Macau mantém "bolha" mais de dois anos após o início da pandemia de covid-19

Published: March 29, 2022, 5:05 p.m.

Numa altura em que o número de casos na China e na vizinha Hong Kong bateram recordes, Macau continua a ser "uma excepção" no panorama global da covid-19 mundo devido a uma política de covid zero que não permite a entrada de estrangeiros no território, como relatou à RFI Mário Évora, cardiologista no Centro Hospitalar Conde de São Januário, em Macau. "A situação está controlada, Macau continua a ser uma excepção, penso que é dos poucos sítios no Mundo em que podemos dizer que a infeção não chegou a entrar na comunidade. Os casos que temos foram importados,  não há transmissão, o que faz de Macau uma bolha, o que é uma raridade no que vemos no Mundo e mesmo aqui ao lado em Hong Kong e na China", garantiu o médico Mário Évora. Tal como na Europa, a covid-19 está a ter um grande ressurgimento na China e Hong Kong. Particularmente em Hong Kong, o território vive há cerca de um mês sob um forte dispositivo de medidas restritivas, incluindo a proibição de voos de e para este território que até a este fim de semana registava mais de 10 mil casos novos casos diários. Em Macau, desde o início da pandemia foram registados apenas 82 casos, com as restrições mais duras a perdurarem ainda neste território autónomo da China, incluindo a proibição de entrada a quem não é chinês ou residente em Macau. "As pessoas têm de vir com um teste negativo e estão testados à chegada. Mesmo que sejam casos negativos, do aeroporto vão directamente para um hotel onde ficam em isolamento 21 dias e a boa notícia é que vão diminuir os dias de isolamento para 14", explicou. Estas medidas previnem a covid-19, mas têm também efeitos para a economia de Macau muito dependente do turismo, já que antes da pandemia, entravam por ano neste território entre 20 a 25 milhões de turistas por ano. "Isto reflecte-se na economia, especialmente a economia de Macau que se baseia fundamentalmente no jogo, nos casinos, que têm tido uma queda abrupta de receitas desde que começou a pandemia. Podemos imaginar que os casinos possam suportar melhor isso que as pequenas empresas ou o comércio, montes de restaurantes já fecharam porque não têm clientes", relatou Mário Évora.  Sem covid, o médico cabo-verdianos diz que o que observa nos seus pacientes, especialmente nos que não são originalmente de Macau, casos de depressão devido às medidas que limitam as visitas aos estrangeiro e isolam os habitantes deste território. De forma a abrir Macau ao exterior e passar a uma política em que "se viva com o vírus", o médico disse à RFI que é preciso apostar na vacinação, algo que não teve muita adesão por parte da população nem em Macau e nem em Hong Kong. Segundo Mário Évora, este será mesmo o maior fator que levou ao surto em Hong Kong. "Na Europa e noutros locais já começou a haver uma abertura e uma forma diferente de viver com a pandemia, mas isso implica uma coisa muito importante que é a vacinação da população, isso é fundamental para se poder abrir. Infelizmente aqui, em relação a Macau e a Hong Kong, esse processo não foi imediato. Em Macau, a princípio, a adesão à vacinação começou por ser baixa, felizmente já atingirmos um patamar bastante seguro, o que não acontecia em Hong Kong e Hong Kong foi apanhado de surpresa com uma percentagem de vacinação bastante baixa e daí a mortalidade", afirmou o cardiologista.