Lecanemab: um medicamento histórico, mas que ainda não traz cura para a Alzheimer

Published: Dec. 20, 2022, 2:14 p.m.

O medicamento lecanemab conseguiu atenuar a doença de Alzheimer em 27% dos pacientes durante um ensaio clínico onde participaram cerca de 1.800 pessoas diagnosticadas com esta doença. É a primeira vez que um medicamento mostra este tipo de eficácia no combate às causas da origem da doença de Alzheimer, sendo um passo importante para os pacientes e para as famílias. Este medicamento, concebido pelas farmacêuticas Eisai e Biogen, combate a acumulação da proteína beta-amiloide em placas no cérebro, que muitos investigadores julgam ser a origem da doença, embora esta não seja uma origem consensual entre a comunidade científica. Até agora, com 27% dos pacientes que receberam este medicamento a mostrarem um declínio menos acentuado das funções cognitivas do que os pacientes que receberam o placebo, o lecanemab é o fármaco mais eficaz no combate contra a Alzheimer jamais testados. Segundo as conclusões dos investigadores que levaram a cabo este ensaio clínico, o "lecanemab proporcionará aos pacientes mais tempo para participar da vida diária e viver de forma independente", tal como descreveram num artigo publicado no New England Journal of Medicine em Novembro. Ana Luísa Cardoso, investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Cerebral da Universidade de Coimbra que leva a cabo o seu próprio estudo sobre uma cura para a doença de Alzheimer, considera os resultados deste medicamento históricos, mas avisa que não se trata ainda de uma cura. "Embora não sejam resultados extraordinários, são históricos no sentido em que, até hoje, não tem sido possível em nenhum medicamento que já tenha chegado a ensaios clínicos ter um efeito claramente benéfico e embora este resultado não seja um resultado de cura, é a primeira vez que se está a conseguir intervir de facto na doença, através dos mecanismos descritos para a própria doença", explicou a investigadora. Até agora, os medicamentos prescritos para a Alzheimer não focavam os "mecanismos principais da doença" e servem para "tentar atenuar a sintomatologia", sublinhou Ana Luísa Cardoso, mostrando assim a importância dos resultados do lecanemab. O próximo passo para este fármaco será um estudo ainda mais alargado, com os doentes e as famílias nos Estados Unidos da América a defenderem o rápido desenvolvimento deste medicamento.