Os balões de observação e as suas possíveis utilizações científicas ou militares

Published: Feb. 6, 2023, 7:16 p.m.

No passado fim-de-semana, os Estados Unidos abateram um balão chinês junto da sua costa leste, depois de dias de especulação sobre o que estaria por detrás da presença desse engenho no seu espaço aéreo. Este balão que segundo Pequim não era suposto ter-se deslocado para essa área, estaria a fazer recolha de informação meteorológica. Contudo Washington acredita que este era um balão "espião", tanto mais que o engenho sobrevoou zonas sensíveis, como instalações nucleares. À luz deste acontecimento, a RFI foi explorar as possíveis utilizações dos balões, nomeadamente em termos científicos. Estes engenhos são quotidianamente utilizados para recolher dados sobre meteorologia. Com dimensões muito variáveis, quanto mais volumosos forem, mais alto e mais longe conseguem chegar, como refere Jorge Neto, meteorologista do IPMA, Instituto Português do Mar e da Atmosfera. "O balão meteorológico é um balão que pesa cerca de 600 gramas, que é enchido com hélio ou com hidrogénio e que leva uma sonda meteorológica amarrada", começa por explicar o cientista referindo que "para medições da qualidade do ar, são usados balões com dois quilos. Quanto mais pesado é o balão, mais ar leva e mais para cima pode ir ainda". Ao indicar que estes engenhos podem atingir altitudes "entre os 30 e os 40 quilómetros", o meteorologista detalha que "para além de ter quatro sensores, eles têm uma antena rádio e uma antena GPS. A antena GPS é para dar a sua localização e a antena rádio é para transmitir os dados em tempo real". Para além de um uso científico, os balões também podem ter um uso militar. Aliás, a sua utilização para finalidades de espionagem não é de agora. A sua primeira utilização neste âmbito deu-se durante as guerras revolucionárias francesas contra o império germânico em 1794. Balões de espionagem foram igualmente utilizados durante a guerra civil americana entre 1861 e 1865. Mais recentemente, tanto durante a primeira como na segunda guerra mundial, foram utilizados balões de espionagem mais sofisticados de ambos os lados das trincheiras. Hoje em dia, apesar da existência dos satélites, a recolha de informações pelos balões de observação não se tornou uma actividade obsoleta. Segundo peritos militares citados pela comunicação social americana, estes engenhos não estão tão expostos quanto os satélites, são mais baratos e não são facilmente detectáveis pelos radares. Contudo, poucos elementos são fornecidos sobre os balões "espiões". Por exemplo, não se sabe ao certo se um balão de recolha de informação meteorológica pode ser utilizado para outras finalidades, como refere o Major General Carlos Branco, ligado ao Instituto Português de Relações Internacionais. "Nós temos versões diferentes, não sabemos qual é que é a verdadeira, se de facto este é apenas um balão de observação meteorológica ou se é um balão espião. Na verdade, pode ser ambas coisas. De qualquer forma, não é a primeira vez que surgem estes incidentes. Registaram-se quatro ou cinco incidentes desde a era Obama", começa por observar o militar que não deixa de expressar alguma surpresa com o facto de o balão chinês ter conseguido chegar até aos Estados Unidos. "Como é que um balão consegue penetrar no espaço de alta altitude, primeiro, do Canadá e, depois, dos Estados Unidos, sem ser objecto de identificação e de intercepção? Foi identificada a sua presença através de um piloto de um voo comercial, o que não deixa de ser algo extremamente singular", nota o perito. Outra pista de reflexão identificada pelo Major General Carlos Branco é o vazio legal existente no que toca à zona de alta altitude situado entre a zona por onde passam os aviões e o espaço exterior para onde se lançam satélites, uma zona que é regulamentada desde 1967. "Esse espaço de alta altitude é um espaço intermédio entre o espaço aéreo e o espaço exterior. Isto será uma zona que não está regulamentada e, portanto, não é inteiramente claro o exercício da soberania por parte do Estado nestas altitudes", menciona o militar que, ao referir-se à destruição do balão chinês, considera que "independentemente da legitimidade que os Estados Unidos tenham para a fazer (esta destruição), isto pode ser utilizado pela China nas áreas do sul do Mar da China para operações semelhantes de retaliação", num contexto de forte tensão entre Pequim e Washington.