Ciência - Guiné-Bissau: mais de 2000 abutres envenados para rituais de feitiçaria

Published: Dec. 8, 2020, 5:51 p.m.

Na Guiné-Bissau, foram encontrados os cadáveres de mais de 2.000 abutres de capuz, grande parte decapitados, depois de envenenados com o insecticida letal metiocarbe, proíbido na Europa.  O biólogo luso-guineense Mohamed Henriques, doutorando no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, publicou em outubro na revista Science, o primeiro artigo, revelando as causas da morte destes abutres, o que a nível mundial representa o desaparecimento de mais de 1% desta espécie em extinção.    Desde fevereiro foram descobertos nas regiões de Bafatá e Gabu, no leste da Guiné-Bissau, mais de 2.000 cadáveres de abutres de capuz ou necrosytes monachus, grande parte deles decapitados, nas regiões de Bafatá e Gabu e as autoridades desde logo reagiram para tentar determinar a causa das mortes.  Esta é uma das sete espécies de abutres em perigo de extinção, que constam da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza e a Guiné-Bissau possui um quinto da população mundial desta espécie e representa um dos países mais importantes para a conservação da espécie a nível mundial, sendo que o números de aves mortas corresponde ao desaparecimento de mais de 1% da população mundial de abutres de capuz. O investigador luso-guineense Mohamed Faza Henriques Baldé, doutorando no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, publicou em outubro passado na revista científica norte-americana Science, o primeiro artigo provando a morte por envenenamento dos abutres, após análises efectuadas na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa.  As análises de toxicologia demonstraram inequivocamente que a causa de morte foi o envenenamento por metiocarbe, um insecticida letal vendido sob o nome comercial de Mesurol, que é, entre outros, frequentemente aplicado como controle de lesmas e caracóis e que foi recentemente proíbido na Europa devido à sua toxicidade para a vida selvagem Mohamed Henriques e os seus colegas co-autores do artigo publicado na revista Science, alertam que este veneno é responsável pela morte de 30% dos abutres no continente africano e que só na África Ocidental desapareceram entre 60 a 70%de populações de várias espécies nos últimos 30 anos. Cabeças, patas e unhas de abutres são frequentemente uitilizadas em vários países, sobretudo na África Ocidental, para rituais baseados em crenças supersticiosas, segundo as quais estas partes do corpo das aves trazem boas fortunas ou mesmo poderes especiais e muitos dos abutres encontrados na Guiné-Bissau já não tinham cabeça, como refere Mohamed Henriques. Os abutres têm uma função essencial para os humanos e o eco-sistema, pois eliminam grande parte do lixo orgânico, evitando a proliferação de doenças, que ameaçam a saúde pública, pelo que destaca Mohamed Henriques é essencial realizar campanhas para sensibilizar as populações à protecção das espécies.