Varíola dos macacos: "Não penso que esta doença possa vir a tornar-se endémica"

Published: Aug. 2, 2022, 2:45 p.m.

Em todo o mundo, são já mais de 20 mil os casos de infecção do vírus monkeypox, que causa a varíola dos macacos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a doença já está presente em pelo menos 78 países. A OMS classificou a doença como uma emergência de saúde pública de preocupação internacional no passado dia 23 de Julho. Nos últimos dias, foram registadas as quatro primeiras mortes relacionadas com este vírus fora do continente africano, local onde a doença é endémica. Há registo de dois óbitos em Espanha, um no Brasil e outro na Índia. Em entrevista à RFI, Miguel Prudêncio, investigador principal do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa, em Portugal, explicou qual é a estratégia de vacinação que está a ser utilizada contra este vírus.  "Não existe uma vacina específica para a varíola dos macacos. A varíola humana foi durante muitos anos uma doença perigosa e que foi possível erradicar graças à existência de vacinas eficazes", começou por recordar, explicando depois que estas mesmas vacinas também apresentam eficácia contra o vírus Monkeypox. "Estas vacinas e, em concreto, uma destas vacinas que era utilizada para prevenir a varíola humana tem também uma eficácia muito substancial na prevenção do Monkeypox, isto porque o vírus que causava a varíola humana e este vírus que causa a Monkeypox têm algumas semelhanças e, por isso, a vacina que era utilizada contra a varíola humana, tem também eficácia na protecção contra este vírus", explicou.  Neste momento, existe ainda um número limitado de vacinas disponíveis. A OMS aconselhou uma vacinação dirigida a determinados grupos que têm maior risco de vir a contrair a infecção. "Estamos a falar de prestadores de cuidados de saúde, de pessoas imunodeprimidas e dos contactos próximos de pessoas infectadas", salientou Miguel Prudêncio, que recordou que, regra geral, são administradas duas doses da vacina, com um intervalo de quatro semanas, entre a primeira e a segunda inoculação. A vacinação destes grupos permitirá, segundo o investigador, reduzir as cadeias de transmissão. A eficácia destas vacinas ronda os 80-85%, complementou ainda. Não penso que estejamos numa situação de endemia, tal como na Covid-19" O também especialista em vacinas defendeu que a doença não se tornará endémica. "Há o risco desta doença se transmitir a um conjunto cada vez mais alargado de pessoas, mas não penso que possa vir a tornar-se endémica, no sentido em que nós hoje entendemos, por exemplo, a Covid-19, isto é espalhada por toda a população". Miguel Prudêncio explicou depois os motivos: "O modo de transmissão do vírus da Covid-19 dá-se por via área" e é "difícil conter estas cadeias de transmissão" porque o vírus "se transmite muito facilmente de uma pessoa para outra". "No caso do Monkeypox, a forma de transmissão dá-se por contactos próximos com pessoas infectadas e com as lesões que estas pessoas apresentem. E, portanto, não penso que estejamos numa situação de endemia, tal como aquela de que falamos hoje sobre a Covid-19", acrescentou. O investigador salientou também que as cadeias de contágio do Monkeypox serão mais facilmente identificadas e controladas do que as cadeias da Covid-19 e defende que, como tal, existirão condições para conseguir conter a transmissão. A Organização Mundial da Saúde continua a fazer a monitorização da doença e tomará mais medidas, de acordo com a evolução do vírus.