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Na leitura de hoje, vimos que Tot\\xf3 n\\xe3o anda, mas enxerga, escuta e fala muito bem. S\\xf3 que Amaro e Am\\xe9lia, usando o quarto do pai dela pra se encontrar, n\\xe3o pensaram que a doente fosse contar para algu\\xe9m dos encontros secretos.

Am\\xe9lia est\\xe1 totalmente sob o dom\\xednio de Amaro. Ele n\\xe3o deixa que ela leia romances e poesias. Havia, na \\xe9poca em que O crime do padre Amaro foi escrito, que \\xe9 final do Romantismo e in\\xedcio do Realismo, a cren\\xe7a por parte de algumas pessoas que ler literatura deixava as mulheres enlouquecidas, estimulava ideias inadequadas nas mulheres. O que a gente sabe que... \\xe9 a mais pura verdade, n\\xe9? N\\xe3o s\\xf3 nas mulheres, todos que leem passam a interpretar e ler o mundo melhor. E a\\xed s\\xe3o tidos como subversivos, porque passam a questionar, a conseguir argumentar melhor, a organizar os pensamentos de forma a se expressar mais claramente. Tudo isso \\xe9 efeito da leitura e \\xe9 muito bom. Mas n\\xe3o \\xe9 visto com bons olhos por quem quer subjugar outras pessoas. \\xc9 por esse motivo que governos autorit\\xe1rios querem mudar a grade curricular de forma a diminuir a carga hor\\xe1ria de disciplinas que estimulam a criticidade, por interm\\xe9dio da leitura. Ent\\xe3o querem mais ensino profissionalizante, com disciplinas t\\xe9cnicas, e menos hor\\xe1rios de literatura, l\\xedngua portuguesa, filosofia, sociologia, artes. \\xc9 importante que a sociedade se posicione contra esse tipo de mudan\\xe7a, porque quem n\\xe3o desenvolve criticidade por meio dessas disciplinas, fica mais vulner\\xe1vel a ser explorado por empres\\xe1rios e por governos. E no s\\xe9culo XIX alguns homens tinham esse receio de que mulheres leitoras pudessem se revoltar contra sua condi\\xe7\\xe3o de servidoras dos homens.