\xe3o de l\\xe1grimas ardentes.
\\nFoi assim que se fez a Via Dolorosa,
\\nA avenida ensombrada e triste da Saudade,
\\nOnde se arrasta, \\xe0 noite, a prociss\\xe3o chorosa
\\nDos \\xf3rg\\xe3os do carinho e da felicidade.
\\nRecalcando no peito os gritos e os solu\\xe7os,
\\nTu conheceste bem essa longa avenida,
\\n

\\n

Tu que, chorando em v\\xe3o, te esfalfaste, de bru\\xe7os,
\\nPara, infeliz, galgar o Calv\\xe1rio da Vida.
\\nTeu p\\xe9 tamb\\xe9m deixou um sinal neste solo;
\\nTamb\\xe9m por este solo arrastaste o teu manto...
\\nE, \\xf3 Musa, a harpa infeliz que sustinhas ao colo,
\\nPassou para outras m\\xe3os, molhou-se de outro pranto.
\\nMas tua alma ficou, livre da desventura,
\\nDocemente sonhando, \\xe0s del\\xedcias da lua:
\\nEntre as flores, agora, uma outra flor fulgura,
\\nGuardando na corola uma lembran\\xe7a tua...
\\nO aroma dessa flor, que o teu mart\\xedrio encerra,
\\nSe imortalizar\\xe1, pelas almas disperso:
\\n

\\n

Porque purificou a torpeza da terra
\\nQuem deixou sobre a terra uma l\\xe1grima e um verso.
\\n
\\n
\\nPoesia declamada por Gus
\\n

'